Jornalistas fizeram perguntas incómodas e Bolsonaro respondeu: “Cala a boca”

Em causa está a substituição do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, onde é investigado um dos filhos do Presidente.

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Bolsonaro voltou a perder a paciência com os jornalistas à frente do Palácio da Alvorada, em Brasília Reuters/UESLEI MARCELINO

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, negou nesta terça-feira ter pedido o despedimento do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro e, falando para desmentir um artigo do jornal Folha de São Paulo, mandou calar os jornalistas que tentavam fazer-lhe perguntas sobre o tema. “Cala a boca”, disse o chefe de Estado à porta do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Jair Bolsonaro não respondeu a nenhuma das perguntas. Fez um discurso durante o qual disse que a Folha fazia uma “imprensa canalha” – insurgia-se com uma coluna neste jornal, assinada por Camila Mattoso, que diz que a superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro é um foco de interesse da família Bolsonaro.

Segundo a imprensa brasileira, esta superintendência do Rio foi um dos problemas entre o Presidente e Sergio Moro, que se demitiu do cargo de ministro da Justiça, acusando Bolsonaro de interferência nesta força policial e querer mudar (como mudou) a sua chefia. Uma acusação que motivou a abertura de um inquérito por parte do Supremo Tribunal Federal.

A Polícia Federal está a investigar dois casos ligados a filhos de Bolsonaro, um por suspeita de propagação de notícias falsas e outro por um esquema de desvio de dinheiro público na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Bolsonaro substituiu o chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo, por Alexandre Ramagem, cuja nomeação foi, contudo, travada pelo Supremo federal. Foi nomeado então Rolando Souza, que mal assumiu o cargo trocou o superintendente do Rio de Janeiro, um desejo de Bolsonaro desde o ano passado. O anterior superintendente foi nomeado vice-presidente da Polícia Federal.

A coluna na Folha dizia que Bolsonaro tinha orquestrado a troca, o que o Presidente negou. “Para onde está indo o superintendente do Rio de Janeiro? Para ser o director executivo da PF. Estou trocando ele? Isso é patifaria”, disse o Presidente brasileiro, quase aos gritos, como mostram os vídeos publicados pelos jornais e sites noticiosos do Brasil.

“Não tem nenhum parente meu investigado pela Polícia Federal, nem eu, nem meus filhos, zero. Uma mentira que a imprensa replica o tempo todo dizendo que meus filhos querem trocar o superintendente.”

As agressões do Presidente aos jornalistas surgem num momento em que se registam ataques à imprensa por parte de alguns dos seus apoiantes. Há dias um fotógrafo do Estado de S.Paulo foi agredido com socos e pontapés por simpatizantes do Presidente numa manifestação pró-governo, em Brasília. E nesta terça-feira, durante o discurso do Presidente, um seu apoiante chamou louca a uma jornalista.

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