Bruxelas prevê recessão “severa”, Portugal “mais resiliente” nesta crise

“Esperamos uma recessão severa este ano em todos os Estados-membros da União Europeia”, defendeu Valdis Dombrovskis, e Portugal “não escapa ao restante panorama”

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Reuters/POOL

O vice-presidente da Comissão Europeia Valdis Dombrovskis estima uma “severa recessão” na Europa em 2020, com uma queda em torno de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro, e novo pico do desemprego resultante da pandemia.

“No que toca às previsões económicas, esperamos uma recessão severa este ano em todos os Estados-membros da União Europeia [UE], e a magnitude dessa recessão está em linha com as recentes previsões do Fundo Monetário Internacional [FMI], que apontam para 7,5%” na zona euro, disse em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o vice-presidente do executivo comunitário responsável pela pasta de “Uma Economia ao Serviço das Pessoas”, Valdis Dombrovskis.

Numa alusão às estimativas divulgadas em meados de Abril pelo FMI, que apontam para uma recessão de 7,5% na zona euro e de 7,1% no conjunto da UE, o responsável reforçou que a Comissão Europeia prevê “uma recessão severa este ano, seguida por uma substancial recuperação no próximo ano”, estimativas que estarão reflectidas nas previsões económicas da primavera de Bruxelas, a serem publicadas na próxima quinta-feira.

“Claro que isso depende de certos cenários […] porque a retoma económica vai mesmo depender de como as medidas de confinamento forem levantadas”, ressalvou Valdis Dombrovskis, frisando que, “assim que haja uma contenção a nível epidemiológico e as medidas começarem a ser retiradas, é de esperar uma recuperação europeia bastante forte”.

Apesar de argumentar que “há que ter em conta diferentes possibilidades sobre como é que a situação epidemiológica vai evoluir”, o vice-presidente do executivo comunitário notou que existe um “cenário de referência” sobre o impacto da covid-19 nas contas dos Estados-membros.

“Assistimos a um choque económico acentuado, mas é relativamente simétrico”, destacou.

Portugal pode realocar três mil milhões de fundos

“É possível dizer que Portugal entra nesta crise com uma economia mais resiliente do que antes”, disse o vice-presidente do executivo comunitário. Destacando as reformas estruturais feitas após a crise de 2009, na qual Portugal foi um dos países europeus mais afectados, o responsável notou que tais medidas “ajudaram a aumentar a resiliência da economia portuguesa e a sua competitividade”.

“Em termos das políticas orçamentais, Portugal era um dos países mais endividados e foi capaz de reduzir substancialmente a sua dívida nos anos de crescimento económico o que, infelizmente, não aconteceu em todos os países endividados”, afirmou Valdis Dombrovskis.

Ainda assim, de acordo com o vice-presidente do executivo comunitário, Portugal “não escapa ao restante panorama” de recessão os países da zona euro e da UE, pelo que Bruxelas estima uma “situação complicada” este ano no país devido aos efeitos da pandemia de covid-19.

Para evitar consequências graves, “encorajamos Portugal a fazer uso dos instrumentos europeus que estamos disponibilizar” a nível europeu, destacou Valdis Dombrovskis, como o Sure, as linhas de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate permanente da zona euro e as operações de emergência para garantir liquidez aplicadas pelo Banco Central Europeu (BCE).

O vice-presidente da Comissão Europeia exortou ainda o Governo português a “utilizar a flexibilidade dos fundos estruturais”, medida introduzida por Bruxelas para permitir a reafectação destas verbas comunitárias à resposta à pandemia.

“De acordo com a informação de que disponho, Portugal poderá realocar entre dois a três mil milhões de euros de verbas da coesão para responder à crise, para aplicar na resposta sanitária, mas também económica, ao nível das pequenas e médias empresas e dos esquemas de desemprego temporários e outras medidas possíveis”, elencou Valdis Dombrovskis.

Em perspectivas económicas divulgadas em meados de Abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipou uma recessão de 8,0% da economia portuguesa e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020, devido à pandemia de covid-19.

Além desta queda acentuada do PIB português e do aumento do desemprego, o FMI estimou também para este ano uma deflação de 0,2% e um saldo da conta corrente positivo em 0,3% do PIB.

Para 2021 o cenário inverte-se, com a instituição liderada pela búlgara Kristalina Georgieva a apontar para uma recuperação de 5,0% do PIB, com uma taxa de desemprego de 8,7%, uma inflação de 1,4% e um saldo da conta corrente a voltar para o negativo, nos 0,4% do PIB. Em 2019, o crescimento do PIB foi de 2,2% e a taxa de desemprego foi de 6,5% em Portugal.

Estas foram as primeiras previsões para Portugal de uma instituição internacional no âmbito da pandemia de covid-19, e seguem-se às do Banco de Portugal (BdP), que, no final de Março, estimou uma queda do PIB nacional de 3,7% num cenário base e de 5,7% num adverso.

“Pico do desemprego é já uma realidade”

Já questionado pela Lusa sobre as consequências da pandemia no desemprego na região, Valdis Dombrovskis admitiu “um aumento substancial” desta taxa em 2020, após ter atingido níveis mínimos na zona euro e na UE.

“Esta é uma situação sem precedentes e há medidas restritivas em toda a UE e em todo o mundo, pelo que o pico no desemprego é já uma realidade”, referiu o vice-presidente da Comissão Europeia.

Valdis Dombrovskis defendeu, por isso, ser “necessário minimizar” esta subida no desemprego, recordando as medidas já adoptadas pela Comissão Europeia para esse fim, como o programa Sure (que visa salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de desemprego temporário), bem como as operações de emergência para garantir liquidez aplicadas pelo Banco Central Europeu (BCE).

Com os efeitos económicos da pandemia de covid-19, o desemprego na área do euro deverá subir para os 10,4%, de acordo com as projecções do FMI, acima dos 7,6% registados no ano passado.

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