Religião

A fé em tempos de covid-19: "Ela manifesta-se ainda mais nestas alturas"

Eucaristias celebradas em directo através do Facebook, videoconferências para rezar o terço em comunidade, peregrinações com o coração. Um pouco por todo o país, a comunidade católica adaptou-se à sociedade criada pelo novo coronavírus. 

A covid-19 fez suspender as missas, catequeses e outras celebrações de culto a 13 de Março. Depois de uma Páscoa inédita, a cujas celebrações os fiéis assistiram de casa, o Santuário de Fátima celebra os dias 12 e 13 de Maio sem peregrinos nos seus espaços, pela primeira vez na sua história. "Estes tempos foram e têm sido muito estranhos", diz ao PÚBLICO Luís Ribeiro, acólito na paróquia de Nossa Senhora da Fé, em Monte Abraão, Sintra. 

Um pouco por todo o país, a comunidade católica adaptou-se: Eucaristias celebradas em directo através do Facebook, videoconferências para rezar o terço em comunidade, partilhas de cantinhos de oração nas redes sociais. "Ao fim e ao cabo, perante esta distância, acabámos por estar sempre muito próximos", conclui Luís.

Lucília Mateus, da paróquia de Olivais Sul, em Lisboa, concorda. Com 79 anos, é presença assídua todas as noites na página de Facebook da sua paróquia. "Todas as noites nos reunimos para rezar o terço. E pomos os nossos gostos, sabemos que 'aquela' está ali, vai um gostozinho, um comentário. É bom", explica, sorridente. 

"Não se vive da mesma maneira, mas temos de nos adaptar", diz-nos Sandra Santos, da paróquia de Loures. Não fosse este novo coronavírus e, às seis da manhã de dia 9 de Maio, Sandra teria arrancado para Fátima. Em vez disso, recebeu uma mensagem pelo Whatsapp. "Ainda falta aqui gente. A Vitória já quer começar a pôr o grupo a andar! Vejam lá... Despachem-se!'". E estava dado o mote. A partir daí, a peregrinação seguiu virtualmente. "Olha, já me dói os pés! Já fiz uma bolha! Alguém que me venha ajudar?". "Não foi nada combinado, mas é uma maneira de nós conseguirmos viver esta peregrinação juntos, cada um em sua casa, e rezarmos juntos".

Sandra tem acompanhado o plano do Santuário de Fátima, que disponibilizou leituras para os peregrinos poderem "peregrinar pelo coração", e por agora basta-lhe. "Temos de ter todos consciência de que neste momento é aquilo que é possível fazer. Hei-de ir quando for possível. Este ano, para o ano... Quando as condições sanitárias o permitirem".