Menos deslocações e desperdício, mais educação e teletrabalho: a receita da Zero para os dias que aí vêm

No Dia da Terra a associação ambientalista lança o documento O Nosso Futuro Comum, com um conjunto de acções que considera essenciais para a construção de um futuro mais sustentável.

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Agricultura mais sustentável e diversificada Andreia Gomes Carvalho

Muitos não se cansam de alertar: as mudanças que a crise sanitária trouxe ao modo de vida de milhões de pessoas em todo o mundo devem ser aproveitadas para repensarmos uma nova forma de nos relacionarmos com o planeta e de retomarmos a esperada normalidade com novas soluções sócio-económicas, mais sustentáveis e amigas do ambiente. No Dia da Terra, a Zero quis fazer mais do que repetir essa recomendação e divulga um documento com as directrizes que considera essenciais para essa mudança. Mais digitalização e menos deslocações, cadeias de consumo mais curtas e mais presença do tema “sustentabilidade” no sistema educativo são algumas das ideias deixadas.

Milão, na região da Lombardia italiana, a mais afectada no país pela covid-19, acabou de anunciar um plano para redefinir o uso de várias ruas da cidade, alargando o espaço para o uso de pedestres e ciclistas, na expectativa de manter o tráfego automóvel em valores bem abaixo dos pré-pandemia. Nestas semanas, houve uma quebra de 30 a 75% desse tráfego, com a consequente quebra da poluição do ar, e os responsáveis pela cidade não querem que tudo volte ao que era antes, diz o britânico The Guardian. Por cá, também o Ministério do Ambiente e da Acção Climática avançou com um conjunto de projectos que deverão ajudar o país a caminhar para uma economia mais sustentável e justa, mas a Zero quer mais.

Num documento com o título O Nosso Futuro Comum, a associação ambientalista deixa um conjunto de orientações que, segundo defende, potenciam “uma nova realidade que nos proteja de crises futuras”. E à cabeça, diz, tem de estar “uma estratégia concertada, coesa e coerente rumo à sustentabilidade”, cujas linhas e meta gerais já estão definidos no Pacto Ecológico Europeu. Depois, é intervir em diferentes sectores essenciais.

A Zero destaca sete em que a intervenção pode levar às mudanças que deseja - turismo, aviação, energia, mobilidade e transportes, resíduos, agricultura e educação. E, se no primeiro caso, o que se recomenda é que se pense numa estratégia mais voltada para a proximidade, com recurso a produtores nacionais e com menos desperdício, no caso da aviação a mensagem é clara: o fim da pandemia não pode significar o regresso do business as usual e os apoios de que o sector vai precisar terão de ser acompanhados de “contrapartidas obrigatórias”, que passam, entre outros aspectos, por “um esforço de redução (e não apenas de compensação) de emissões de carbono”.

No campo da energia, a Zero defende a continuação do investimento nas renováveis, mas a prioridade é mesmo que exista “um forte investimento na redução da pobreza energética”, área em que, como é sabido, há muito a fazer no país. No que se refere ao investimento, a associação defende claramente que ele deve ser canalizado “para as áreas que tragam as mudanças pretendidas” e isso passa por incentivos às empresas que apostem no teletrabalho ou no alargar da rede ferroviária e nos apoios aos veículos eléctricos - medidas incorporadas na área da mobilidade e transportes. 

A redução de resíduos e a taxação sobre os mais poluentes ou os meios menos eficientes de os gerir (são propostas taxas sobre embalagens e todos os sacos não reutilizáveis a longo prazo, além do aumento da taxa de gestão de resíduos para quem opta pela colocação em aterro ou a incineração) são aspectos considerados essenciais pela Zero, que espera que vejamos também grandes mudanças na área da agricultura.

Aqui, a associação introduz o conceito de “soberania alimentar”, para defender que a agricultura nacional tem de ser mais diversificada, para ser capaz de dar resposta às necessidades do país, e apostar em cadeias curtas de produção que, associadas a um “forte investimento na conservação da natureza” e dos ecossistemas, poderá, entre outros aspectos, tornar “o país mais resistente ao flagelo dos incêndios” e dar alternativas de rendimento a famílias e empresas “localizadas nas regiões mais desfavorecidas”.

Por fim, a Zero pede mais educação para a sustentabilidade, incluindo nas universidades, que devem tornar o tema como algo transversal aos seus currículos. 

Neste Dia da Terra, a associação defende ainda que as contrapartidas aplicadas aos sectores que venham a ser apoiados devem ser usadas “preferencialmente nas questões de saúde” e quer que a sustentabilidade passe a ser avaliada por um indicador diferente do produto interno bruto (PIB), que considera “muito enganador” e incapaz de reflectir “a mudança necessária do enfoque na questão financeira estrita, para o bem-estar das pessoas e o respeito pelos limites do planeta”.

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