A grande confusão do banco bom

Então o Novo Banco não pode distribuir dividendos enquanto não pagar ao Fundo de Resolução, mas pode atribuir prémios de desempenho aos seus gestores? Sei que são coisas diferentes, mas onde está o desempenho? Até pode ser legal, mas será moral?

Em agosto de 2014, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, anunciou qual seria a melhor solução para o problema do BES. De acordo com Carlos Costa, os ativos problemáticos do BES ficariam no próprio banco (banco mau) e os ativos não problemáticos transitariam para o Novo Banco (banco bom). Uma capitalização de 4900 milhões de euros permitiu cumprir o rácio de capital.

Mas desde 2014 o Novo Banco (banco bom) acumula prejuízos, que ascendem a mais de 6100 milhões de euros, ou seja, o equivalente ao PIB anual de um pequeno país. Aos portugueses em geral e aos contribuintes em particular não é dada qualquer explicação sobre a verdadeira origem destes prejuízos, contudo é sobre nós todos que recai esta trapalhada toda.

Mas afinal a que se deve tamanha façanha? Donde advenham tamanhos prejuízos deve ser corretamente e claramente explicado. Têm origem na altura da resolução do BES, que foi feita de uma forma trapalhona e atabalhoada, ou devem-se à gestão corrente do Novo Banco? Quem e que empresas estão a gerar estas imparidades todas, que os portugueses são chamados a pagar, ou seja, quem são estes monstruosos caloteiros e quem aprovou esses créditos? O Novo Banco já devolveu alguma verba ao Fundo de Resolução? Se sim, quanto? Qual o calendário para a devolução do restante? Qual o montante que a República Portuguesa e os contribuintes irão perder na realidade, fruto, no mínimo, de incompetências? Nada é explicado.

Mais uma dúvida: porque não existe ninguém condenado por este e outros saques de milhares de milhões de euros aos portugueses? Tantas perguntas e dúvidas convenientemente sem resposta.

Agora veio a público mais uma trapalhada. Os oito gestores do Novo Banco têm direito a receber dois milhões de euros como prémio do seu desempenho. Ninguém consegue perceber nada. Numa altura em que muitos portugueses lutam por conseguir trazer alimentos para suas casas, que perderam uma parcela importante dos seus rendimentos, ou mesmo a sua totalidade, que ficaram desempregados, que as filas para a distribuição de alimentos na Cáritas, no Banco Alimentar e em outras instituições aumentam de dia para dia, estes majestosos gestores vão receber dois milhões de euros de prémios. Não são salários, são prémios devidos pelo seu elevado desempenho (elevado, penso eu). Então o Novo Banco não pode distribuir dividendos enquanto não pagar ao Fundo de Resolução, mas pode atribuir prémios de desempenho aos seus gestores? Sei que são coisas diferentes, mas onde está o desempenho? Até pode ser legal, mas será moral?

Alguém consegue explicar aos portugueses o que realmente se passa? Estamos todos fartos de ouvirmos falar do Novo Banco e sempre pelos piores motivos. O tal banco que é bom.

Os portugueses merecem que tudo seja devidamente explicado e que nos digam de uma vez por todas quem são os verdadeiros culpados desta situação toda. Será que podemos dizer que o culpado do que se passou depois de 2014 ainda é Ricardo Salgado?

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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