Joe Biden nega que tenha abusado sexualmente de ex-assistente

Tara Reade tornou-se uma assombração para o candidato democrata à Casa Branca. Diz que o então senador pelo Delaware abusou dela, e que o caso levou ao seu despedimento, há 27 anos.

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No ano passado, oito mulheres, incluindo Tara Reade, acusaram Bien de ter comportamentos que as deixaram desconfortáveis TRACIE VAN AUKEN/LUSA

O presumível candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, negou esta sexta-feira ter assediado uma das suas funcionárias em 1993, quando era senador pelo Delaware, um caso que ressurgiu este mês e que tem gerado mal-estar entre os defensores dos direitos das mulheres e políticos mais progressistas nos Estados Unidos. Apelou aos Arquivos Nacionais que divulgassem os seus documentos pessoais do seu tempo de senador.

Tara Reade, uma californiana de 56 anos que trabalhou como assistente na equipa de Biden no Senado entre Dezembro de 1992 e Agosto de 1993, acusou o ex-vice-presidente, em várias entrevistas a diferentes media, de a ter encostado a uma parede em 1993, levantando-lhe a saia e penetrando-a com os dedos. Reade garantiu ter relatado o assédio a assessores do então senador, sem que nada tenha sido feito, acabando por apresentar queixa ao Gabinete do Senado. Foi pouco depois despedida. 

Reade falou a partir de Março com várias publicações, incluindo o New York Times, dando-lhe dimensão nacional quando se está em contagem decrescente para as presidenciais de Novembro. O diário americano entrevistou Reade, falou com amigos e advogados a quem terá relatado o incidente e com antigos funcionários e assessores de Biden, que não corroboraram a sua versão. No início de Abril, ela apresentou queixa na polícia de Washington D.C. – mas já foi arquivada.

Biden tem-se mantido em silêncio e nesta sexta-feira falou do caso pela primeira vez, no programa da manhã da MSNBC, o Morning Joe. Minutos antes de falar, divulgou uma declaração em que pedia aos Arquivos Nacionais que tornassem públicos os registos de uma hipotética queixa feita na altura ao Senado. Frisou, no entanto, que não pode existir: “Não, não é verdade. E digo-o inequivocamente: nunca aconteceu”, declarou Biden. “Não me lembro de nenhum tipo de queixa. Foi há 27 anos, não me lembro dela. Nunca aconteceu.

Biden disse ainda que os documentos dos seus anos no Senado que entregou à Universidade do Delaware não contêm documentos pessoais, como queixas ou, como exemplificou, extractos de pagamentos salariais aos funcionários. Tara Reade argumenta que lá estarão documentos que comprovam a sua versão, mas Biden recusa que lá estejam e justificou o atraso na sua divulgação com a necessidade de filtrar documentos confidenciais, como o de registos de conversas que teve com o Presidente Barack Obama quando ocupou a vice-presidência. 

“Os meus arquivos [na Universidade de Delaware] não contêm documentos pessoais, apenas têm registos públicos”, disse Biden. “Tenho a certeza absoluta de que [a queixa] não está lá”, garantiu. Ali estão discursos, propostas de políticas, posições assumidas e projectos-leis redigidos. Só nos Arquivos Nacionais poderá haver documentos pessoais.

No ano passado, oito mulheres, incluindo Reade, acusaram o vice-presidente de ter comportamentos que as punha desconfortáveis, como beijar, abraçar e toques de vários tipos. Mas nada deste tipo. Biden, por sua vez, admitiu a sua conduta e disse que as suas intenções eram benignas e prometeu ter “mais respeito pelo espaço pessoal das pessoas”. 

Problemas para a campanha

Joe Biden já vinha a ter problemas em fazer-se ver durante a resposta da crise pandémica, concentrada nas mãos do seu rival e Presidente, Donald Trump, e dos governadores. Esta acusação retira-lhe um ainda maior controlo da agenda política. Pouco depois de o New York Times ter publicado a investigação, a campanha de Joe Biden apressou-se a negar a acusação em comunicado, mas, nas últimas semanas, pouco mais fez, para exasperação dos seus aliados democratas.

É que uma das principais armas de arremesso contra Trump, no que aos direitos das mulheres diz respeito, tem sido precisamente o seu histórico de agressor sexual – mais de 20 mulheres denunciaram ter sido suas vítimas, incluindo a ex-mulher do Presidente, Ivanka Trump, acabando por voltar atrás na acusação de violação - e este caso veio limitar a margem de manobra da campanha. 

Além disso, as fileiras democratas foram um dos principais aliados do movimento MeToo e têm sentido um crescente desconforto na forma como podem lidar com estas alegações, dado terem escalado de nível com a revelação de Tara Reade. A liderança democrata já veio a público apoiar Biden e sublinhado a sua dedicação à causa pública e de respeito pelas mulheres e esse papel tem sido desempenhado por mulheres que ocupam cargos de topo. 

Uma delas foi a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, ao na quinta-feira reforçar ter total confiança em Biden. “Quero acabar com qualquer dúvida na cabeça das pessoas: tenho um grande nível de conforto com a situação como a vejo, com todo o respeito do mundo a todas as mulheres que se chegam à frente, com o máximo de respeito por Joe Biden”, disse aos jornalistas Pelosi. 

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