Mercados avisam que acordo do Eurogrupo pode não chegar

Taxas de juro da dívida pública voltaram a subir, aproximando-se dos valores que tinham forçado o BCE a anunciar novas compras de dívida de 750 mil milhões de euros

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LUSA/OLIVIER HOSLET

Nos dias que antecedem o encontro em que os líderes europeus vão discutir a resposta à crise, os investidores que compram e vendem títulos de dívida pública nos mercados internacionais parecem estar a querer passar uma mensagem: aquilo que foi até agora aprovado pelo Eurogrupo, o pacote de mais de 500 mil milhões de euros, mesmo conjugado com uma intervenção agressiva do Banco Central Europeu, pode não chegar para colocar os países do Sul da Europa a salvo de um agravamento das suas condições de acesso aos mercados.

As taxas de juro da dívida pública dos chamados “países periféricos” da zona euro, incluindo Portugal, têm vindo a registar nos últimos dias uma subida nos mercados obrigacionistas, colocando o seu valor a níveis já muito próximos dos atingidos a 18 de Março, o dia em que o BCE se viu forçado a anunciar um reforço de 750 mil milhões de euros no volume de dívida pública que está disposto a adquirir até ao final deste ano.

Nesse dia, com o anúncio da entidade liderada por Christine Lagarde, as taxas de juro começaram a descer, movimento que se acentuou quando, no dia 25, o banco central revelou que não iria aplicar nestas novas compras de dívida os limites que tinha imposto a si próprio na quantidade de dívida que pode deter de cada país.

Mais tarde, no dia 9 de Abril, num reforço da resposta europeia, o Eurogrupo, liderado por Mário Centeno, aprovou um pacote de apoios aos países com um valor total de 540 mil milhões de euros, com destaque para a abertura de uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) num valor equivalente a 2% do PIB de cada país.

No entanto, desde o final da semana passada, o ambiente sereno no mercado da dívida começou outra vez a esfumar-se. Nesta terça-feira, as taxas de juro a dez anos da dívida portuguesa subiram para 1,182%.

Este valor é quase o dobro do registado no final do mês de Março, quando os mercados estavam animados com as medidas anunciadas pelo BCE, e começa a aproximar-se dos 1,403% que se registavam a 18 de Março, o dia em que banco central tomou a decisão de comprar mais dívida.

Os aumentos de taxas são ainda mais preocupantes no que diz respeito à Itália. A taxa de juro da dívida a dez anos voltou a ultrapassar nesta terça-feira a barreira dos 2%, existindo alguma perplexidade nos mercados pelo facto de o BCE não estar, para já, a conseguir evitar com as suas intervenções nos mercados esta nova subida dos juros da dívida.

Aparentemente, os investidores, alarmados com as previsões de aumento da dívida pública de vários países (o FMI prevê que a dívida italiana ultrapasse os 150% do PIB este ano), não vêem nas medidas para já tomadas uma solução completa para as dificuldades que vários governos vão ter em obter o financiamento de que precisam.

E vão estar particularmente atentos ao que irá ser decidido pelos líderes europeus na quinta-feira no que diz respeito ao plano de recuperação da economia. Um sinal de grande divergência entre as capitais, que torne menos provável a existência de um apoio significativo às economias sem sobrecarregar os compromissos futuros dos países mais endividados, pode conduzir a novas subidas de taxas, testando a capacidade do BCE para fazer face a uma nova crise nos mercados.

Nesta quarta-feira, o Tesouro português irá realizar duas emissões de dívida pública, uma de 750 milhões de euros a seis anos e uma de mil milhões de euros a dez anos.

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