Expansão da linha vermelha em Lisboa: “A única coisa má desta notícia é que vai demorar para aí dez anos”

Autarcas das freguesias beneficiadas pela expansão da linha vermelha do metro de Lisboa saúdam compromisso do Governo e dizem que obra será essencial para retirar carros da cidade. No entanto, para o autarca da Estrela, este não é “um período para megalomanias”, mas sim para “acudir às empresas e às pessoas” face à crise provocada pela pandemia.

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Ricardo Lopes/Arquivo

Fazer chegar o metro a Campolide é uma promessa adiada há pelo menos 30 anos, por isso o presidente da junta, André Couto, vê com “agrado” que a ligação de São Sebastião até Campolide, seguindo depois para Campo de Ourique e Alcântara, esteja na lista de prioridades do Governo, logo a seguir à construção da tão contestada linha circular.

O ministro do Ambiente assumiu esta terça-feira no Parlamento que o Governo estará pronto para lançar a expansão da linha vermelha em Outubro ou Novembro, se houver financiamento. Porque esta é, “de todas as linhas que constam do plano de expansão do Metro Lisboa, aquela que tem estudos mais avançados”, notou Matos Fernandes, repetindo que tal só será possível caso venha a existir “um pacote financeiro da União Europeia para estimular a economia”, no âmbito do combate à crise financeira causada pela covid-19.

André Couto (PS) lembra que a população de Campolide está “envelhecida”, e que por isso este meio de transporte facilitará a sua mobilidade pela cidade. Por outro lado, frisa o autarca, a freguesia é “muito massacrada” pela entrada e saída de automóveis da cidade. A expansão da linha vermelha permitirá, assim, a opção pelo transporte público, o que trará desde logo benefícios ambientais, diz André Couto. O autarca fica agora com a expectativa de que a crise económica, provocada pela pandemia da covid-19, não venha adiar estes planos.

Em Alcântara, o compromisso do Governo também é visto com agrado, desde logo porque vem dotar a parte ocidental da cidade de uma infra-estrutura de transporte pesado que é há muito reivindicada. No entanto, apesar de ficar “satisfeito” com a intenção do Governo, o presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, Davide Amado (PS), prevê que o metro só chegue à sua freguesia no horizonte de uma década.

“A única coisa má desta notícia é que vai demorar dez anos. Mas estamos muito satisfeitos e que passe à prática, que se lancem os concursos, quer para a obra da expansão da linha vermelha, quer para o metro ligeiro de superfície”, diz o autarca. Que lembra aqui uma outra obra prevista que é a ligação, via metro ligeiro de superfície entre Sacavém e a Cruz Quebrada, ligando três concelhos junto ao rio. 

A diminuição do trânsito automóvel também é uma prioridade para este autarca. “Em Alcântara temos muito trânsito de atravessamento de quem vem de Oeiras e de Cascais. Com a criação do metro de superfície, isso fará com que quem venha [dessas zonas] possa fazer a ligação ao metro” e entrar na rede de transportes públicos da cidade. 

“Vejo outra mão cheia de nada”

Em Campo de Ourique, numa freguesia “altamente residencial”, a expansão também é vista como uma obra “essencial” para reduzir o uso do transporte individual, diz o presidente da junta, Pedro Cegonho (PS). No entanto, esta intenção de se avançar com a expansão da linha vermelha, assim haja financiamento, não é propriamente uma surpresa para o autarca, que refere que a obra esteve sempre dependente do próximo quadro comunitário. Com a pandemia, é preciso perceber quais serão as prioridades

“Acho bem que o Governo queira encaixar este programa de expansão da linha vermelha no plano de fomento que venha a existir e nas verbas que possam ser alocadas no âmbito da Coesão. Mas isso está em linha com o que já estava definido”, nota Pedro Cegonho. Que se diz ainda “optimista” quanto ao avanço da obra, pelo facto de as questões ambientais continuarem a ser prementes. 

“Acho que uma obra deste género tanto corresponde às prioridades da transição energética, como pode corresponder às necessidades de fomento, de relançamento da economia, de criação de emprego”, afirma. 

Na Estrela, Luís Newton (PSD) olha para as declarações do ministro com maior apreensão, dizendo mesmo que é “uma forma muito leviana de tratar matérias que são prioritárias” para a cidade. “Vejo isto com alguma preocupação porque o ministro diz que tem vontade de fazer isto, mas não tem dinheiro. Acho que há aqui alguma desorientação.”

O autarca lembra ainda que está por concretizar a linha circular, com a construção de mais duas estações, na Estrela e em Santos. Na semana passada, foi assinado o contrato de adjudicação da obra para a construção dos toscos entre o término da estação Rato e a estação Santos, por 48,6 milhões de euros. Decorre ainda o concurso para a segunda fase da empreitada, que ligará Santos ao Cais do Sodré.

Em 2021, deveria estar uma nova linha concluída, com duas novas estações. E seriam compradas 33 composições, por 50 milhões de euros. Vejo outra mão cheia de nada. Parece mais um anúncio quando precisaríamos de ter algo concreto”, critica Luís Newton. 

Para o autarca, a expansão para ocidente é também “fundamental” para retirar trânsito do interior da capital. No entanto, não acredita que a obra possa ser inscrita no próximo quadro de apoios comunitários, em face da crise provocada pela pandemia. “O que eu vejo inscrever no próximo quadro comunitário é apoio financeiro para resolver a fortíssima crise financeira em que o país vai estar mergulhado. Este não é um período para megalomanias, é um período para acudir às empresas e às pessoas. Eu preferia que esses 400 milhões fossem para revitalizar a economia”, defende. 

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