A “nova” Bundesliga: treinadores de máscara, apanha-bolas mais velhos e um limite de 322 pessoas

O campeonato alemão será reatado no sábado, às 14h30, preparando-se para ser o primeiro a dar o exemplo em tempo de retoma das competições.

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LUSA/FRIEDEMANN VOGEL

Os jogadores deixaram os quartos do Hotel L’Arrivée, sete quilómetros a sul do centro de Dortmund, e dirigiram-se aos autocarros. Dois autocarros e uma carrinha, no caso, para garantir o distanciamento que se impõe em dias de covid-19. Os motoristas arrancaram em direcção ao Signal Iduna Park e a entrada no estádio foi feita pela porta habitual para a equipa da casa, do lado da rua Strobelallee. O guião a seguir pelo plantel do Borussia no próximo sábado, quando receber o Schalke 04 no reatamento da Bundesliga, foi ensaiado na quarta-feira. Uma espécie de simulacro para preparar um “novo” futebol para o qual ninguém estava preparado.

Será o primeiro jogo de uma grande Liga europeia depois da abrupta paragem da modalidade, em Março. E a intenção de realizar um treino em pleno estádio, cumprindo o ritual que é exclusivo dos jogos, visa reduzir os níveis de estranheza que os jogadores vão sentir quando a bola começar a rolar perante bancadas vazias – um cenário especialmente desolador para o clube que apresenta a mais elevada taxa de ocupação do estádio na Alemanha.

Este foi um treino com direito a delegados, speaker, director de operações e director desportivo. Com direito a música antes da sessão e durante e entrada dos jogadores no relvado. Uma simulação tão perfeita quanto possível do que acontecerá no encontro de sábado, que visa provar também que o plano de retoma não será posto em causa por casos isolados de contágios, como aconteceu com o Dínamo Dresden, da II Liga.

Os responsáveis da Liga (DFL) e da federação alemãs pedem disciplina máxima aos agentes desportivos para garantir um recomeço sem entropias. No fundo, pedem-lhes que cumpram escrupulosamente as normas sanitárias aprovadas e que estipulam, por exemplo, que os departamentos médicos dos clubes submetam um formulário até às 10h30 do dia de jogo a atestar que todos os elementos escalados estão livres de infecção. A ausência deste passo significa o cancelamento da partida.

Sem espectadores nas bancadas e com um limite máximo de 322 pessoas dentro do recinto para a realização do encontro, entre jogadores, staff técnico, equipa de arbitragem, delegados e demais agentes, há um conjunto de instruções que devem ser seguidas. A saber: os jogadores não podem entrar juntos (há um distanciamento de 1,5m a cumprir), não podem apertar as mãos, não podem abraçar-se (nos festejos dos golos, sugere-se um leve contacto de cotovelo ou com o pé) e não devem cuspir.

Adicionalmente, os suplentes e a equipa técnica que irão ocupar o banco terão de manter distâncias e usar máscara. Esta prerrogativa estende-se ao treinador, que só pode levantar ligeiramente a protecção facial para dar instruções aos jogadores, a partir da linha lateral - e desde que não tenha nenhum outro agente a menos de 1,5m.  

Quem também está obrigado a usar máscara são os apanha-bolas, cujo limite mínimo de idade subiu nestas circunstâncias: é agora de 16 anos. Para além de recolherem as bolas que saem do terreno de jogo, passarão a preocupar-se em desinfectar continuamente as mãos e a bola. De resto, por todo o estádio estarão disponíveis dispositivos com desinfectante.

Outras normas a cumprir

  • Os jogadores titulares equipam-se primeiro, devendo manter uma distância de segurança entre eles - só depois será a vez dos suplentes.
  • A equipa de arbitragem deve viajar para o estádio no próprio dia do jogo, em vez de pernoitar nas redondezas.
  • Será permitido um máximo de quatro apanha-bolas por jogo, sendo que todas as bolas serão desinfectadas regularmente.
  • Se os bancos de suplentes não forem suficientemente amplos para permitirem distanciamento entre os jogadores, poderão ser usados lugares nas bancadas.
  • Se os jogadores se aproximarem demasiado do árbitro, serão inicialmente avisados para manterem a distância. Se reincidrem, serão punidos disciplinarmente.

A expectativa dos representantes da DFL, dos clubes e da federação é que o impacto provocado pela covid-19 comece aos poucos a ser compensado. E o facto de a Bundesliga ser o primeiro grande campeonato a arrancar eleva as previsões de audiências televisivas, tendo inclusivé Karl-Heinz Rummenigge, presidente do Bayern Munique, apontado para uma projecção de mil milhões de telespectadores neste período.

Uma estimativa francamente optimista, é certo, que traz responsabilidade acrescida a uma modalidade que, num certo sentido, parece gozar de um regime de excepção face a muitos outros desportos. “A forma como a opinião pública olha para o futebol, as equipas e os jogadores torna-se mais importante do que nunca. Apelamos a um comportamento exemplar no que toca a higiene e medidas de distanciamento fora do terreno de jogo”, pode ler-se no plano de retoma.

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