Covid-19: terapia de família ao jantar é a forma da família Yü Belo lutar contra o caos das aulas virtuais

Conciliar os horários de quatro filhos em ensino à distância com o teletrabalho dos pais não é tarefa fácil. Para manter a harmonia em casa, a família Yü Belo aproveita a hora de jantar para comunicar.

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Com toda a família a trabalhar a partir de casa, gerir horários pode ser um desafio LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Conseguir quatro computadores para os quatro filhos, ter êxito no envio das fichas online e lidar com as plataformas digitais desde o Zoom ao Google Classroom são alguns desafios que a família Yü Belo, no Porto, enfrentou esta segunda-feira no arranque da escola à distância por causa da covid-19.

O pai Rui, engenheiro electrotécnico em teletrabalho, interrompe “400 vezes o trabalho” para gerir os problemas logísticos relacionados com os computadores (PC) dos seus quatro filhotes.

Um dos PC estava “encostado” na empresa e foi recuperado para as aulas à distância dos miúdos, explica à Lusa a mãe, Bárbara Yü Belo, 44 anos, com origens asiáticas, porque a avó “era made in Taiwan”.

Passwords que não se sabem, fichas online que não se conseguem enviar para os professores, respostas nas fichas que não estão disponíveis para seleccionar e ajudar o filho mais novo, Pedro, de oito anos, no 3.º ano, a lidar com quatro ferramentas digitais diferentes”, são só alguns dos problemas com que a família Yü Belo se está a debater.

Aceder à telescola está praticamente fora de questão, porque a “televisão está na sala onde decorrem as aulas virtuais de bateria digital do André, 14 anos, que está no 9.º ano do ensino articulado, e as aulas de ballet do Vasco, 16 anos, e da Marta, 12 anos”, explica Bárbara, que tenta conciliar o seu teletrabalho na área do planeamento familiar natural (fertilidade), com os horários dos filhos.

“Estou a levantar-me às seis da manhã para despachar algum trabalho e para depois entregar o computador ao André que arranca às 08h20 com aulas escolares virtuais da Escola Fontes Pereira de Melo, depois tem aulas de coro e formação musical da Escola de Música do Porto Silva Monteiro”, relata.

Bárbara, que esteve recentemente internada numa ala de covid-19 num hospital do Porto, por causa de uma infecção no coração e pulmões que está a tratar com imunossupressores, considera que este primeiro dia até está a correr de forma “bastante tranquila”, porque o caos foi sentido na semana passada.

“A semana passada foi decisiva para que esta semana corra melhor, porque foi o caos na semana passada”, revela, recordando os logins que não funcionavam e as câmaras dos computadores estragadas.

Entre a leitura d'Os Maias, de Eça de Queirós, e uma aula de ballet na barra, Vasco conta à Lusa que o “mais difícil” da escola virtual é conciliar as aulas escolares e aulas de dança e ainda ter de dividir a barra para os exercícios de ballet com a irmã Marta, 12 anos, a criativa da família que tem recorrido à tábua de ferro em substituição da barra.

“Já quase andámos à batatada por causa da barra”, comenta, referindo que outra das dificuldades são os horários.

“Custou adaptar-me novamente a ter aulas desde as 8h20. Tive de começar a levantar-me mais cedo, porque estava a levantar-me às 10h00”, relata Vasco.

André também admitiu à Lusa que foi “complicado, no início, a utilização das aplicações” e a organização das aulas escolares, tarefas e as aulas em videochamada de 45 minutos com o professor de bateria.

O amante de vários estilos musicais, desde hip-hop ao jazz, punk e rock, confessa que nestes dias, fechado em casa, o que o ajuda a compensar o isolamento e a ansiedade do confinamento é tocar bateria, principalmente rock. “Nestes tempos de pandemia estou a gostar mais de tocar música rock, porque preciso de meter cá para fora a energia”, assume este fã dos Nirvana.

Para manter a moral positiva, a família Yü Belo privilegia o diálogo à hora de jantar. Na noite de domingo, antes do início das aulas virtuais desta segunda-feira, o clã fez uma espécie de terapia de grupo para falar dos problemas sentidos por cada elemento da família e tentar arranjar soluções todos juntos, unidos.

“Ainda não tivemos a letargia de não tirar o pijama, mas já houve momentos de ansiedade, de não estar com os amigos, o André tem diabetes e já houve descargas de ansiedade. Não é fácil gerir relações de namoro à distância. Vamos conversando muito para gerir. Preservamos muito a comunicação aberta. Podemos contar uns com os outros”, assegura Bárbara, depois de mais de duas semanas internada, e que admitiu que lhe sucedeu um “milagre” quando teve alta no domingo de Páscoa.

“Foi no domingo de Páscoa que soube que não era covid-19 e achei que tinha sido um pequeno milagre, porque tive sempre energia positiva. Fui-me abaixo, permiti-me chorar duas piscinas olímpicas e depois regressei das cinzas”, descreve, afirmando que ao seu lado teve sempre “um pai herói”, “um superpai”.

Para Bárbara, o marido foi o “cuidador mor” da família, a “pessoa que segurou as pontas de tudo”. Foi o seu “porto seguro”, confessa.

Portugal encerrou as aulas presencias na escola a 13 de Março por causa da covid-19 e o país está a cumprir o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de Março. Em Portugal já morreram 735 pessoas há registo de 20.863 pessoas infectadas, de acordo com a Direcção-Geral da Saúde.

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