Confinamento causou “fricção” na maioria das casas

Seis em cada dez pessoas que coabitam com outras passam “por algumas situações de fricção”, diz estudo da Deco. A maioria dos inquiridos, especialmente as mulheres, afirmam que ficar em casa contribuiu para “mazelas na saúde”.

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O confinamento tem aumentado o número de "situações de fricção" em casa LUSA/ANTóNIO PEDRO SANTOS

Seis em cada dez pessoas que coabitam com outras têm passado “por algumas situações de fricção”, diz um estudo lançado esta segunda-feira pela Deco Proteste. As razões são sobretudo devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem confinados no mesmo espaço o dia inteiro.

Este é um dos resultados do último inquérito realizado pela Deco - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, relacionado com o impacto da pandemia da covid-19 na população.

Sobre as alterações no ambiente em casa, o inquérito, realizado entre os dias 17 e 20 de Abril, revela que 60% dos inquiridos que coabitam com outras pessoas afirmam ter passado “por algumas situações de fricção, sobretudo, devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem no mesmo espaço durante todo o dia”.

“As diferenças de opinião sobre as medidas de prevenção da covid-19 a adoptar são outros rastilhos incendiários” e, nos agregados com crianças, “o acompanhamento escolar é também foco de conflito, segundo 28% dos inquiridos”, indica a Deco.

Por outro lado, 45% dos portugueses que coabitam com outros revelam que as restrições à mobilidade tiveram um impacto positivo no relacionamento familiar, sobretudo em agregados que incluem casais com filhos menores.

“O bom ambiente familiar é útil, mas não elimina as mazelas na saúde provocadas pelo confinamento”, indica a associação, apontado que seis em cada dez inquiridos, com destaque para as mulheres, assinalaram que as restrições à mobilidade prejudicam o seu bem-estar psicológico.

Ter um problema grave de saúde e não ir ao hospital

O medo de contrair covid-19 impediu, por sua vez, que um quarto dos inquiridos que tiveram um problema grave de saúde se deslocasse ao hospital, arriscando-se a que a situação evoluísse sem retorno.

A falta de actividade física e a ingestão de maior quantidade de comida, incluindo snacks doces e salgados, foi referida por 39% dos portugueses inquiridos pela associação de defesa do consumidor.

Seis em cada dez afirmam ir menos vezes ao supermercado pessoalmente, sendo que 49% diz frequentar menos os mercados tradicionais e 44% o comércio local. “Por terem maior disponibilidade ou já fruto da redução dos rendimentos, cerca de um quinto dos inquiridos presta agora mais atenção aos preços dos produtos e um terço afirma aproveitar sobras de refeições anteriores”.

A grande maioria (oito em cada dez) revela não desperdiçar comida, quase o triplo dos que o faziam no início deste ano.

As razões para sair de casa

Apenas 6% dos inquiridos afirmam não ter saído de casa uma única vez na última semana.

Segundo a Deco, “a grande maioria saiu para comprar alimentos, medicamentos ou outros produtos, sendo que quatro em cada dez o fez mais do que uma vez por semana”. Quase metade foi passear ou correr nas redondezas da habitação, conforme previsto nas medidas do estado de emergência, mas 10% saiu da sua área de residência.

“Os prevaricadores são, sobretudo, os mais jovens, entre os 18 e os 30 anos” e são também os que “mais contrariam a regra de evitar os contactos sociais”. Cerca de um quarto dentro desta faixa etária confessou ter saído para se encontrar com familiares ou amigos. Na população em geral, 12% tiveram o mesmo comportamento, segundo o estudo.

“Quem vive sozinho também é mais propenso a quebrar o isolamento, arriscando o contágio”, pelo que a Deco defende que deve ser feita “alguma reflexão numa altura em que se fala em levantar as restrições impostas pelo estado de emergência”.

O inquérito da Deco foi realizado entre 17 e 20 de Abril através de um questionário online, tendo a associação recebido 1008 respostas e segue-se a um outro, publicado em meados de Março, que concluía que o prejuízo total das famílias devido à pandemia rondava naquela altura os 1,4 mil milhões de euros.

O estudo publicado esta segunda-feira pela Deco Proteste revela que quase 60% da população activa está a sofrer redução de rendimentos devido à perda de emprego ou à diminuição do trabalho como consequência da pandemia covid-19.

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