Centro europeu de doenças destaca “intervenção precoce” em Portugal

ECDC elogia acções de Portugal na prevenção contra o novo coronavírus. Além da rápida resposta, também aponta baixo número de casos importados como principal causa para um número inferior de caso.

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António Costa Reuters/RAFAEL MARCHANTE

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla inglesa) considera que o baixo número de doentes com covid-19 em Portugal, comparativamente a outros países, resulta da “intervenção precoce” das autoridades e da reduzida importação de casos do estrangeiro.

Numa altura em que o país já ultrapassou a barreira dos 27 mil casos e dos mil mortos, ainda assim muito abaixo do registado noutros países do espaço comunitário, o especialista principal do ECDC para resposta e operações de emergência, Sergio Brusin, afirmou em entrevista à agência Lusa que “Portugal e outros países na Europa têm um número inferior de casos”.

Uma das justificações é “a implementação atempada de medidas, que é algo que pode diminuir bastante a propagação”, destaca o perito, que é um dos mais experientes daquele organismo da União Europeia (UE), que ajuda os países a criar respostas para surtos de doenças.

“Isto foi algo que aconteceu em Portugal e noutros países da Europa por causa da intervenção bastante precoce”, reforça.

A outra justificação, de acordo com Sergio Brusin, “é que poderá ter havido menos introdução [de casos do] exterior, como aconteceu na Grécia, por exemplo”.

Os primeiros casos de covid-19 em Portugal (importados de Itália e Espanha) foram registados a 2 de Março, quando já outros países europeus tinham dezenas ou centenas de infectados.

E só precisamente um mês depois de ter sido registada a primeira morte na Europa (de um turista chinês em França), é que se verificou o primeiro óbito em Portugal, a 16 Março passado, um idoso de 80 anos com outras patologias.

Mas foi ainda antes da primeira morte que o Governo português começou a adoptar medidas de contenção do surto, começando logo com a suspensão de eventos com mais de cinco mil pessoas e dos voos para Itália, a 9 de Março.

Europa com resposta “proporcional ao conhecimento disponível”

Questionado pela Lusa se a Europa, no seu todo, demorou a agir, Sergio Brusin sublinha que “a resposta dada foi sempre razoável e proporcional ao conhecimento disponível”, visto que “havia muito pouca informação de início”.

“Pensávamos que a situação estava apenas confinada à China, a Wuhan” [...], mas agora começamos a ver que talvez tenhamos tido introdução [de casos] na Europa mais cedo do que pensávamos, como indicam os últimos relatórios de França, e na altura não sabíamos que o vírus já estava a circular na Europa”, assinala.

Além disso, de acordo com Sergio Brusin, “teria sido difícil impor este tipo de restrições e medidas” sem a informação que hoje existe.

“É muito fácil dizer que deveríamos ter sido mais rápidos, mas não creio que, em meados de Janeiro, a população tivesse aceitado ficar fechada nas suas casas, não circular, parar de trabalhar em fábricas e noutros locais, porque o surto nessa altura parecia confinado a Wuhan e a mais alguns locais na China”, adianta o especialista.

A Europa é a região mais afectada do mundo pela pandemia, tendo já ultrapassado as barreiras das 150 mil mortes em milhões de casos.

A 12 Março, o executivo de António Costa decretou o fecho de todos os estabelecimentos de ensino públicos e privados, medida com efeito a partir de 16 de Março. Também nessa altura começaram a ser encerrados outros espaços não essenciais, dada a declaração de estado de emergência em todo o país (em vigor desde a meia-noite do dia 19 de Março), que trouxe ainda restrições à circulação.

Depois dessa fase, Portugal entrou no dia 3 de Maio em situação de estado de calamidade devido à pandemia, após três períodos consecutivos em estado de emergência, estando agora em vigor medidas como o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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