Barril de petróleo passa pela primeira vez para valores negativos

Petróleo medido pelo WTI na praça de Nova Iorque valia 12 dólares ao início da tarde. Há uma hora, esse valor daria para comprar 12 barris. Agora, pela primeira vez na história do WTI, negoceia em terreno negativo.

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O petróleo West Texas Intermediate (WTI), medido pela negociação de contratos de entrega futura (em Maio), seguia a -37,63 dólares por barril à 20h00 (de Lisboa) desta segunda-feira, resultado de uma queda de 305,9%. Já chegou a tocar nos -40,32 dólares neste início de noite. É a primeira vez, desde que o contrato de entrega futura WTI foi criado, em 1983, que o preço atinge um valor negativo.

Ainda há quatro horas e meia, a desvalorização era de 36,7%, nos 11,55 dólares na praça de Nova Iorque, atingindo níveis que já não se viam desde 1999. Há uma hora, o preço tinha descido a menos de 1 dólar por barril.

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O Financial Times explica que parte da queda tão abrupta dos preços do WTI desta tarde prende-se com aspectos técnicos, também decorrentes do excesso de stocks no mercado norte-americano, a braços com uma crise económica que levou à inscrição de 22 milhões de novos desempregados num mês. O que está em causa são contratos de entrega futura de petróleo, com data de Maio, cuja negociação expira amanhã, terça-feira – com a diminuição da procura em cima de um prazo tão curto, o preço só tem uma direcção, que é a da descida a pique.

Os contratos futuros de WTI com entrega em Junho, por exemplo, estão também em queda, mas bastante mais reduzida: de 10%, para 22,62 dólares por barril.

Em Londres, os contratos futuros de Brent, com entrega em Junho, referência para a economia portuguesa, estavam com uma queda bem mais suave, na casa dos 7,83%, para 25,88 dólares por barril.

Com origem no Mar do Norte, o Brent é facilmente transportável em navios-tanque para onde haja procura. As reservas de petróleo norte-americano, contudo, deparam-se com falta de capacidade de armazenamento dado a ausência de escoamento das reservas, nomeadamente no ponto de entrega mais solicitado, de Cushing, no estado de Oklahoma, cujos tanques irão ficar cheios em breve. 

Apesar da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus principais aliados, como a Rússia, terem acordado na passada semana um corte nunca visto na produção mundial, de 9,7 milhões de barris por dia, a medida não foi suficiente para travar a queda da matéria-prima nos mercados internacionais.

Além do Fundo Monetário Internacional ter estimado que haja uma contracção da economia mundial de 3% em 2020, pior do que a de 0,1% no pico da crise financeira de 2009, a Agência Internacional de Energia (IEA na sigla inglesa) já veio confirmar um cenário mais adverso para o sector.

Citada pelo Financial Times, a Agência prevê que a procura de petróleo registe um decréscimo de 9,3 milhões de barris por dia em 2020, por comparação com 2019, mesmo que os confinamentos nacionais sejam levantados e as viagens voltem a ser permitidas normalmente.

Só em Abril, explica a autoridade energética, a procura pode recuar em 29 milhões de barris por dia – quase um terço da procura anterior à crise, de cerca de 100 milhões de barris por dia.

Não há nenhum acordo possível “que possa cortar a oferta na proporção que compense estas perdas da procura no curto prazo”, explicou a IEA citada pelo FT, ainda que os mais recentes acordos obtidos em seio da OPEP+ possam vir a reduzir o impacto no segundo semestre do ano, acrescentou.

Actualizado com preços às 20h26 de Lisboa

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