Coronavírus força Netanyahu e Gantz a assinar acordo de coligação

Entendimento põe fim a 17 meses de indefinição política em Israel. O Governo terá poderes de emergência para lidar com a crise do coronavírus e será chefiado de forma rotativa pelos dois políticos.

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Benny Gantz e Benjamin Netanyahu vão liderar o Governo israelita Reuters/AMIR COHEN

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro em exercício em Israel, e o líder do partido Azul e Branco, Benny Gantz, assinaram nesta segunda-feira um acordo para formar um Governo de coligação de emergência devido à propagação do novo coronavírus. O acordo põe um ponto final num período de 17 meses, com três eleições pelo meio, em que a política israelita esteve em clima de crise permanente, sem Governo e com o primeiro-ministro interino envolvido nas malhas da justiça.

O Governo será chefiado de forma rotativa entre Netanyahu e Gantz. Uma das exigências do líder da oposição era ser o primeiro chefe do Executivo, mas será Netanyahu a manter-se no cargo que desempenha há uma década durante os próximos 18 meses.

“Evitámos umas quartas eleições. Iremos proteger a democracia”, afirmou Gantz, através do Twitter, assim que o acordo foi anunciado. Já Netanyahu publicou apenas uma imagem da bandeira israelita.

É o culminar de um longo processo negocial e de três eleições legislativas no período de pouco mais de um ano em que o Likud, de Netanyahu, e o Azul e Branco terminaram virtualmente empatados. As conversações estiveram bloqueadas por causa das divergências em relação ao mecanismo de nomeação dos juízes, uma matéria particularmente sensível para Netanyahu que responde por três processos de corrupção. A possibilidade de que o Supremo Tribunal possa vir a decretar o afastamento de Netanyahu do cargo também preocupou o Likud, que receava que Gantz assumisse a chefia do Governo. Segundo o Israel Times, Gantz concordou que, nessa eventualidade, serão marcadas novas eleições.

A pressão para que Gantz aceitasse integrar um Governo de coligação com poderes de emergência vinha até do Presidente, Reuven Rivlin, que tinha encarregado o Parlamento de procurar uma coligação. Caso o período de 21 dias iniciado na semana passada terminasse sem que fosse fechado um acordo, Israel voltaria a ter eleições legislativas.

No entanto, Gantz também se viu confrontado com a erosão do apoio dentro do próprio partido, que encarou como uma quebra das promessas de campanha a aproximação a Netanyahu, acusado de corrupção em três processos judiciais. Durante as campanhas eleitorais, Gantz tinha prometido não entrar em Governos com políticos acusados de crimes e fez da luta contra a corrupção uma das principais bandeiras.

A propagação do coronavírus em Israel – onde, de acordo com os últimos dados, há 13.654 infectados e 173 mortos – veio mudar o cenário político. Netanyahu, que sofria uma forte reprovação por causa do envolvimento nos casos de corrupção, viu a sua popularidade aumentar por estar à frente do país numa altura de crise. Mas foi também criticado por algumas das medidas que começou por implementar, como a suspensão da actividade do Parlamento e a utilização dos dados de geolocalização dos cidadãos para seguir os movimentos de pessoas suspeitas de estarem infectadas ou de terem tido contacto com doentes que contraíram a covid-19.

No domingo à noite, cerca de duas mil pessoas concentraram-se na Praça Rabin, em Telavive, num protesto contra as medidas tomadas pelo Governo interino que consideram antidemocráticas.

O grande desafio para o novo Governo israelita começa desde logo pela dúvida sobre se Netanyahu e Gantz irão conseguir superar a desconfiança que nutrem entre si de forma a poderem trabalhar em conjunto. 

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