BE reapresenta diploma para que injecções no Novo Banco tenham de ser aprovadas pelo Parlamento

Catarina Martins anunciou que irá insistir na proposta recentemente rejeitada. Escusando-se a comentar o hipotético afastamento de António Costa em relação a Mário Centeno, a líder do BE prefere apontar para a aproximação do PS ao PSD.

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Catarina Martins criticou que se tenha avançado para mais uma injecção sem consultar o Parlamento LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Em discordância com a injecção de 850 milhões de euros anunciada na semana passada para o Novo Banco, o Bloco de Esquerda (BE) voltará a propor que o financiamento destinado às instituições bancárias tenha de ser aprovado pela Assembleia da República.

Numa entrevista à TSF, na manhã desta segunda-feira, a coordenadora do BE, Catarina Martins, afirmou que está “preocupada” com a descoordenação no interior do Governo, apontou fragilidades na resposta à pandemia covid-19 e considerou que a Festa do Avante! não é apenas uma acção política mas também um festival de música, considerando prematuro definir em que moldes se irá realizar. E ainda que não deixe de estender a mão ao PS, a líder bloquista considera que António Costa tem estado “mais interessado em dialogar com a direita” e em particular com o PSD.

Para Catarina Martins é “preocupante” que o ministro das Finanças tenha dado luz verde a uma nova injecção para o Novo Banco sem a aprovação de António Costa. No entanto, a líder bloquista afirma que a sua maior preocupação não é tanto a aparente descoordenação do Governo, mas que o Estado avance para novas injecções no Novo Banco “sem saber o que lá se passa”.

“Não entendo como é a auditoria pode atrasar, mas o financiamento não”, declarou. Por isso, os bloquistas vão reapresentar uma iniciativa para que o Parlamento tenha de autorizar novas transferências do fundo de resolução. O diploma bloquista dará entrada na Assembleia da República ainda esta semana, depois de a mesma proposta ter sido chumbada no actual Orçamento do Estado.

Confrontada com uma possível deterioração da relação entre António Costa e Mário Centeno, Catarina Martins desviou o assunto e defendeu que os “os nomes que ocupam funções devem corresponder a um programa”, esquivando-se a discutir a continuidade do ministro das Finanças no cargo.

Já sobre a resposta do Governo à pandemia, Catarina Martins elogiou a resposta “humilde” de Portugal, que soube beneficiar das lições de países como Itália ou Espanha, que foram atingidos primeiro, destacando que “as próprias autoridades de saúde, portuguesas e mundiais ainda estão a aprender”, sendo inevitável por isso “assumir que não se sabe tudo”.

No entanto, não deixou de apontar fragilidades. Para a coordenadora do BE, o programa de estabilidade que tem vindo a ser anunciado pelo Governo é “desinteressante” e denuncia uma “falta de visão sobre como se reconstrói o país”. A par de uma resposta imediata “tem faltado uma estratégia para o dia seguinte”, considerou.

Em reacção às afirmações da ministra da Saúde sobre um futuro recurso ao sector privado, Catarina Martins relembrou que o Governo optou por não recorrer à requisição dos serviços de saúde privados durante o estado de emergência “deixando que o Serviço Nacional de Saúde ficasse todo paralisado, para agora passar um cheque mais gordo aos privados”.

A líder bloquista também deu nota negativa à não proibição dos despedimentos: “O que poupamos no apoio às empresas, perdemos em subsídios de desemprego, o que é péssimo para a economia porque são também menos trabalhadores a descontar para a Segurança Social”, disse. Catarina Martins reforçou também que é imprudente continuar a distribuir os lucros das empresas em dividendos, uma vez que retira liquidez às empresas para responder num cenário de crise.

PS tem preferido o PSD, diz BE

Para Catarina Martins, “nos últimos tempos, o Governo está mais interessado em dialogar com a direita”. Sem demonstrar que se sente traída, a líder do BE até admite que talvez sempre assim o tenha sido. “Em 2015 foi diferente pela força das próprias urnas de voto”, atirou. Mas não larga a mão ao PS e garante que “não será por falta de disponibilidade do BE que PS vai encontrar maioria à direita”.

Destacando o cuidado de não criar fricções e problemas desnecessários durante a fase de resposta à pandemia, o BE não deixa de relembrar que propôs um acordo de governação à esquerda semelhante ao da última legislatura. “O BE quis negociar a lei laboral e o PS disse que não. Agora, com a precariedade exposta pela pandemia, vemos que foi uma oportunidade desperdiçada”, declarou.

A líder do BE falou ainda da TAP e defendeu a importância de ter uma companhia aérea nacional que responda às necessidades de manter ligações não só para as regiões autónomas, mas também para os países onde existem comunidades portuguesas. “Se vamos ter de injectar muito dinheiro público, então, é normal que o controlo público seja real e concreto”, defendeu.

Sobre a realização da festa do PCP, a líder do BE não se alongou e preferiu escudar-se na impossibilidade de fazer futurismos. Mas não rotula o evento como apenas uma acção política. “É também um festival. Mas tenho dificuldades de entender quem já sabe hoje como vai ser o primeiro fim-de-semana de Setembro em termos da evolução da pandemia. Nesta matéria, como em todas as outras, seguir a ciência é muito importante”.

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