Pós-Covid 19: como reinventar a promoção dos vinhos portugueses

O mundo mudou e vamos passar a viver um “novo normal”. Mas todo o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos não pode ser desperdiçado. É tempo de nos reinventarmos.

Vivemos um período sem precedentes na nossa existência. De uma forma imprevisível e indo além do que qualquer um de nós poderia antever, vimo-nos confinados às nossas casas, num esforço colectivo para conter a pandemia da covid-19 e vencer esta batalha. Foi tempo de colocar a defesa da saúde à frente de tudo, mas importa começar a pensar no que pode e deve ser feito para relançar a economia, com toda a saúde, segurança e confiança aos agentes económicos.

Foquemo-nos na fileira do vinho, um sector com uma forte tradição no nosso país e que tem sido capaz de se modernizar e de se adequar aos novos desafios do mercado e do consumo. Mais do que falar nos impactos económicos e financeiros que os produtores de vinho estão a sofrer com a actual crise, que deixo para outro fórum, gostaria de concentrar esta reflexão na notoriedade que os Vinhos de Portugal têm e que deve ser encarada como um importante activo para a fase pós-covid-19. O mundo mudou e vamos passar a viver um “novo normal”. Mas todo o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos não pode ser desperdiçado. É tempo de nos reinventarmos.

Em 2019, as exportações de vinhos portugueses atingiram o valor de 820 milhões de euros, um novo máximo histórico, que representa um aumento de 2,5% face ao ano anterior. França, Estados Unidos, Reino Unido, Brasil e Alemanha formam o top-5 dos mercados de destino dos vinhos nacionais. Em termos globais, Portugal ocupa a 9.ª posição no top-10 dos maiores exportadores mundiais de vinho. Esta é a fotografia do sector no panorama internacional, reveladora do empenho dos produtores em apresentar vinhos de qualidade e diferenciadores, do investimento na promoção, com eventos dirigidos a profissionais, importadores, influenciadores, media e consumidores finais, sem esquecer também a aposta na educação e formação de profissionais estrangeiros em vinhos portugueses.

Perante um quadro completamente diferente daquele que qualquer pessoa ou instituição poderia prever, mesmo num cenário mais conservador, importa apostar na flexibilidade e na capacidade de adaptação. A promoção internacional dos vinhos portugueses tem no contacto pessoal um forte activo, pois só dessa forma é possível gerar a experiência ideal para provar os vinhos ou para dar conhecer, no terreno, os projectos de excelência que os produtores nacionais têm de Norte a Sul do país. Anteveem-se restrições nos próximos tempos para a realização de eventos e uma menor confiança para a realização de deslocações para fora do país. Será necessário encontrar alternativas para continuar a colocar a marca “Wines of Portugal” na prioridade dos importadores, sommeliers e influenciadores internacionais.

Uma maior aposta nas plataformas de comércio online parece ser um caminho inevitável. Dar uma maior preponderância à comunicação em canais digitais e nas redes sociais será, nos próximos tempos, a forma possível de dar a conhecer os nossos vinhos. A massificação do uso de plataformas digitais para reuniões pode abrir uma oportunidade para continuar com programas de formação e educação em vinho. Em suma, num quadro de grande incerteza como é este que temos pela frente, importa não ficar parado, dar passos concretos e, ao mesmo tempo, pensar na melhor forma para voltar à normalidade possível. Perseverança, resiliência e criatividade serão as “castas” que temos de considerar para fazer um blend de qualidade para os vinhos de Portugal.

Por agora, continuemos por casa, para ajudar a vencer o coronavírus. Mas não deixemos de provar um bom vinho nacional para matar as saudades dos nossos encontros com a família e amigos e apoiar a produção nacional.

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