Taberna da Rua das Flores: “Estamos em modo de sobrevivência”

A funcionar por turnos e com reservas, a Taberna vai manter o take-away, com menu executivo ao almoço.

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André Magalhães à porta da Taberna Daniel Rocha

Meia barrica a travar a porta, frasco de álcool gel em cima, “taberneiros” a sorrir por trás das máscaras, cumprimentando com o cotovelo os clientes que quiseram marcar presença neste dia de reabertura dos restaurantes após o encerramento forçado pela pandemia – foi assim que a Taberna da Rua das Flores, pequeno espaço próximo do Largo Camões, em Lisboa, ensaiou o seu regresso à normalidade possível.

A preocupação principal é mostrar que se estão a cumprir todas as regras de higiene para evitar o contágio da covid-19 mas, ao mesmo tempo, tentar que isso não seja demasiado visível. O fundamental é manter o espírito habitual e fazer com que os clientes comam descontraídos.

Mas há mudanças: o restaurante passa a recomendar que se faça reserva (embora também aceite passantes), algo que não existia até agora. É, explica André Magalhães, um dos sócios, uma forma de evitar as filas que se formavam à porta daquele que se tornou um dos locais de referência para os estrangeiros que visitavam Lisboa.

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Funcionários sempre de máscara, clientes podem tirá-la quando estão à mesa Daniel Rocha

Para já, neste primeiro dia, não só não há filas como há poucos clientes: para o primeiro turno, do meio-dia, não houve reservas, mas no segundo a sala esteve composta – tanto quanto é possível num espaço que, com as novas regras de distanciamento, passou a ter uma capacidade máxima de 14 pessoas. “Estamos em modo de sobrevivência”, diz André.

Há quatro turnos ao almoço (12h, 13h, 14h e 15h) e três ao jantar (18h30, 20h, 21h30). Quando fizemos a nossa reserva recebemos uma mensagem lembrando a necessidade de usar máscara “para circulação dentro do espaço, não necessitando de a usar quando está na sua mesa” e informando que “os funcionários estarão a trabalhar de máscara e solicitarão que os clientes higienizem as mãos à chegada”.

A Taberna nunca fechou, não despediu ninguém (são, no total, 16 pessoas, que passaram a receber o ordenado mínimo, incluindo os sócios) e não recorreu ao lay-off. Optou pelo take-away, que continuará a ter, com menu executivo (entrada e prato, ou prato e sobremesa, 10€) para entrega na zona, e colocou dois funcionários a fazer entregas, para ter um serviço próprio, embora mantendo a UberEats.

O que os “taberneiros” esperam agora é que o Governo, verificando que as regras estão a ser cumpridas por restaurantes e clientes, comece a flexibilizar o número de lugares. “A grande maioria dos restaurantes não é viável a funcionar só com 50% da capacidade”, alerta André Magalhães.

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Cumprimentos, só com o cotovelo Daniel Rocha

Fala da hipótese, a ser negociada com a Alemanha, de “corredores seguros” para permitir o regresso dos turistas, mas, mesmo com essa “benesse que poderia ajudar a salvar a situação nesta época de Verão”, defende a necessidade de medidas mais concretas, sobretudo a descida do IVA e empréstimos bancários facilitados (as aprovações estão a acontecer a um ritmo muitíssimo lento, diz) e a flexibilização dos pagamentos à Segurança Social. “Não estamos a pedir borlas ao Estado, mas pedimos que nos facilite a vida nos encargos fixos.”

Para já, apostam em muita comunicação – há uma ardósia à porta a anunciar “Estamos abertos” e redes sociais activas – e em manter a simpatia, a boa música e a boa comida. Tirada a máscara, as iscas com batata, a raia alhada, o vinho branco e a queijada de sobremesa souberam à boa e velha Taberna dos tempos pré-pandemia.

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