Após comentários de Trump, marcas e especialistas pedem que não se ingira desinfectante

Empresas de produtos químicos estão a apelar aos consumidores para não ingerirem qualquer tipo de desinfectante, alertando que podem ter consequências nefastas para a saúde. Depois da sugestão na noite de quinta-feira, Trump veio esclarecer que os comentários foram “sarcásticos”.

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Trump assegurou que não estava a tentar encorajar os cidadãos norte-americanos a ingerir desinfectante Reuters/Jonathan Ernst

A sugestão de Donald Trump de usar luz ultravioleta “por dentro do corpo” e injecções de lixívia e outros desinfectantes para curar doentes com covid-19 está a gerar uma onda de preocupação não só na comunidade médica e científica internacional, mas também nas empresas que comercializam estes produtos.

Na conferência de imprensa diária na noite desta quinta-feira, o Presidente norte-americano sugeriu ao seu comité de especialistas em saúde pública que investigassem a possibilidade de usar a inserção destes químicos nos pulmões das pessoas infectadas. “E depois vejo que o desinfectante acaba com o vírus num minuto. Um minuto. Há alguma forma de fazermos algo com isso, como injectar para dentro ou fazer uma limpeza?”, sugeriu Trump. “Seria interessante verificar isso”.

No dia seguinte, Trump tentou remediar a situação e disse estar a ser sarcástico quando levantou essa possibilidade. “Estava a fazer uma pergunta sarcástica aos jornalistas para ver o que aconteceria”, disse durante um evento na Casa Branca, assegurando que não estava a tentar encorajar os cidadãos norte-americanos a ingerir desinfectante.

Nas últimas horas, várias empresas do ramo dos produtos químicos vieram reforçar os alertas já deixados por médicos, cientistas e especialista em saúde pública, avisando os consumidores para os perigos de ingerir este tipo de produtos — sem mencionarem, contudo, os comentários de Donald Trump. A Lysol e Dettol, fabricante de desinfectantes dos EUA, emitiu um comunicado a contrariar “recentes especulações” sobre este tipo de “solução” para doentes infectados com o novo coronavírus. 

“Como líderes globais em produtos de saúde e higiene, queremos deixar claro que, sob nenhuma circunstância, os nossos produtos desinfectantes devem ser administrados no corpo humano (por injecção, ingestão ou qualquer outra via)”, disse a empresa Reckitt Benckiser, que também é proprietária dos produtos Vanish e Cillit Bang​, em comunicado. A empresa esclarece que os produtos “desinfectantes e de higiene devem ser usados apenas para os seus efeitos e em conformidade com as directrizes de uso.” “Por favor, leia o rótulo e as informações de segurança”, apelaram.

Outra marca de desinfectante norte-americana, a Zoflora, alertou os consumidores para o facto de que os produtos não são, “de forma alguma, para consumo humano”.

Na conta do Twitter, também a Universidade de Harvard sentiu a necessidade de emitir aconselhamento médico sobre esta questão, fornecendo até uma razão científica para que o ser humano não ingira produtos químicos. “Podem causar danos no fígado, queimaduras graves ou mesmo sangramento no estômago”, lê-se na nota da instituição de ensino norte-americana.

Casa Branca pondera reduzir participação de Trump nas conferências

Este sábado, fontes da Casa Branca e do partido republicano afirmaram à agência Associated Press e ao The New York Times que estão a ser discutidas alternativas ao actual formato das conferências de imprensa diárias sobre a pandemia de covid-19, de forma a reduzir a presença do Presidente norte-americano.

Várias fontes relatam que os conselheiros da Casa Branca têm vindo recomendado que Trump reduza as suas aparições, participando apenas em caso de anúncios mais importantes ou desenvolvimentos positivos da situação da pandemia no país. Nos demais dias, a tarefa poderia ficar a cargo do vice-presidente Mike Pence e representantes das entidades de saúde dos EUA. Actualmente, estes briefings estendem-se por mais de uma hora e são marcados por um ambiente de hostilidade entre Trump e alguns jornalistas, descreve a AP.

Esta sexta-feira, a conferência de imprensa do Governo norte-americano terminou sem que nenhuma figura política ou autoridade da saúde aceitasse responder a questões dos jornalistas presentes na sala. Além disso, e ao contrário do que costuma acontecer, o briefing durou menos de 30 minutos.

Dados de sexta-feira davam conta que os EUA registam mais de 900 mil casos confirmados de infecção com o SARS-CoV-2, com quase 51 mil mortes devido à doença.

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