Dono de hostel na Morais Soares: “Não é a miséria que estão a dizer”

Sócio do estabelecimento diz que “foi o Conselho Português para os Refugiados” a contactá-lo e vai mostrar todos os documentos.

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O hostel foi evacuado no domingo e revelou-se depois que 138 hóspedes estavam infectados com o novo coronavírus LUSA/TIAGO PETINGA

Um dos donos do hostel de Lisboa que foi evacuado no domingo diz que as condições do estabelecimento não são tão más quanto se tem dito e promete mostrar todos os documentos sobre o acolhimento de refugiados em breve.

“Não é um hotel de cinco estrelas, mas também não é essa miséria como estão para aí a dizer”, assegura Dolorito Borges, um dos sócios do hostel Aykibom, onde desde Outubro estavam alojados cerca de 170 requerentes de asilo. Várias entidades, como a Câmara de Lisboa e a junta de Arroios, manifestaram-se surpreendidas com a situação e criticaram as condições em que as pessoas viviam. Ao PÚBLICO, o empresário garante que “foi o Conselho Português para os Refugiados (CPR)” a contactá-lo e defende-se: “Temos um negócio, recebemos uma proposta e aceitámos.”

Apesar de ter capacidade oficial para 210 pessoas, o estabelecimento “nunca teve essa quantidade de refugiados”, assevera Borges, mas alguns equipamentos foram-se degradando devido a uma utilização intensiva e, por vezes, desadequada. Afirma, ainda assim, que tudo está dentro da legalidade e que mesmo os problemas identificados em duas vistorias da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), em 2018, foram rapidamente resolvidos.

O sócio, que para já prefere não se alongar em comentários, diz que nos próximos dias vai mostrar à comunicação social os contratos com o CPR, as vistorias da ASAE e outros documentos sobre o hostel. A directora do CPR, Mónica Farinha, disse esta quarta-feira ao PÚBLICO que as condições onde as pessoas estão alojadas “não são as ideais, mas não são desumanas” e que procurou os melhores locais e mais adequados”.

O único morador permanente do prédio em que está o estabelecimento hoteleiro comenta, por seu turno, que os problemas de salubridade e segurança no imóvel já se arrastam há muito tempo. “Isto começou a abandalhar, não havia ninguém que tomasse conta das coisas”, relata. Para este residente, que habita com uma mãe idosa e a filha criança, “a culpa maior é do Estado” por “abandonar aqui as pessoas”.

Além de requerentes de asilo, este vizinho garante que o prédio tem sido alojamento provisório para pessoas sem-abrigo na última década, embora não com a actual gerência do hostel, e que as condições físicas das casas se têm deteriorado continuamente. “A minha mãe dá aulas de piano e há mais de um ano que não consegue porque as pessoas têm medo de entrar cá dentro”, acrescenta.

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