Poemas de uma quarentena

Exmo. Sr. Director, cara redacção, hoje tive vontade de registar e partilhar um “poema da quarentena” em torno da importância do PÚBLICO na nossa vida. Tomo a liberdade de o enviar.

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margarida mangerão

As crianças cá de casa, agora adolescentes, sempre souberam que o PÚBLICO é presença diária na vida dos avós. Nos almoços das terças e quintas lá em casa é recorrente a partilha de crónicas e pequenos textos que a avó seleccionou e não raras vezes, ao longo da semana, ao anoitecer, a avó ou o avô ligam para recomendar que não deixemos de ler este ou aquele artigo.

É assim há muitos anos, antes de os miúdos nascerem, do tempo em que o anúncio vaticinava “PÚBLICO: mais cedo ou mais tarde, o seu jornal”.

Há vidas em que o jornal diário não pode fazer quarentena. E em que a substituição pela edição digital não é ponderada porque ter um jornal nas mãos faz parte da identidade de quem o lê e se apropria dele, diariamente, desde sempre e porque há vidas sem computadores nem smartphones. É assim na vida dos meus pais.

Refugiados em Fermentelos, uma pequena vila do centro do país, em cumprimento muito rigoroso de todas as recomendações (têm mais de 75 anos e a avó risco acrescido), só saem para comprar diariamente o jornal numa bomba de gasolina a poucos minutos de casa. Foram várias as tentativas para os convencer de que neste momento isso significava um perigo grande, que era urgente suspender a saída. Depressa nos fizeram saber que a manutenção deste hábito, mais do que nunca, era indispensável para que continuassem a sentir-se eles próprios.

A neta de 13 anos teve uma ideia: para diminuir o risco desta saída, ofereceu ao avô sete pequeninos sacos de plástico contendo cada um o valor certo para o PÚBLICO diário, distinguindo o valor de fim-de-semana que ao sábado também inclui o Expresso. E com eles, a promessa de que todas as semanas fará chegar mais sete saquinhos.

Assim, o avô comprará diariamente o jornal sem tocar em moedas nem grandes demoras e a avó continuará a ligar para partilhar novos artigos que darão sentido acrescido aos exigentes dias de quarentena de avós e netos.

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