Covid-19: Mercado livreiro em queda mas com ligeira melhoria no inicio de Abril

Por canal de distribuição, verificou-se que houve menos 78% de vendas de livros em livrarias, que são o principal canal da venda a retalho, e menos 18% de vendas nos hipermercados.

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José Sarmento Matos

As livrarias tiveram quebras de vendas de quase 80%, na primeira semana de Abril, com menos 125 mil livros vendidos do que no período homólogo, em 2019, contudo o mercado livreiro registou uma ligeira melhoria face às semanas anteriores.

Segundo o painel de vendas Gfk, entre 30 de Março e 5 de Abril, venderam-se 82.856 livros, menos 124.707 livros do que na mesma semana de 2019, em que foram vendidos 207.563 livros.

Por canal de distribuição, verificou-se que houve menos 78% de vendas de livros em livrarias, que são o principal canal da venda a retalho, e menos 18% de vendas nos hipermercados.

Em termos de mercado total, esta quebra é da ordem dos 60,1%, face o período homólogo, o que se traduziu em perdas no valor de 1,7 milhões de euros: na mesma semana de 2019 entraram 2.613.489 euros, enquanto este ano entraram 934.522 euros.

Segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), estes números reforçam a tendência de queda que se tem vindo a verificar desde Março, devido à covid-19, agravada na semana posterior à declaração do estado de emergência (23 a 29 de Março), com o encerramento de todas as livrarias.

Ainda assim, nesta semana em que se venderam 82,8 mil livros registou-se uma ligeira melhoria, comparativamente às duas anteriores, já que na semana que precedeu a declaração do estado de emergência foram vendidos perto de 70,4 mil livros e, na primeira semana de encerramento total de livrarias, o número de livros vendidos rondou os 64,5 mil.

No que respeita a valores, naquelas duas semanas, as receitas foram aproximadamente de 858,8 mil euros e 701 mil euros (na primeira semana de Abril foram de 934,5 mil euros).

Em termos de perdas financeiras, quando comparadas estas três semanas com as mesmas do ano passado, verifica-se que o mercado livreiro sofreu quebras que oscilam entre os 1,6 milhões e os 1,7 milhões de euros.

O sector do livro está a ser fortemente afectado pelas restrições impostas em consequência da pandemia causada pelo novo coronavírus, com livrarias e editoras a darem sinais de dificuldades de tesouraria, e algumas a admitirem que poderão não resistir à crise.

O grupo Bertrand/Círculo anunciou ter entrado em lay-off e estar a negociar a redução do valor das rendas das lojas ocupadas pelas livrarias. Várias dezenas de livrarias independentes já tinham dado sinal da grave situação que atravessam e que as levou, no início do mês, a unirem-se para criar uma rede de cooperação com o objetivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no sector, denominada Rede de Livrarias Independentes (ReLI). Além disso, também enviaram uma carta aberta aos órgãos de soberania, com um conjunto de propostas para os ajudar a sobreviver à crise, que passam por medidas de apoio à tesouraria e às rendas.

Antes disso, já as editoras tinham anunciado que suspendiam a produção de novidades e que se viravam para as vendas online, em alguns casos praticando descontos, para conseguirem sobreviver, face à crise no sector, que esvaziou e fechou as livrarias.

Este cenário passa-se um pouco por toda a Europa e na semana passada, antecedendo a reunião de ministros da Cultura da União Europeia, a federação europeia de editores escreveu uma carta a alertar para a “gravosa situação” do sector livreiro, e a solicitar apoio financeiro para aliviar os efeitos da crise. Desta reunião não saíram medidas específicas para o mercado livreiro, mas sim a ideia de que alguns programas financeiros europeus para enfrentar a crise causada pela covid-19 como a iniciativa de investimento, orçada em 37 mil milhões de euros, e o instrumento de mitigação de desemprego, no valor de 100 mil milhões de euros vão poder ser utilizados no sector cultural e criativo.

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