Adolescentes consomem menos bebidas alcoólicas, menos tabaco e menos drogas ilícitas

Estudo nacional aponta para prevalências de consumo recente que sobem com a idade: nas bebidas alcoólicas oscilam entre 21% (13 anos) e 85% (18 anos), no tabaco entre 8% (13 anos) e 47% (18 anos) e nas drogas ilícitas entre 2% (13 anos) e 27% (18 anos).

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LUSA/RUNGROJ YONGRIT

É a confirmação de uma ideia anunciada: os adolescentes de Portugal estão a consumir menos bebidas alcoólicas, menos tabaco e menos drogas ilícitas. A tendência sobressai no Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco, Droga e outros Comportamentos Aditivos e Dependências – 2019, divulgado esta terça-feira à tarde pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), numa perspectivava comparada com 2015. É a primeira vez que se vê o consumo de cannabis descer nesta faixa etária. 

Há anos que Portugal faz este estudo, com base no European School Survey Project on Alcohol and other Drugs (ESPAD), a um ritmo quadrienal. A amostra tem subido. Desta vez, responderam 26.319 estudantes de 1550 turmas, de 734 escolas do ensino público situadas já não só em Portugal continental, mas também nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira. De forma anónima, em sala de aula. 

A iniciação continua a fazer-se bastante cedo, o que que aumenta o risco de dependência. Aos 13 anos, 37% dos adolescentes já tomaram pelo menos uma bebida alcoólica, 15% já fumaram pelo menos um cigarro de combustão, 7% já experimentaram cigarros electrónicos, 5% já apanharam uma bebedeira e 2% já provaram cannabis.

Com o avançar da idade, mesmo saindo da mera experimentação, todos valores sobem. O estudo dá conta de prevalências de consumo recente de bebidas alcoólicas que variam entre 21% (13 anos) e os 85% (18 anos). No tabaco, oscilam entre os 8% (13 anos) e os 47% (18 anos). Nas drogas ilícitas, ficam-se entre os 2% (13 anos) e os 27% (18 anos). Ao 18, tudo parece intensificado.

Dois terços dos adolescentes julgam fácil ou mesmo muito fácil ter acesso a cerveja. Metade expressa a mesma opinião sobre o tabaco. Esse desembaraço cai nas drogas ilícitas – fica-se pelos 22% quando se fala em cannabis, 10% quando o assunto é cocaína ou ecstasy, 6% metanfetaminas ou crack.

Mais fácil arranjar alcopops 

Nos últimos anos, procurando contrariar a cultura nacional, o legislador tratou de dificultar o acesso dos adolescentes às bebidas alcoólicas. A idade legal para as comprar fixou-se nos 16 anos em 2013 e subiu para os 18 anos em 2015. E, ao que dizem os estudantes, está ligeiramente menos facilitado o acesso a cerveja e vinho, não a bebidas destiladas e a alcopops, isto é, bebidas alcoólicas com sabor a frutas e outros aromas. Estas últimas até estão mais acessíveis.

Nota-se uma “ligeira descida” na experimentação de bebidas alcoólicas e uma “tendência de estabilização no consumo recente”, uma disposição que já se iniciara nas edições anteriores. Se, agora, 68% dizem já ter tomado uma bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida, em 2015 diziam-no 71% e em 2011 81%.

Os rapazes é que estão a protagonizar este recuo. As raparigas, pelo contrário, revelam um “ligeiro agravamento dos consumos”, “assistindo-se a um claro esbatimento das diferenças de género e a uma tendência de aproximação do consumo de álcool, incluindo padrões de uso nocivo”.

Olhando para o comportamento recente, conclui-se que mais de um terço dos adolescentes ingerem bebidas alcoólicas com alguma regularidade. Quase metade (40%) já apanhou uma bebedeira. Não obstante, “a ingestão de álcool numa base diária ou quase diária é pouco prevalecente”, quer no total de estudantes que responderam ao inquérito (2%), quer no de estudantes consumidores (5%).

Experimentação também com cigarros electrónicos 

Quanto ao tabaco, embora 49% dos adolescentes ainda digam que é fácil ou muito fácil arranjá-lo, verifica-se uma “descida relevante” dessa impressão. A idade legal para o comprar tabaco fixou-se nos 16 anos em 2005 e subiu para os 18 em 2007. Foi-se generalizado o sistema de bloqueio automático das máquinas. E proibiu-se fumar junto a escolas e parques infantis em 2016, meses depois da introdução de fotografias dissuasoras nos maços de tabaco.

Grande parte já experimentou tabaco (38%). A novidade está no facto de a prevalência de experimentação dos (novos) cigarros electrónicos (22%) já se aproximar do consumo do (velho) tabaco de combustão (29%). “Seja qual for a temporalidade considerada, a tendência é de descida, sendo que tal se deve a uma quebra no consumo de cigarros ditos tradicionais, dado que o consumo de cigarros electrónicos regista uma ligeira subida, mais acentuada entre o sexo masculino”, refere o relatório síntese. “Poucos” consomem tabaco numa base diária ou quase diária (4% cigarros tradicionais e 1% a cigarros electrónicos). 

Cannabis a descer, outras drogas ilícitas a subir

É nas substâncias proibidas que os adolescentes arriscam menos: “15% dos alunos já consumiram ao longo da vida uma qualquer droga ilícita, sendo que são um pouco menos os que o fizeram no último ano (13%) e bastante menos os que o fizeram no mês anterior (6%)”. 

Neste universo, os autores do relatório sublinham a tendência de descida na cannabis, porventura relacionada com a noção crescente de que não é inócua. O uso dessa substância subira entre 1995 e 2015, quer ao nível da experimentação (de 11% para 17%), quer ao nível do uso frequente (de 4% para 7%). No ano passado, 13% já a tinham experimentado e 6% tinham-na consumido no mês anterior.

Esta nota sobre a queda da cannabis, cuja potência tem vindo a aumentar a reboque de novas técnicas de produção, faz-se com uma grande ressalva: a tendência não se observa noutras drogas ilícitas. Aí a prevalência de consumo recente até é “ligeiramente superior, fazendo com que tenham alguma expressão ao nível da experimentação (5%) e do consumo recente (3%), não no do último mês (menos de um 1%)”.

Em suma, “os comportamentos de maior risco estão limitados a uma minoria” e são “mais esporádicos do que frequentes”. Todavia, “mesmo que de forma experimental, a generalidade dos alunos tem práticas que, pelo facto de serem menores, lhes estão vedadas e outras que são de todo ilícitas, o que não pode deixar de merecer reflexão”.

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