A determinação dos professores

Se há algo que esta pandemia nos mostrou, é a forma como a sociedade civil portuguesa rapidamente se mobilizou para atenuar os efeitos directos e indirectos da situação social em que nos vimos sujeitos. Para além do trabalho incansável dos profissionais da primeira linha no combate à pandemia, é também justo destacar os professores, que prontamente se adaptaram a todas as mudanças que surgiram.

Todos nós tivemos professores que nos marcaram durante o nosso percurso escolar. Em particular, os que o fizeram pela positiva. No meu caso, como de muitos outros, foi a minha professora primária (1.º ciclo), a Professora Dária. Apesar de usar metodologias próprias de outros tempos, era evidente em cada aula o cuidado que tinha em transmitir conhecimento e saber sobre todas as matérias. Mais do que tudo, tinha a preocupação que os alunos aprendessem e adquirissem os conhecimentos e as competências necessárias em cada área que leccionava. Era a sua missão.

E, desde que foi decretado o fecho de todas as escolas em Portugal, é o espírito de missão que observava na minha professora, que se tem visto na generalidade de todo os professores um pouco por todo o país. Não que esse espírito estivesse ausente da generalidade dos professores, mas muitas vezes era invisível e desacreditado por parte da opinião pública. Apesar de não estarem na primeira linha de combate ao vírus, o apoio que, na retaguarda, os professores têm dado às famílias e aos seus filhos, tem sido essencial para que, dentro do possível, se possa garantir com o ensino à distância a tranquilidade e normalidade do dia-a-dia dos portugueses.

É de louvar, como desde o início da pandemia, que os professores se disponibilizaram a apoiar e a garantir o ensino a todos os alunos neste período, sem quererem esconder as suas vulnerabilidades em desculpas e lamentações, ou se refugiarem em limitações técnicas ou tecnológicas. De uma forma, até por vezes ingénua e sem preparação, não se preocuparam com julgamentos precipitados de outros, e saltaram para a frente dos seus computadores. Muitos, sem qualquer competência ou formação em ensino à distância, num ambiente digital em que são os próprios alunos os que se sentem mais à vontade.

Sem que ninguém lhes dissesse nem como, nem de que forma, prontamente começaram a tentar passar os conhecimentos aos seus alunos através dos meios que tinham à disposição. Esta atitude foi, em diferentes escalas, transversal a todos os graus de ensino, desde o pré-escolar ao ensino superior. Inclusivamente muitos docentes viram as suas aulas invadidas por “piratas” informáticos, com o objectivo de ridicularizar e destabilizar as aulas online, sem que isso os fizesse desmotivar ou desistir da sua tarefa de ensinar.

Para percebermos o grau de compromisso que os docentes têm revelado com a sua profissão, basta ver o exemplo do grupo de professores do projecto #EstudoEmCasa. Em poucas semanas passaram de uma sala de aula com 20 a 30 alunos, para leccionarem em frente a uma equipa de produção e de técnicos, num ambiente de câmaras, microfones e holofotes. Sem dominarem a linguagem televisiva, sem poderem ver os alunos e as suas reacções. Numa forma de comunicar para a qual nunca se prepararam nas suas carreiras enquanto docentes.

A atitude e a coragem destes professores, expondo as suas competências e capacidades para centenas de milhares de pessoas, em gravações sem repetições nem qualquer tipo de edição, discutindo a liderança de audiências com estrelas do “day time” televisivo, mostra uma vez mais a capacidade de adaptação dos professores portugueses, bem como a sua abnegação na sua nobre missão de ensinar.

Chega a ser emocionante a forma determinada como estes professores, com o nervosismo natural decorrente da circunstância, se colocam em frente de uma câmara, sujeitos à crítica fácil e impiedosa nas redes sociais, onde são desconsiderados por qualquer palavra ou interjeição um pouco mais descontextualizada.

Se nos podemos orgulhar da qualidade e da excelência dos profissionais, que existem nas diferentes áreas em Portugal e um pouco por todo o mundo, muito é devido à qualidade do ensino em Portugal. Longe de ser perfeito, e com vários problemas conhecidos, o Ensino e a Formação têm sido um dos factores fundamentais para o crescimento do nosso país bem com para a mobilidade social que se tem assistido nas últimas décadas.

Como diria a minha Professora Dária, “depressa e bem, não há quem”. No entanto, neste caso é mais do que legítimo dizer que isso foi possível com o #EstudoEmCasa. Os professores demonstraram uma atitude exemplar e determinada perante a sociedade, conseguindo num curto espaço de tempo desenvolver uma telescola com conteúdos de qualidade, que complementam eficazmente o ensino à distância feito diariamente por milhares de professores por todo o país.

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