A covid-19 chegou ao Iémen, onde pode ter um impacto enorme

Num país de 24 milhões de pessoas em que 80% depende de ajuda humanitária, e várias epidemias, como a cólera e a dengue fazem vítimas, o novo coronavírus é uma ameaça temível.

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Um militante separatista na cidade de Aden NAJEEB ALMAHBOOBI/EPA

O Iémen, um país em guerra desde 2015, anunciou as primeiras infecções e mortes por covid-19, na região portuária de Aden, no sul. As Nações Unidas identificaram como uma das suas principais preocupações a possibilidade de o coronavírus se espalhar sem ser detectado neste país onde milhões de pessoas sofrem de fome e de outras epidemias de doenças infecciosas, como a cólera, sem terem acesso a cuidados médicos.

Desde que os houthis derrubaram o governo reconhecido internacionalmente, e que tem o apoio da Arábia Saudita, em 2015, tomando a capita, Sanaa, que o país foi lançado num processo de guerra e fragmentação. Uma aliança militar internacional liderada pelos sauditas atacou os houthis, que têm o apoio não oficial do Irão, transformando o Iémen no cenário de uma guerra por procuração entre as duas grandes potências regionais, Arábia Saudita e Irão. O conflito destruiu as estruturas médicas e sanitárias.

Aden é agora controlado por separatistas do Conselho de Transição do Sul, que foram apoiados pelos Emirados Árabes Unidos, parceiros da Arábia Saudita na aliança que atacou o Iémen. Foi deles que veio o alerta sobre a covid-19: foram detectados cinco casos e duas mortes. Esperam-se muitos mais. Mas a prevalência de doenças com sintomas semelhantes, a como a dengue, torna difícil distingui-las, sem testes de diagnóstico adequados, que não há.

A Reuters diz ter a confirmação por duas fontes de que houve pelo menos uma morte devido a covid-19 em Sanaa, controlada pelos houthis – mas o Ministério da Saúde controlado pelo movimento negou-o.

Houve uma trégua unilateral de duas semanas, declarada a 8 de Abril pela coligação militar liderada pela Arábia Saudita, que apoia o Governo face aos houthis. Mas não travou a continuação dos combates no terreno. Os houthis rejeitaram o cessar-fogo.

A ONU alertou esta semana que o coronavírus pode estar a circular no Iémen sem ser detectado – e esta notícia confirma o alerta. No Iémen, 80% dos 24 milhões de habitantes dependem de ajuda humanitária para sobreviver, e dez milhões sobrevivem em situação de fome.

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