Covid-19: Persistem falhas nas medidas de contenção no Lar do Comércio em Matosinhos

Auditoria ao lar durou sete horas e foi realizada pela câmara, Segurança Social e Autoridade de Saúde local. Há falhas na separação de doentes e infectados, na gestão de equipamentos de protecção e os serviços partilhados e falta de trabalhadores.

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PAULO PIMENTA

No Lar Comércio, em Matosinhos, onde há pelo menos três mortes confirmadas por covid-19, persistem as falhas detectadas em vistorias anteriores, nomeadamente no respeita à segregação dos utentes, afirmou hoje o vereador da Protecção Civil municipal. José Pedro Rodrigues falava à Lusa no final da vistoria tripartida realizada hoje à instituição, que contabiliza seis mortes, três por covid-19, e pelo menos 21 utentes infectados.

“Sem me antecipar a qualquer relatório, que é da responsabilidade da Saúde Pública, mas ficou evidente nesta vistoria tripartida entre a câmara, a Unidade de Saúde Pública e a Segurança Social, que há diversas matérias que ainda persistem. Persistem dificuldades, problemas e incumprimentos”, afirmou o vereador.

José Pedro Rodrigues adiantou que na sequência da vistoria de seguimento, que começou às 10h00 e terminou já depois das 17h00, foi identificado um conjunto de matérias que carecem de resposta por parte da instituição, tais como a segregação de doentes e de utentes que estão negativos, aspectos da organização interna de serviços partilhados, de gestão de equipamentos de protecção individual e problemas de escassez de trabalhadores.

“Estamos num momento em que não se pode perder tempo na aplicação de medidas fundamentais e foi sublinhado hoje, junto da instituição, que não pode haver tempo perdido. Estas determinações são relativamente simples, práticas, mas que fazem a diferença no dia-a-dia da instituição se forem implementadas”, disse.

O vereador salientou que a ausência de determinadas respostas, nestas últimas semanas, levou à situação em que o lar hoje se encontra, pelo que estas medidas têm de ser implementadas “imediatamente” para travar o contágio. José Pedro Rodrigues referiu, no entanto, que não foi feito um ultimato à associação. A "evolução dos acontecimentos” vai ser avaliada diariamente, sendo as decisões tomadas com base nessa avaliação.

A transferência de utentes só será considerada em último caso. “Esta questão não foi colocada neste momento. Estamos a criar as respostas necessárias para apoiar a resposta fundamental que tem de ser dada pela instituição. Esta instituição é a que mais idosos alberga no concelho de Matosinhos e é inconcebível para nós que não tenha capacidade de gerar ou de encontrar os recursos necessários para prestar os cuidados devidos à população que tem à sua responsabilidade”, salientou.

O responsável admitiu, contudo, recear que, face à evolução do problema, o número de mortos e de infectados cresça nas próximas horas, e sublinhou que “as respostas que eram urgentes na semana passada e que a instituição tinha obrigação de implementar” têm hoje “um peso mais significativo”.

José Pedro Rodrigues considera mesmo que não há razão para que o Lar do Comércio não siga as recomendações das autoridades de saúde para conter esta propagação, salientando que as três vistorias realizadas à instituição detalharam de forma prática e rigorosa os procedimentos a corrigir.

Em comunicado, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte informou hoje que no âmbito da vistoria realizada para avaliar se foram cumpridas as correcções anteriormente determinadas, foram determinadas novas medidas correctivas.

Já o Lar do Comércio, numa nota enviada à Lusa, lamentou a morte de mais um utente, durante a madrugada, acrescentando que a situação continua a agudizar-se com o aumento do número de casos positivos e com a falta, sobretudo, de enfermeiros - uns porque estão infectados, outros porque, “alegadamente se recusam a vir trabalhar por medo ou por se encontrarem em burnout”.

Sobre a vistoria às instalações da instituição, o lar não adiantou quais as medidas correctivas determinadas pelas autoridades de saúde, acrescentando apenas que perante a falta de soluções urgentes, as representantes da Segurança Social se comprometeram a tentar ajudar na angariação de enfermeiros.

A região Norte é a que regista o maior número de mortos (475, de um total nacional de 820). O concelho de Lisboa é o que regista o maior número de casos de infecção pelo coronavírus (1266, do total de 22.353), seguido de Vila Nova de Gaia (1161), Porto (1099), Braga (950), Matosinhos (929), Gondomar (894), Maia (763), Valongo (655), Ovar (532), Sintra (514) e Coimbra, com 367 casos.

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