Vem aí um documentário sobre a “última dança” dos Chicago Bulls de Michael Jordan

The Last Dance divide-se em dez episódios e vai mostrar a caminhada dos Chicago Bulls em 1997-98 rumo ao sexto título. Série inclui gravações inéditas.

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Michael Jordan venceu seis campeonatos em oito anos Beth A. Kaiser / Associated Press (Arquivo)

“Nós somos o nosso maior desafio.” No início da época 1997/1998 da NBA, era difícil reduzir esse comentário de Michael Jordan a uma simples demonstração de arrogância. Afinal de contas, os seus Chicago Bulls vinham de cinco títulos em sete anos, um reinado interrompido apenas por dois triunfos dos Houston Rockets, comandados por Hakeem Olajuwon, em 1994 e 1995 – por esta altura, o astro maior do campeonato norte-americano de basquetebol confundia meio mundo desportivo e fazia uma curta incursão pelo beisebol. Mas, como cedo se viria a descobrir, a busca pelo sexto anel naquela temporada seria tudo menos uma viagem pacífica. Agora, pelas mãos da ESPN, recuperam-se as tensões e os sobressaltos em The Last Dance, documentário dividido em dez episódios – e com estreia marcada para 20 de Abril em Portugal – que vai mostrar a caminhada rumo à conquista final de um dos plantéis mais conhecidos da história da competição.

A série desenterrou arquivos para revelar gravações nunca antes vistas pelo público. Uma equipa de filmagens teve acesso completo aos bastidores dos Chicago Bulls durante esse ano – e, pelo meio, registou o percurso tortuoso que a organização precisou de trilhar até encontrar o sucesso a que havia habituado a sua massa associativa ao longo da década.

Esta época atípica começou com contratempos instantâneos: o treinador Phil Jackson – que, depois das vitórias com os Bulls, não demoraria muito a montar uma nova “super-equipa”, orientando Shaquille O’Neal e Kobe Bryant nos Los Angeles Lakers, donos do trono da NBA durante o início do milénio – fez questão de sublinhar que, independentemente daquilo que acontecesse, abandonaria o cargo após o fim dos play-off. Michael Jordan avisou de imediato o dono Jerry Krause: não jogaria sob o comando de qualquer outro técnico.

As tensões internas que ameaçavam colocar um travão às ambições da gerência só subiriam de tom com o decorrer do calendário. Para todos os efeitos, 1997/1998 é a temporada em que Scottie Pippen – a segunda estrela do grupo – ameaça ir para outro clube se não receber um aumento salarial significativo. É o ano em que as actividades extracurriculares de Dennis Rodman – devorador de ressaltos e pilar defensivo – começam a ser escrutinadas como nunca. É ainda o campeonato em que o fosso entre Jordan e o resto da equipa parece tornar-se impossível de reparar.

O lançamento a cinco segundos do fim

É natural, de resto, que Jordan seja o grande foco das atenções em The Last Dance. O documentário concentra-se na obsessão pela vitória e no espírito extraordinariamente exigente deste atleta que, confessa, nasceu “amaldiçoado com esta mentalidade competitiva”. O que o número 23 tinha em termos de genialidade com a bola laranja nas mãos colidia violentamente com a atitude assumidamente difícil de controlar – que o confirmassem os seus companheiros. “Eu vou ridicularizar-te até conseguires jogar ao meu nível”, sublinha a lenda dos Bulls num dos pequenos vídeos que antecipam a série.

Nessa campanha marcada por implosões, os detentores do título foram postos à prova como nunca – e pequenos golpes de destreza evitaram o fracasso. Na última ronda da Conferência Este, os Indiana Pacers, liderados por um jovem Reggie Miller, quase afastavam os campeões. O sétimo e decisivo confronto dessa série sorriu por apenas cinco pontos (88-83) aos jogadores de Chicago, que, carimbando o bilhete para a final da prova, mediram forças com os Utah Jazz, repetindo-se aquele que já tinha sido o duelo principal da edição anterior da NBA.

Na derradeira partida entre os dois emblemas, surge o momento histórico: Michael Jordan rouba a bola das mãos de Karl Malone e, a cinco segundos do fim do jogo, converte o lançamento que assegura o sexto troféu, na sua última noite com a camisola dos Bulls.

A estreia de The Last Dance estava originalmente apontada para Junho, mas, devido ao impacto causado pela propagação do novo coronavírus, a ESPN decidiu antecipar os planos. “Ouvimos os pedidos de todos os fãs, que, mesmo com as competições congeladas, continuam a encontrar no desporto um escape, e estamos felizes por anunciar que conseguimos acelerar o nosso calendário de produção para apresentar este projecto mais cedo”, frisou o canal de televisão. O documentário começa a chegar aos ecrãs portugueses, via Netflix, na próxima segunda-feira: a cada semana, e até 17 de Maio, serão transmitidos dois episódios da série.

Para além do trio de Jordan, Pippen e Rodman, The Last Dance vai incluir entrevistas com o treinador Phil Jackson, Steve Kerr (treinador dos Golden State Warriors, que conquistou três anéis pelos Bulls enquanto jogador e fez parte do trajecto de 1997/1998) e outras antigas estrelas da NBA, tais como Kobe Bryant, Magic Johnson, Charles Barkley, Gary Payton ou Isiah Thomas. Personalidades como Barack Obama e Adam Silver (actual comissário da Liga) também vão fazer aparições especiais.

Texto editado por Nuno Sousa

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