Covid-19: Os quatro líderes mundiais que resistem a reconhecer a gravidade do coronavírus

Os Presidentes do Brasil, Nicarágua, Bielorrúsia e Turquemenistão formam uma “aliança da avestruz”. Recusam-se a decretar medidas de isolamento social e defendem soluções de eficácia duvidosa.

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Líderes autocráticos permitem-se não proteger os cidadaos dos seus países Reuters/LUISA GONZALEZ

Não ouvem nada nem ninguém e preferem agir no sentido oposto ao do resto do mundo, recusando decretar medidas de isolamento social. Os presidentes do Brasil, Nicarágua, Bielorrússia e Turquemenistão têm desvalorizado a pandemia de covid-19, formando aquilo que o analista político brasileiro Oliver Stuenkel chama “uma aliança da avestruz”.

Propõem soluções duvidosas. Para um, o vírus não resistirá à vodka. Outro jura pelo antimalárico coloroquina. Outro por uma erva aromática. O que é comum a todos, sublinha o Financial Times, é estarem a escolher a economia em detrimento da saúde. 

Jair Bolsonaro diz que o vírus é um “resfriadinho"

Não tem perdido uma oportunidade para dizer aos brasileiros que o novo coronavírus só provoca um mero “resfriadinho”, uma “gripezinha” e não passa de uma “histeria” colectiva. O Presidente brasileiro tem recusado as orientações da Organização Mundial de Saúde e demitiu nesta semana o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a meio da crise pandémica. 

Jair Bolsonaro tem saído do Palácio do Planalto para visitar bairros apertar mãos e beijar crianças, criando grandes aglomerações à sua volta. Diz que é demasiado saudável para ser infectado. E se alguém ficar doente, o Presidente, imitando o seu herói Donald Trump, tem a solução: cloroquina, um medicamento usado para a malária e doenças auto-imunes, e uma das drogas que é usada experimentalmente para tratar a covid-19, ainda que não haja grandes provas de que faça a diferença, mas que pode ter efeitos secundários graves. 

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Bolsonaro trocou de ministro da Saúde a meio da crise pandémica

Bolsonaro tem optado pela saúde da economia em detrimento da saúde dos brasileiros, defendendo a reabertura dos estabelecimentos comerciais. A estratégia fê-lo entrar em choque com membros do seu executivo, com governadores e até com o Supremo Tribunal Federal

Daniel Ortega é um Presidente desaparecido

Em plena crise pandémica, os nicaraguenses não lhe puseram os olhos em cima, nem ouviram ou leram qualquer comunicado seu, por mais de um mês. Só na quarta-feira deu sinais de vida outra vez, dizendo que a pandemia era um “sinal de Deus", mas desvalorizou-a, afirmando que só morreu uma pessoa e que não há mais que nove casos no país.

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Daniel Ortega diz que a pandemia é "um sinal de Deus"

Ao contrário dos serviços de saúde dos países ricos, o da Nicarágua aguenta o embate da pandemia, garantiu, sem, no entanto, apresentar medidas para a eventualidade de assim não ser. E se a infecção chegar às portas do palácio, não há que temer: o antigo guerrilheiro sandinista tem ao seu dispor mais de 370 litros de álcool-gel e cinco mil máscaras, quando os nicaraguenses pouco têm com que se proteger. Lojas, escolas e mercados continuam abertos e a funcionar. Os ajuntamentos são estimulados e criou-se a ideia de a Nicarágua ser excepção num continente que corre o risco de ter milhares de mortes. 

Alexander Lukashenko aconselha beber vodka

Prometeu que nenhum concidadão seu iria morrer de coronavírus, mas a realidade trocou as voltas ao Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, e já matou pelo menos 45 pessoas. Nem assim o autocrata que lidera o país conhecido como “a última ditadura da Europa” deixou de pensar que a pandemia não é mais que uma “psicose” colectiva.

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Lukashenko prometeu que nenhum bielorruso morreria com covid-19

Se ficar em casa não é opção, diz Lukashenko, que governa a antiga república soviética com mão de ferro há 26 anos, já jogar hóquei no gelo, ir a saunas, conduzir tractores ou beber vodka são algumas das soluções para matar o vírus. E se houve quem duvidasse, o Presidente deu o exemplo: foi jogar hóquei no gelo, marcou um golo e sorriu para as câmaras de televisão. Tudo está bem, garantiu. 

E, entretanto, mesmo quando o país já se aproxima dos 5000 casos, o chefe de Estado continua a fincar o pé contra as recomendações da Organização Mundial de Saúde. Iam arruinar a economia e, no final, vai ver-se quem tinha razão, argumentou o Presidente. 

Gurbanguli Berdimikhamedov aposta numa erva para afastar o vírus

Proibir a palavra “coronavírus” não foi suficiente para o fazer desaparecer no Turquemenistão e o Presidente encontrou um método que diz ser inovador para derrotar a pandemia: a erva harmala. 

Gurbanguli Berdimikhamedov, que gosta de construir estátuas de ouro de si próprio e exibir-se perante os cidadãos do seu país, um dos mais fechados ao exterior, diz que se esta erva for queimada, afasta as doenças infecciosas “invisíveis a olho nu”. Ordenou por isso que fossem fumigados duas vezes ao dia escolas, mercados, ruas, edifícios e até cemitérios. Nada prova que seja eficaz, mas os seus 5,8 milhões de concidadãos fazem a vida normal, só não podem dizer a palavra “coronavírus” e usar máscaras. 

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Berdimuhamedow proibiu a palavra "coronavírus"

Para que as ordens sejam respeitadas, há “infiltrados do Ministério da Segurança Nacional por todo o lado”, avisou o próprio chefe de Estado. E quem as violar será detido em prisões que, garantem organizações de direitos humanos, violam a dignidade do ser humano. 

Se há dúvidas sobre o seu empenho na saúde dos turquemenos, Berdimikhamedov, que está no poder desde 2006, tirou-as organizando um passeio de bicicleta pela cidade para celebrar o Dia Mundial da Saúde e permitiu a reabertura da época de futebol, depois de um mês parada, para estimular o exercício físico, apresentado como essencial para combater a doença. 

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