Covid -19: Taxa de desemprego nos Estados Unidos ainda “deverá piorar”

Taxa de desemprego já está nos 14,7%. Secretário do Tesouro de Trump diz que a Casa Branca está a ponderar medidas adicionais de apoio à economia, incluindo descidas de impostos sobre o rendimento.

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Steven Mnuchin e Donald Trump Reuters/Carlos Barria

O secretário do Tesouro da Administração Trump, Steven Mnuchin, afirmou este domingo que a taxa de desemprego dos Estados Unidos deverá aumentar nas próximas semanas. Na semana passada ficou a saber-se que a taxa de desemprego nos Estados Unidos atingiu 14,7% em Abril, superando o valor mais elevado do pós-guerra, que foi atingido em Novembro de 1982, nos 10,8%.

Segundo os dados do Departamento do Trabalho dos EUA, a maior economia do mundo perdeu 20,5 milhões de empregos no sector privado devido às medidas para conter a pandemia de covid-19.

A contagem dificilmente ficará por aqui. “Os números reportados vão provavelmente piorar antes de começarem a melhorar”, admitiu o secretário do Tesouro, em entrevista ao programa Fox News Sunday, sublinhando que “se trata de grandes números”, não porque a economia estivesse com um mau desempenho, mas sim porque foi “forçada a parar”.

O entrevistador perguntou a Mnuchin se a taxa de desemprego real actual - considerado quem está em situação de subemprego, quem não está activamente à procura de trabalho, ou os novos desempregados que já não foram contabilizados na estatística a partir de 18 de Abril - não poderá rondar os 25% que foram atingidos na altura da Grande Depressão.

“Podemos estar [a falar de uma taxa nesse nível]”, admitiu o governante, frisando que as circunstâncias são diferentes, porque a crise foi provocado por um vírus, e por isso é que a Casa Branca está “tão focada” em “reconstruir a economia”, em “reabri-la de uma forma segura”.

Steven Mnuchin indicou que a Casa Branca está a considerar mais medidas orçamentais de combate à pandemia, mas sublinhou que o Governo federal não quer salvar Estados que foram mal geridos. A Casa Branca está a trabalhar em cenários de reduções de impostos sobre os rendimentos, acrescentou.

As medidas de confinamento e de restrição à actividade económica foram o suficiente para catapultar a economia norte-americana para uma contracção de 4,8% no primeiro trimestre do ano, um desempenho que já não se via desde a crise financeira de 2008. O secretário do Tesouro garantiu que o terceiro e quarto trimestres serão melhores e que 2021 “será um óptimo ano”.

Em Fevereiro, a taxa de desemprego norte-americana tinha ficado em 3,5% e em Março atingiu 4,4%. Os últimos dados semanais sobre pedidos de subsídio de desemprego indicam que na semana terminada a 2 de Maio os novos pedidos voltaram a superar os três milhões – o que acontece há sete semanas consecutivas e eleva o total neste período para cerca de 33 milhões.

A situação é ainda pior se considerarmos que milhões de norte-americanos acedem a um seguro de saúde se estiverem empregados e deixam de ter condições de o fazer se perderem o trabalho.

Dinheiro não chega aos trabalhadores

O Senado norte-americano aprovou em Março o maior programa de sempre de estímulos à economia, no montante de 2,2 biliões (milhões de milhões) de dólares, incluindo um programa de mais de 600 mil milhões de dólares para dar empréstimos a fundo perdido a pequenas empresas, se estas mantiverem os seus trabalhadores.

Mas há quem não poupe críticas à actuação da Administração Trump e garanta que o dinheiro não está a chegar onde é preciso. É o caso do Prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz. “Tem sido um programa desastroso”, adiantou o economista, em declarações à Foreign Policy.

“O dinheiro não está a ir para quem mais precisa. Os mais vulneráveis não estão a receber nada. E o segundo ponto é que isto foi desenhado para encorajar as empresas a reterem os seus trabalhadores, mas ninguém confia que a Administração Trump perdoe dívidas”, afirmou Stiglizt.

O economista da Universidade de Columbia defende que os Estados Unidos deveriam aplicar medidas como as introduzidas na Europa, em que parte do rendimento dos trabalhadores é assegurada directamente pelo Estado (através de mecanismos como o lay-off).

“Estimámos o custo de dar directamente o dinheiro aos trabalhadores e é uma fracção daquilo que se está a gastar”, adiantou o economista.

Segundo o site Vox, até à data já foram aprovados 4,1 milhões de empréstimos, que podem ir até aos dez milhões de dólares. Mas os critérios entretanto definidos pela agência que passou a gerir o programa de empréstimos – a Small Business Administration – não só podem pôr em causa a utilidade da medida, como deixar as empresas que recorreram aos fundos numa situação ainda mais difícil.

Citando o relatório do inspector-geral que está a avaliar a execução do programa, o Vox refere que actualmente, para que os empréstimos sejam perdoados, 75% dos fundos obtidos só podem ser usados para pagar salários. O problema é que alguns dos negócios já usaram mais do que 25% do dinheiro para pagar rendas e outras despesas. Na prática isto significa que nem toda a dívida poderá ser perdoada, deixando as empresas ainda mais endividadas do que antes da crise.

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