Covid-19: Doadores internacionais prometem 7,4 mil milhões de euros para produção de vacina contra coronavírus

Presidente da Comissão Europeia conduziu maratona televisiva de três horas para arrecadar 7,5 mil milhões. Ficou perto, e mostrou-se “orgulhosa” e “aliviada” com esforço financeiro global para o combate ao coronavírus.

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Ursula von der Leyen com Charles Michel em Bruxelas Reuters

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nesta segunda-feira num novo papel de anfitriã da conferência internacional de doadores para a resposta global ao coronavírus, congratulou-se com a mobilização de 7,4 mil milhões de euros para financiar os esforços em curso em todo o mundo para a investigação científica e o desenvolvimento, produção e distribuição — à escala planetária — de vacinas e tratamentos para o SARS-CoV-2.

“Conseguimos! No espaço de apenas algumas horas, conseguimos arrecadar 7,4 mil milhões de euros para vacinas, diagnósticos e tratamentos”, anunciou Von der Leyen, que dirigiu a partir da sede da Comissão Europeia em Bruxelas uma maratona televisiva de três horas, com participações em directo de vários líderes europeus, como o Presidente de França, a chanceler da Alemanha, e o primeiro-ministro britânico; bem como de chefes de Estado e governo de todos os outros continentes, e ainda o secretário-geral da ONU, António Guterres e representantes do G20 e da União Africana.

“Este é um momento decisivo para a comunidade global e que marcará um ponto de viragem na nossa luta contra o coronavírus, com a criação de um verdadeiro bem público global”, disse a líder do executivo comunitário. “Estou muito orgulhosa e muito aliviada”, admitiu a presidente da Comissão Europeia, que apesar de ter falhado a meta de 7,5 mil milhões de euros em compromissos financeiros, viu a sua liderança ser elogiada pelos vários interlocutores.

Von der Leyen não guardou os cumprimentos para si, mas partilhou-os com os 27 Estados membros que compõem a União Europeia: como fez questão de assinalar, foi a “team Europe”, como chamou à “equipa europeia”, que assegurou a maior parcela de financiamento, contribuindo com mais de quatro mil milhões de euros. Como tinha notado o presidente do Conselho Europeu, no arranque da conferência, o combate ao coronavírus exige verbas avultadas. “Precisamos de muito dinheiro para os nossos esforços. Mas o custo da inacção será ainda maior”, considerou Charles Michel.

Dos cofres de Bruxelas saíram mil milhões de euros em cash, e ainda 400 milhões de euros em garantias através de programas e instrumentos comunitários como o Horizonte 2020 ou o RescEU. O Presidente de França, Emmanuel Macron, anunciou uma contribuição extraordinária de 1,5 mil milhões de euros, para cumprir três objectivos: “Acelerar a concepção e produção de meios de tratamentos e vacinas; garantir o acesso equitativo a estes meios, que serão bens públicos universais; contribuir para a melhoria dos sistemas de saúde dos países menos desenvolvidos”, explicou. 

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, avançou com 525 milhões de euros em verbas adicionais para o financiamento da Organização Mundial de Saúde, da Coligação para a Inovação e Preparação para Epidemias CEPI e para a GAVI, Aliança de Vacinas. O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, prometeu 125 milhões de euros para “esta iniciativa imprescindível”, e o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, anunciou mais 71,5 milhões de euros. “A Itália quer ter um papel especial, infelizmente temos muita experiência adquirida com este vírus que estamos disponíveis para partilhar”, notou. 

O Reino Unido disponibilizou quase 547 milhões de euros e a Noruega quase 189 milhões de euros; da Austrália chegou um compromisso de 207 milhões de euros, aos quais se somam mais 551 milhões de euros vindos do Canadá. A Arábia Saudita, que assegura a presidência do G20, anunciou um contributo de 457 milhões de euros e a África do Sul, em nome da União Africana, garantiu mais de um milhão de euros. Pelo seu lado, o Japão mobilizou 762 milhões de euros, a Coreia do Sul acrescentou mais 50 milhões de euros ao seu financiamento da, enquanto o embaixador da China na União Europeia, Zhang Ming, contabilizou em 45 milhões de euros o apoio de Pequim a vários países que receberam máscaras e outros equipamentos de protecção individual ou ventiladores nos últimos dois meses.

Apesar de o programa da conferência prever uma intervenção do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, acabou por ser o diplomata de Pequim (no centro de uma polémica com o serviço de Acção Externa da UE, por causa de pressões para suavizar uma declaração europeia sobre acções de desinformação a partir da China), a participar na conferência. Zhang sublinhou o apoio da China à Organização Mundial de Saúde, e disse que Pequim ia suspender os pagamentos da dívida de 77 países em desenvolvimento, para que estes possam concentrar os seus recursos no combate ao coronavírus.

EUA ficam de fora

Os Estados Unidos da América ficaram notoriamente à margem deste esforço científico mundial, que tem como objectivo acelerar a produção de uma vacina e ao mesmo tempo garantir a sua disponibilidade a toda a população mundial. Durante uma conferência de imprensa do Departamento de Estado norte-americano com correspondentes em Washington, a pergunta sobre a decisão da Administração Trump em não participar na conferência internacional de doadores foi colocada seis vezes — e das seis vezes ficou sem resposta.

A ausência dos EUA não mereceu referência pela parte de nenhum dos doadores internacionais. Mas uma atrás da outra, as intervenções acabaram por reunir uma compilação de críticas à postura assumida pelo Presidente norte-americano, Donald Trump. Além de repetirem palavras como unidade, solidariedade, cooperação ou equilíbrio, e de manifestarem o seu apoio pelo trabalho das organizações multilaterais e pelos esforços conjuntos, os líderes mundiais recusaram atribuir culpas pela disseminação da pandemia e rejeitaram entrar em concorrência ou competição no desenvolvimento de uma vacina e na sua distribuição.

E mesmo sem a participação de Washington, algumas das mais generosas contribuições para o esforço colectivo vieram dos Estados Unidos. A Fundação Bill e Melinda Gates fez um donativo de 100 milhões de dólares, e mesmo no final da conferência ficou a saber-se que a cantora Madonna pretende contribuir com um milhão de dólares para o esforço global de produção de uma vacina.

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