The Eddy: Damien Chazelle e o jazz de Paris

A nova série do Netflix, criada por Jack Thorne e com realização e produção executiva do realizador de La La Land, conta a história de um clube de jazz na cidade francesa.

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Amandla Stenberg e André Holland em The Eddy, uma nova série Netflix sobre um clube de jazz em Paris DR

Tal como em Paris Blues, de Martin Ritt, ou 'Round Midnight, de Bertrand Tavernier, The Eddy centra-se num músico de jazz americano radicado em Paris. A capital francesa foi, ao longo do século XX, um refúgio para músicos de jazz, sendo uma cidade que aceitava melhor as pessoas negras que criaram e praticavam esse género musical.

Interpretado por André Holland, Elliot Udo, o protagonista desta nova série Netflix que sai esta sexta-feira, é um pianista e líder de banda que lançou discos pela editora Blue Note, não saiu de Nova Iorque por racismo, mas sim por um divórcio e pela morte do filho. Nesta nova cidade, fundou, com um amigo trompetista, Farid, um clube de jazz, o The Eddy que dá nome à série, que, sem ter muitas vezes a casa cheia, não é propriamente bem-sucedido. Deixou de tocar piano, mas continua a compor.

Um dia, a filha rebelde, a quem ele tentou passar o gosto pela música ao pô-la a tocar clarinete, vem ter com ele a Paris, e vê a vida virada do avesso quando um amigo morre, lançando-o para o meio de uma história de crime, isto sem ele querer. Além de Holland, o elenco da série inclui uma mistura de actores americanos e europeus, com nomes como Amandla Stenberg, de Os Jogos da Fome, Joanna Kulig, de Cold War - Guerra Fria, Tahar Rahim, de Um Profeta, Leïla Bekhti ou Melissa George, bem como vários músicos que se estreiam na representação.

A série foi criada por Jack Thorne, dramaturgo e argumentista britânico que tem trabalho em televisão e cinema, de Skins a Wonder - Encantador, mas tem produção executiva e realização, nos dois primeiros episódios, os que dão o tom para o resto, de Damien Chazelle, o responsável por Whiplash - Nos Limites e La La Land – o filme que foi falsamente anunciado como vencedor nos Óscares de 2017, tendo afinal perdido para Moonlight, de cujo elenco Holland, o protagonista da série, fazia parte. Os restantes seis episódios, de uma hora ao contrário dos de Chazelle, que têm à volta de uma hora e 20 minutos, são realizados pela francesa Houda Benyamina, a marroquina Laïla Marrakchi e o norte-americano Alan Poul, produtor executivo de Sete Palmos de Terra que foi quem foi buscar Chazelle e Thorne para este projecto. Cada um, tal como Chazelle, tem direito a dois episódios seguidos. Cada um foca-se numa personagem diferente, mostrando o mundo de música e precariedade destas pessoas que escolheram a música como vida, muito para lá das paredes do clube.

Mas, comparando com o resto do trabalho de Chazelle, que se estreia assim em televisão, a Paris de The Eddy tem zero que ver com a Los Angeles colorida, melancólica e artificial à Jacques Demy de La La Land. Aqui focam-se os subúrbios, a sujidade, a noite e o escuro da cidade, fugindo aos monumentos e sítios mais óbvios, com um estilo mais documental, natural e solto do que nesse filme. Felizmente, e apesar de haver um clube de jazz, não há um homem branco a tentar salvar o jazz. Elliot só quer salvar o seu clube e a sua filha. Já de Whiplash - Nos Limites, há toques de uma certa visão do jazz como um desporto competitivo na forma como Elliot tenta controlar a música que a banda que lidera faz. 

A série não é um musical, só que tem música a transbordar por todos os cantos, um pouco ao estilo de Treme, a série de há dez anos de David Simon que mostrava a Nova Orleães do pós-Furacão Katrina. As composições, todas originais tocadas ao vivo, estão a cargo de Glen Ballard, veterano produtor de pop/rock e r&b, com a ajuda de Randy Kerber, que também é uma personagem na série. A música é um dos pontos altos, mas envolve, porém, um jazz algo parado no tempo, se bem que com influências das várias culturas que existem em Paris, pelo menos a julgar pelos dois primeiros episódios, que o mais moderno que mostram é uma mistura de jazz e rap que poderia existir nos anos 1990.

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