O turismo judaico como sustentabilidade

O turismo judaico tem as diversas componentes hoje necessárias para uma refundação da oferta turística, especialmente nas zonas do interior, procurado não apenas vender produto, mas captar investimento.

Portugal tem uma recente, mas muito promissora, estratégia de desenvolvimento do turismo religioso. Compreendida a não sazonalidade de parte muito forte deste nicho, assim como das suas apetências, o turismo religioso foi contemplado com a classificação de produto turístico prioritário no Plano Estratégico do Turismo 2013-2015.

Com a criação da Rede de Judiarias de Portugal em 2011, as entidades foram-se apercebendo das características diferenciadoras do turismo judaico, como um dos três sectores de aposta do ramo do turismo religioso (a par dos locais de Culto Mariano e dos Caminhos de Santiago).

Trata-se, no caso do turismo judaico, de um público com um nível cultural acima da média, com interesses culturais que valorizam bastante o nosso património, e com um poder de compra também acima do turista padrão. Assim, trata-se de um turismo não sazonal, com apetência por produtos que acrescentem valias culturais, e com capacidade de aquisição de produtos locais e regionais, mesmo que mais caros que os de circulação mais alargada.

É um turismo especialmente vocacionado para as chamadas zonas de baixa densidade, com potencial de crescimento em zonas onde, assim, o tecido empresarial local e regional pode investir com certo retorno num prazo muito razoável – o número de turistas de Israel cresceu, entre 2006 e 2017, mais de 500%, por exemplo; os espaços museológicos de Belmonte, Trancoso, Castelo de Vide e Tomar dispararam o número de visitantes anuais, ascendendo agora a mais de 150.000, no total.

Tendo noção do crescimento exponencial que este nicho tem tido nos últimos anos, a anterior secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, fez uma série de deslocações a comunidades sefarditas no continente americano, promovendo Portugal como um destino ligado à própria identidade e memória judaica.

De facto, são grandes e muito bem posicionadas, quer social, quer economicamente, as comunidades judaicas em países como os EUA e o Brasil, com significativo número de descendentes dos judeus expulsos e perseguidos nos séculos XV a XVIII em Portugal e Espanha.

De resto, a recente Lei da Nacionalidade, que facilita a adoção da Nacionalidade Portuguesa por parte dos descendentes dos sefarditas de origem portuguesa, veio dar um maior incremento a esta dinâmica, sendo hoje Portugal um país de forte atratividade. Memória e identidade juntam-se, num conjunto feliz, à natureza e à cultura, assim como à paz social e à liberdade religiosa, tornando Portugal um caso único: mais que apenas a busca da nacionalidade, hoje há um largo número de judeus e de descendentes de judeus portugueses que investem em Portugal de forma planeada e com um olhar a longo prazo.

Assim, é da máxima importância o investimento e o reforço neste campo, especialmente num momento em que as retomas pós-covid-19 precisam de ser plurifacetadas e com mais valias claras.

O turismo judaico tem as diversas componentes hoje necessárias para uma refundação da oferta turística, especialmente nas zonas do interior, procurado não apenas vender produto, mas captar investimento.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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