Devemos ir jantar a casa de amigos? E visitar pais e avós? O que fazer no retorno à nova normalidade social

Na semana em que os portugueses iniciam um regresso lento à normalidade, a chefe de Divisão de Epidemiologia e Estatística da Direcção-Geral da Saúde diz que há comportamentos a evitar para que o país transite para a segunda fase do plano de desconfinamento daqui a duas semanas.

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Esta segunda-feira marcou o início do desconfinamento para muitos portugueses Nuno Ferreira Santos

Com a apresentação do plano do Governo para o desconfinamento, os portugueses puderam marcar no calendário algumas datas estratégicas para um lento regresso a uma nova normalidade. Esta segunda-feira, dia 4 de Maio, foi a data escolhida para a reabertura do pequeno comércio e marca o início do desconfinamento para muitos portugueses.

António Costa já havia explicado que todas as normas de aligeiramento de medidas entrarão em vigor de 15 em 15 dias – a 4 de Maio, a 18 de Maio e a 1 de Junho — para que seja possível ir fazendo uma avaliação dos efeitos das medidas de abertura nos dados sobre a progressão da covid-19, já que o período de incubação do SARS-CoV-2 pode ir até aos 14 dias.

Uma vez que a continuação do plano de desconfinamento estará sempre dependente da evolução da pandemia, há cuidados e comportamentos que podemos e devemos continuar a ter para que existam, como realçou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, em conferência de imprensa, “equilíbrios entre a dinâmica da doença e do desconfinamento”. Mas quais são os conselhos das autoridades de Saúde para a realização de algumas actividades sociais daqui para a frente?

Devemos fazer jantares com amigos/familiares?

Ainda que este tipo de actividade seja permitida pela lei, Rita Sá Machado, chefe de Divisão de Epidemiologia e Estatística da Direcção-Geral da Saúde​ (DGS), explica ao PÚBLICO que do ponto de vista da saúde pública, para já, os jantares em casa de amigos e/ou familiares devem ser evitados sempre que possível.

“Sobre os nossos jantares e o nosso convívio social, embora seja permitido que estejam no mesmo espaço até dez pessoas, a minha opinião enquanto médica é que ainda não devemos promover este tipo de actividades, apenas porque estamos numa fase muito precoce em que precisamos de manter a nossa cautela e alguma abertura para, se necessário, voltarmos atrás nas medidas que foram implementadas”, explica a especialista, fazendo alusão às palavras de António Costa, quando o primeiro-ministro anunciou o plano de desconfinamento.

Na opinião da especialista, ainda que esta segunda-feira seja o primeiro dia de um aligeirar progressivo de medidas, é necessário que os portugueses comecem a retomar os comportamentos do ponto de vista daquilo que é “estritamente necessário” para que as autoridades de Saúde possam estar atentas à evolução das próximas duas semanas e para que percebam se a fase dois irá avançar, ou se será necessário recuar.

“Devemos evitar ao máximo os jantares de amigos e de família. Do ponto de vista da saúde mental é bom estarmos com as pessoas de quem gostamos e com quem temos afinidade, mas será melhor continuar a promover aquilo que é o contacto através das telecomunicações, pelo menos nesta primeira fase”, conclui Rita Sá Machado.

Devemos ir visitar pais, avós ou outros familiares?

Para a médica, a resposta a esta questão está intimamente relacionada com a forma como cada um se desloca até casa dos familiares. Depende também se os pais, avós, ou outros familiares têm ou não factores de risco associados ou se estão incluídos na faixa etária da população que mais deve ser protegida. “Diria que, de uma forma generalizada, podemos fazer visitas. O objectivo não é continuar a confinar”, avança a especialista, explicando ainda que, se forem utilizados os transportes públicos para estas visitas, os cuidados, só por si, já terão de ser redobrados.

A chefe de Divisão de Epidemiologia e Estatística da DGS reforça, no entanto, que devem ser tomadas as devidas precauções para fazer este tipo de visitas, da lavagem correcta das mãos ao reforço da etiqueta respiratória. Além disso, sublinha, convém não ir a casa de familiares depois de frequentar um espaço público. “Vamos ter de praticar com mais convicção, e durante esta época, o tipo de cautelas que já iniciámos”, conclui.

Podemos ir visitar familiares a lares de idosos?

As visitas aos lares de idosos e instituições similares continuam a ser proibidas, até porque ainda não foram emitidas as orientações para a retoma destas actividades, algo que Graça Freitas, directora-geral da Saúde, disse esta segunda-feira estar para breve.

“Ainda existe essa necessidade de uma protecção das populações mais velhas, principalmente dos idosos que estão institucionalizados, até porque ainda não foi feito um levantamento dessa restrição”, explica Rita Sá Machado, avançando que a proibição de visitas a lares de idosos foi uma das primeiras medidas a serem tomadas no início da pandemia.

Podemos passear de carro?

De acordo com a especialista ouvida pelo PÚBLICO, passear de carro não é uma “questão problemática” nesta altura e neste contexto. “O passear de carro nunca foi uma actividade que estivesse limitada a não ser com medidas como as deste último fim-de-semana, em que não podíamos sair do nosso concelho de residência. Estar dentro do carro e dar uma volta não traz algum problema. Muitas vezes vemos as pessoas de máscara dentro do carro. Esse exercício também não é necessário, a não ser que estejamos a falar de um transporte de passageiros. Em carros particulares não é preciso”, explica Rita Sá Machado.

Devemos praticar exercício fora de casa?

Ao contrário do que aconteceu com os cidadãos espanhóis, que só podiam sair à rua para comprar alimentos e medicação, os portugueses sempre puderam para fazer exercício e passear animais de estimação fora de casa — os chamados “passeios higiénicos” que deviam decorrer dentro das respectivas áreas de residência.

“Agora esta prática ainda é limitada. Os ginásios, por exemplo, ainda não foram abertos, porque aí temos um grande aglomerado de população dentro de instalações fechadas e isso poderia promover uma maior contaminação. As actividades como a corrida, o passeio, continuam a ser permitidas; podemos e devemos fazê-las. Mas devemos adoptar algumas medidas que já fomos pondo em prática. Se estivermos numa via com muitas pessoas, tentarmos deslocar-nos para uma via com menos movimento. Se por acaso vier alguém na nossa direcção, tentar que exista uma distância de segurança dessas pessoas”, exemplifica a especialistas da DGS.

Podemos ir à praia, parques ou jardins?

Nesta primeira fase, as idas à praia ainda não são permitidas — a não ser que seja para praticar um desporto como o surf e o bodyboard. De outra forma, os cidadãos não podem ir à praia e dar um mergulho, por exemplo. “Acho que devemos, uma vez mais, ser rigorosos com aquilo que estamos a adoptar. Diria que não vamos estar sentados num banco sozinhos e durante horas a ler um livro, um actividade que noutras alturas poderia ser feita, mas que agora ainda não é altura de fazer”, expõe Rita Sá Machado.

Ainda que admita que os passeios ao pé da praia podem ser “agradáveis do ponto de vista da saúde mental”, a especialista é da opinião de que, tal como outras, também estas acções podem ser evitados. “Diria para evitarmos este tipo de comportamentos pelo menos na nossa primeira fase de levantamento de medidas. Ainda estamos na primeira, ainda vêm mais duas e acho que esta vai ser essencial para o sucesso as restantes.”

Além disso, algumas actividades recreativas, de lazer e diversão continuam encerradas, como é o caso dos parques de diversões, parques recreativos para crianças e alguns jardins. Para os jardins ou parques que não estão encerrados, é aconselhado frequentar os que ficam mais próximos de casa para fazer exercício ou caminhar, de preferência sem recurso a transporte público.

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