Empresas de media dizem a Marcelo que apoios estatais são bem-vindos mas “insuficientes”

Presidente continua a receber nesta terça-feira empresas do sector para perceber que outras medidas se poderão tomar além do apoio de 15 milhões de euros em publicidade institucional.

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Marcelo Rebelo de Sousa LUSA/MÁRIO CRUZ

É preciso ser-se reconhecido quando se é ajudado, mas, apesar de considerar que o apoio dos 15 milhões de euros em compra de publicidade institucional é “muito bem-vindo”, o sector dos media foi dizer ao Presidente da República que é “insuficiente” para resolver os problemas e fica “aquém das necessidades”. A pandemia da covid-19 só ajudou a aprofundar a crise financeira em que a comunicação social portuguesa vive há alguns anos.

Por ter também essa consciência, o chefe de Estado está a auscultar, entre esta segunda e terça-feira, as empresas de comunicação social “para ter uma noção” do que estas consideram que pode ser uma “evolução possível” dos problemas e soluções, depois de ter ouvido as entidades que regulam o sector há duas semanas. Nesta segunda-feira, numa ida à livraria Bertrand, ao Chiado, para mostrar que já é possível ir ao comércio tradicional mas de máscara, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a “medida de urgência” do Governo e vincou que “não há democracia sem liberdade de imprensa e não há liberdade de imprensa se os jornais, as rádios e as televisões estiverem falidos”.

Os portugueses nunca viram tanta TV nem leram tantas notícias online como no último mês e meio, mas isso não significa que os media tenham mais facturação. Pelo contrário: há quebras de 50 a 60% na publicidade e é dela que as empresas dependem para sobreviver, alertou o presidente da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, à saída do encontro com Marcelo. O gestor defendeu ser importante rever a posição face aos “grandes gigantes globais que actuam em duopólio” e que se “apropriam indevidamente do investimento publicitário”, sem serem tributados em Portugal.

Luís Cabral, presidente da Media Capital, está preocupado com a “incerteza” de não se saber quando poderá começar a retoma económica e como irão ser os próximos meses - ou se haverá uma segunda vaga. O grupo Media Capital colocou em layoff apenas a produtora de novelas Plural e espera que o apoio da publicidade institucional chegue “rapidamente” às empresas

Por seu lado, o presidente da RTP, Gonçalo Reis, recusou “ajudas financeiras adicionais” para o operador e fez questão de salientar que o papel da RTP “é sempre numa lógica de serviço público e de diferenciação”, pelo que, nesta fase, “tem reforçado a programação nas áreas da educação e da cultura, aposta no digital e no apoio à produção independente e às indústrias criativas”. É na RTP que estão a ser produzidas e transmitidas as aulas do #EstudoEmCasa, tendo a TV pública aumentado os conteúdos didácticos e educativos, lançado o portal RTP Palco e um programa de contratação de produção independente.

Apesar das dificuldades das empresas de media suas clientes, a agência noticiosa Lusa tem “capacidade para chegar ao final do ano e acomodar as eventuais perdas que tenha até lá” no orçamento previsto para este ano, de 12,8 milhões de euros. Mas está a negociar uma moratória para que os meses de Maio a Julho sejam pagos a partir de Agosto.

“Não queremos que deixe de existir esta figura intermediária fundamental entre os acontecimentos e o cidadão, que possa oferecer ao cidadão a leitura verdadeira e real dos acontecimentos; e não podemos delegar essa função nos fenómenos mais modernos das redes sociais, com o perigo das fake news e companhia”, defendeu esta segunda-feira ao fim da tarde o presidente do Grupo Renascença, Américo Aguiar. "Por isso é fundamental que as empresas de media possam funcionar.”

Marcelo recebe na terça-feira os gestores da Global Media (dona do DNJN, TSF e O Jogo), PÚBLICO, Observador, Trust in News (Visão), A Bola e Newsplex (Sol i).

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