Apelar ao comportamento responsável dos idosos

É um dos desafios da chamada geração “sanduíche”, gente entre os 40 e 50 anos, em tempos de pandemia, e o tema escolhido pela Multicare e por Júlio Machado Vaz para a terceira sessão de Por Falar Nisso.

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D.R.

A ingenuidade dos primeiros anos de vida, principalmente na infância, leva-nos a acreditar que os nossos pais vão ser eternamente jovens e o refúgio face a toda e qualquer intempérie. Mais tarde, já adultos, e principalmente na condição de pais, somos obrigados a redimensionar essa realidade, assumindo, uns mais cedo, outros mais tarde, a responsabilidade e o dever de devolver esse amor, carinho e, claro, protecção.

O assunto é delicado e a tarefa ainda mais complicada em tempos de pandemia, em especial quando as estatísticas são claras e mostram que, segundo dados da Direcção-Geral da Saúde, mais de um terço das vítimas da COVID-19 são idosos. É assim, fundamental, apelar ao comportamento consciente e responsável dessa franja da população que representa cerca de vinte por cento dos portugueses.

E é sobre esse exercício que se centra a terceira sessão de Por Falar Nisso, uma iniciativa conjunta da Multicare e do psiquiatra Júlio Machado Vaz, que, desta vez reflecte sobre as «preocupações mais do que legitimas», que derivam da «teimosia e resistência» dos idosos face aquilo que são as «directrizes indispensáveis» para salvaguardar a vida face à pandemia.

Uma perigosa displicência

Ora, é essa «teimosia e resistência» que representa uma preocupante e crescente ameaça, podendo traduzir-se numa atitude mais displicente, pois é-nos dado a entender que «os idosos têm menos medo do vírus do que os mais novos», refere Júlio Machado Vaz, a propósito das conclusões de uma pesquisa sobre como os portugueses encaram este surto do novo coronavírus.​

Mais do que um mero acto de «pura e simples inconsciência», o psiquiatra aponta, não generalizando, a longevidade, aliada à experiência de vida, como factores que possam, ainda que erradamente, legitimar que os idosos abracem uma «sensação de invulnerabilidade», um «já nada me acontece» ao assumir que «já passaram por isso tudo», o que é «perigosíssimo, em termos de contágio e suas consequências».

Essa atitude é manifestamente oposta daquilo que vive a chamada geração sanduíche, pessoas entre os quarenta e cinquenta anos, “entaladas” entre o apoio a dar a mais novos – os filhos –, e mais velhos – os pais e avós –, e sobrecarregados por várias e justificadas camadas de ansiedade, face a inúmeras indecisões do presente e dúvidas sobre o futuro, e que estendem além deste vírus. São volumes de preocupação que, «muitas vezes», ressalva Júlio Machado Vaz, «para os mais velhos, não existem».

Cuidar de quem se ama

A somar a estas preocupações, está, como já referimos, o facto de que, ao contrário das convicções de alguns, a COVID-19 não atacar todos, seja em termos etários ou sociais, de uma mesma forma.​

A esse propósito, Júlio Machado Vaz, refere o «gradiente social» que caracteriza esta pandemia, uma doença que faz com que os «mais pobres, os que têm menos educação, os que vivem em condições mais desfavorecidas, paguem sempre um preço mais elevado». A culpa, defende o psiquiatra, «é da própria sociedade que faz com que algumas das suas camadas estejam mais desprotegidas».

No caso dos mais velhos, e em relação a uma atitude menos correcta face aos perigos da COVID-19, Júlio Machado Vaz reafirma a importância do tal apelo assertivo à sua consciência, uma pressão positiva para que assumam a responsabilidade de cumprir as directrizes das autoridades e profissionais da saúde, protegendo-se a si e aos que gostam, sendo que a melhor forma de o fazer é «explicar-lhes que, às vezes, se pode compreender que tenham uma certa descontracção, do alto da sua vida já vivida, mas que continuam a ser extraordinariamente importantes», que «ainda são amados (…) e que o amor deles continua a ser necessário». Pois, cuidar é uma das nossas maiores heranças emocionais e afectivas, um gesto de amor, não importa a idade ou conjuntura. 

Na próxima semana não perca mais um episódio do Por Falar Nisso com Júlio Machado Vaz, até lá saiba mais sobre este projecto da Multicare aqui