Luís Pitarma, o enfermeiro “celebridade” que tratou de Boris Johnson: “Gostava que nos encontrássemos outra vez”

O nervosismo foi a primeira reacção de Luís Pitarma, segundo relata, mas as formalidades foram caindo e chegou a conversar algumas vezes com o primeiro-ministro britânico nos três dias em que esteve internado. As chamadas de Marcelo Rebelo Sousa e António Costa foram “surreais”, mas deixaram-no “orgulhoso”: “É óptimo que os enfermeiros aqui tenham mais reconhecimento.”

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Boris Johnson epa/JULIAN SIMMONDS

Faltava pouco tempo para começar o turno da noite quando Luís Pitarma, enfermeiro de 29 anos a trabalhar em Londres, recebeu a notícia: o primeiro-ministro Boris Johnson ia dar entrada nos cuidados intensivos do hospital de St. Thomas e Luís foi o enfermeiro escolhido para tratar dele. Alguns dias depois, havia de se tornar “uma celebridade” em Portugal, como o próprio diz, depois de um agradecimento público por parte Boris Johnson.

“Estava a mudar-me antes do meu turno da noite quando o enfermeiro-chefe me ligou e disse-me que o primeiro-ministro ia entrar nos cuidados intensivos”, recorda o enfermeiro. “Fui o escolhido porque acharam que ia lidar bem com a situação”, relata, citado num comunicado do Serviço Nacional de Saúde britânico.

O nervosismo foi a reacção natural do enfermeiro natural de Aveiro. “Estava nervoso ao início – ele é o primeiro-ministro”, explica. “A responsabilidade que ia ter nas minhas mãos era esmagadora. Nem sabia como me devia dirigir ele – devia chamar-lhe Boris, Sr. Johnson ou primeiro-ministro? O meu chefe deu-me segurança e disse-me para o tratar como a qualquer doente.”

Acabou por tratá-lo por “Boris”, a pedido do mesmo. A quebra de formalidade deu confiança a Luís Pitarma: o primeiro-ministro britânico “queria ser visto como todos os outros”. E foi tratado como todos os outros: “Senti-me um pouco estranho porque nunca tinha tratado de outra pessoa tão importante antes”, mas ele era “um doente como qualquer outro, uma vida como qualquer outra”.

O primeiro-ministro britânico passou três noites na unidade de cuidados intensivos, sob o olhar atento de Luís. De vez em quando conversavam, incluindo sobre o local onde Luís nasceu. “Eu disse-lhe que sonhava trabalhar no St. Thomas desde o meu primeiro dia de estágio em Portugal, em 2009, quando aprendi mais sobre a Florence Nightingale e a sua ligação ao hospital”. Está a trabalhar naquele hospital há quatro anos.

Pouco depois de receber alta do hospital, onde esteve internado uma semana devido a um agravamento dos sintomas, Boris Johnson publicou um vídeo no Twitter a agradecer aos vários profissionais de saúde que lhe salvaram a vida, com uma palavra especial para o português“E espero que não se importem se eu mencionar em particular dois enfermeiros que ficaram ao meu lado durante 48 horas quando as coisas poderiam ter dado para o torto. São a Jenny da Nova Zelândia, Invercargill, na Ilha Sul, para ser exacto, e Luís, de Portugal, perto do Porto”, disse o chefe do governo.

Sobre o agradecimento personalizado que ele e Jenny McGee, enfermeira neozelandesa, receberam na Páscoa, da parte de Boris Johnson, Luís Pitarma diz-se “extremamente orgulhoso” porque “alguém como ele reconheceu a qualidade do meu trabalho”.

“A mensagem do primeiro-ministro veio mesmo do coração. Foi a mensagem mais honesta que já vi”, acrescentando que ficou emocionado. “Gostava que nos encontrássemos outra vez, quando ele estiver completamente recuperado”

Sobre as chamadas de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa (que aconteceram com poucas horas de diferença), a agradecer o empenho dos profissionais de saúde no estrangeiro, disse ter sido uma experiência “surreal”, mas ficou “muito orgulhoso” de ter recebido as chamadas: “Aparentemente sou uma celebridade em Portugal agora. É óptimo que os enfermeiros aqui tenham mais reconhecimento.”

Natural de Aveiro, Luís Pitarma, 29 anos, formou-se na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, tendo realizado um ano de Erasmus na universidade de Lathi, na Finlândia. 

Em 2014, começou a trabalhar em Londres, onde passou por quatro unidades de saúde antes de ser recrutado para o grupo hospitalar de Guy e St. Thomas, onde é enfermeiro especializado em cuidados intensivos, em particular ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal), segundo informação do próprio nas redes sociais.

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