O teletrabalhador é para ficar

Durante a crise que vivemos, nenhum novo caminho se terá mostrado mais claro do que o do teletrabalho.

As crises são uma oportunidade, há quem o diga e não pode haver argumento mais sem vergonha do que este. As crises, como a que vivemos hoje, são antes de qualquer coisa destruição, tristeza, desperdício, um acumular de oportunidades perdidas. Tentar ver o lado bom delas é só uma forma de nos enganarmos.

Isto não quer dizer que as crises não encerrem ensinamentos e, por vezes, mostrem ou, em muitos casos, obriguem a caminhos diferentes daqueles estávamos a trilhar. Durante a crise que vivemos, nenhum se terá mostrado mais claro do que o do teletrabalho. Aquilo que demoraria anos de consultoria, e um esforço enorme de gestão, se somarmos todas as empresas que tiveram de recorrer a este expediente por imperiosa necessidade, revelou-se coisa razoavelmente fácil.

Há anos a prever que as impressoras 3D revolucionariam o local da produção, não quisemos ver a verdadeira revolução que já tinha acontecido e só esperava um aproveitamento pleno. A digitalização da maior parte das tarefas no sector dos serviços era a oportunidade criada, faltava mudar o ponto a partir do qual nos sentamos a um computador com um telefone na orelha para nos ligarmos ao mundo ou para falar com o colega que se costumava sentava ao nosso lado. Uma razoável rede de transmissão de dados e a vulgarização de ferramentas de reunião online tornam a obrigação de trabalhar nos escritórios uma ideia obsoleta.

Continua a haver um mundo de tarefas que necessita da presença física num espaço comum, o contacto humano presencial vai fazer falta, mas depois desta prova dos nove, mesmo terminada a pandemia, o teletrabalho vai continuar. E há boas razões para isso.

Os ganhos ambientais e de tempo com a poupança em deslocações diárias, a possibilidade de ter uma gestão da vida familiar mais equilibrada com a vida profissional, o aprofundar das relações de proximidade no perímetro da residência, com o reforço óbvio do comércio local a gerar cidades com uma escala mais humana, são algumas das boas consequências previsíveis.

Tanto Governo, como as autarquias ou a União Europeia estão a dar passos significativos para incorporar o teletrabalho no nosso futuro, mas ainda vai ser preciso clarificar questões como as relações laborais, os custos domésticos da laboração ou a gestão dos espaços de trabalho comum. Só com equilíbrio se conseguirá evitar que o que foi uma estratégia de emergência e tem tudo para ser um aspecto virtuoso do nosso novo normal tenha vencedores ou vencidos do lado dos trabalhadores ou das empresas. Teletrabalhemos para isso.

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