Consulado do Brasil: prioridade de repatriamento são turistas e pessoas vulneráveis

Cônsul-geral adjunto disse ao PÚBLICO que esta semana haverá um novo voo mas não quis adiantar a data para não gerar a corrida ao aeroporto. Não se trata de “passagens grátis” para quem quer voltar, avisou cônsul. Organização Internacional para as Migrações atende “mais gente desesperada”.

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Miguel Manso

Pessoas que vieram do Porto, passageiros com viagem cancelada para o fim do mês, gente com crianças, turistas e imigrantes que dizem ter perdido emprego e casa. No domingo, muitos brasileiros foram ao aeroporto de Lisboa na esperança de entrar no voo de repatriamento da TAP, contratado pela embaixada do Brasil em Lisboa. Muitos ficaram do lado de fora.

Segundo o cônsul-geral adjunto, Eduardo Hosannah, disse ao PÚBLICO, esta semana haverá um novo voo com 300 pessoas, mas não quis adiantar a data para não gerar a corrida ao aeroporto. Desde que as verbas do Governo federal brasileiro foram aprovadas — 10 milhões de euros para todo o mundo, diz  — que a embaixada apoiou 1500 pessoas, em cerca de cinco voos, de regresso ao Brasil a partir de Portugal. A lista ainda terá mais 500 a 700 pessoas mas Eduardo Hosannah não referiu se esse número está fechado ou pode ser alargado. 

Não se trata, porém, de “passagens grátis” para quem quer voltar, avisou. A prioridade são turistas que estavam em Portugal ou na Europa no momento em que fecharam os voos comerciais  — aos quais agora se juntam pessoas que estão em situação vulnerável. Segundo o cônsul, as condições de cada requerente são analisadas, “são pessoas que se inscreveram”. “Estamos a verificar que a população que se inscreve no programa está a mudar e atendemos à parte humanitária”, explica o cônsul. “Mas temos que confirmar que a situação das pessoas é de facto” problemática, acrescentou. Entre este grupo estão grávidas ou pessoas idosas com problemas de saúde. 

O objectivo não é repatriar “a comunidade inteira”, acrescentou. Os brasileiros são a maior comunidade imigrante em Portugal, e subiram 23% no ano passado, atingindo agora os 150 mil. Desde que começou a pandemia que já regressaram ao Brasil cerca de 6 mil turistas, afirma o cônsul. Portugal é também um dos destinos turísticos de eleição dos brasileiros, recebendo uma média de 25 mil por semana, disse. 

Já em Março vários brasileiros que estavam no MS Sovereign, cruzeiro que foi desviado para Cádiz, tinham feito filas e desesperado no aeroporto.

Este domingo o consulado diz que um grupo de pessoas ficou com o objectivo de pressionar a ida, mas não tinha voo marcado. O consulado “providenciou, com verbas próprias ou mediante a cooperação de entidades beneficentes (nomeadamente igrejas próximas à comunidade), alojamento, alimentação e medicamentos para os casos mais urgentes”, refere num comunicado.

Mais gente “desesperada"

Também na Organização Internacional para as Migrações (OIM), que tem um programa de apoio ao retorno, os pedidos de imigrantes têm subido. Aumentaram sobretudo os contactos a pedir informação. Entre Janeiro e agora receberam 293 pedidos de apoio, 92% de cidadãos brasileiros, mais 51 do que no ano passado.

Não há voos comerciais neste momento — é com estes que a OIM trabalha — por isso os “de repatriamento geram grande expectativa”, diz Luís Carrasquinho, ponto focal para o Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração da OIM em Portugal. 

Mas o que notam nos contactos é mais gente “desesperada”. “As pessoas mencionam-no bastante, estão em situações de vulnerabilidade e notamos que há um aumento das situações ligadas ao emprego, dificuldades económicas. Muitas referem alguma ansiedade fruto desta situação.” Quem mais os procura são imigrantes que trabalham em áreas como a construção civil, restauração e trabalho doméstico, afirma. “Os imigrantes que trabalham em áreas mais vulneráveis estão mais expostos”, conclui.

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