Já tenho uma lista para o novo “mundo normal”. Sou o único?

Quero dar os abraços que esta quarentena me tirou, quero ver e ouvir, sentir mais do que estas quatro paredes me deixam. Quero voltar à rotina simples de nos encontrarmos todos numa esplanada e de fazermos nada juntos.

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Patrick Perkins/Unsplash

Cresce-me o cabelo, a barba, e os pêlos no peito já tentam fugir pela gola da camisola, mas não vai ser aí que recomeço a minha nova vida normal.

Desliguei-me de notícias, números e estatísticas e foquei-me em algo mais importante: o regresso à alegria da “vida lá fora”. Comecei a escrever num post-it as coisas que quero fazer quando tudo voltar ao normal. Hoje, a lista já parece telefónica mas, em vez de apelidos, organizo por prioridades. Pensei “Se amanhã está tudo bem, o que faço eu”? As três primeiras foram tão rápidas que me atrapalhei a escrever.

Primeiro, a família e os amigos que fazem parte dela. Quero dar os abraços que esta quarentena me tirou, quero ver e ouvir, sentir mais do que estas quatro paredes me deixam. Quero voltar à rotina simples de nos encontrarmos todos numa esplanada e de fazermos nada juntos. Esses “nadas” que encheram tantas tardes e noites de bonitas memórias. Esplanadas e muitas jantaradas, com brindes à nova vida, brindes olhos nos olhos, para não dar ainda mais azar a esta boa vida.

É simples. Quero que o meu WhatsApp volte apenas para estas mensagens: “Vou sair agora. Desce. Estou a chegar. Já chegámos. Onde estás?” Quero que sejam apenas um meio para nos voltarmos a ver, e não o único meio em que nos vemos. Quero ir à casa de todos sem medo ou receio de dois beijinhos, um abraço ou um aperto de mão. Vou a casa dos que moram perto e longe, vou até casa dos que moram em Inglaterra, na Escócia ou na Suíça. Há países muito mais bonitos para viajar, mas os meus amigos são mais. O paraíso deixou de ser uma praia deserta para ser um sofá cheio de gente.

Em resumo, a primeira coisa que vou fazer é estar fisicamente com quem mais gosto. A segunda é levá-los todos para a rua comigo, sendo que o importante é eu também estar na rua a viver cultura ao vivo. Quero as emoções do teatro e as pipocas do cinema porque, mesmo olhando para um ecrã, estamos a rir, a chorar e a sentir com uma sala cheia de desconhecidos que têm uma única preocupação: desfrutar do momento.

Na verdade, as duas primeiras palavras do meu post-it são “amigos” e “concertos”, porque é da música que tanto sinto saudades, de tudo o que inclui estar a ouvir música ao vivo. Descobrir bares de jazz onde nunca entrei, parar para ouvir a música que a rua nos dá e, especialmente, estar nos grandes concertos e festivais, rodeado de desconhecidos e artistas que não conheço. Quero descobri-los a todos e ter uma overdose de sons e imagens novas na minha cabeça. O desconhecido nunca me pareceu tão familiar.

A terceira e última palavra diz bodyboard. Gosto muito de praia, adoro o mar. Quero e vou aprender, mas o que realmente quero é deixar-me de falsas promessas e resoluções falhadas. Lembram-se dos fretes e das coisas que fizemos sem grande vontade, enquanto adiámos por mais um mês aquilo com que realmente sonhamos? Pois bem, o meu sonho de hoje, e também o que mais me move, é apanhar ondas deitado numa prancha, com os olhos semicerrados e os cabelos cheios de sal.

E o teu, qual é?

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