Morreu outro grande nome do jazz: o saxofonista Lee Konitz

Era uma das grandes referências do jazz e do saxofone, e o último sobrevivente das míticas sessões que originaram Birth Of Cool de Miles Davis. Morreu devido ao coronavírus.

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Mais um grande nome da música, neste caso da área do jazz, morreu por estes dias, o americano Lee Konitz, saxofonista, compositor, mestre da improvisação moderna, sendo o último músico sobrevivente dos que participaram nas míticas sessões de 1949-50, lideradas por Miles Davis, das quais resultaria Birth Of Cool. Tinha 92 anos. A causa da morte? Complicações devido a uma pneumonia resultantes da covid-19. Foi nesta madrugada de quarta-feira que se soube, através do filho, Josh Konitz, que confirmou o óbito à imprensa. Estava internado num hospital em Nova Iorque.

Nascido em Chicago, em 1927, foi ao longo dos anos sendo considerado um dos mais brilhantes e ousados músicos com o seu instrumento. Inicialmente estudou piano, sendo discípulo do pianista Lennie Tristano, e começou na Orquestra de Claude Tornhill, em 1947, tendo no pianista Lennie Tristano e no saxofonista Warne Marsh alguns dos seus parceiros mais destacados. Com Miles Davis, participou numa série de sessões, entre 1949 e 1950, compiladas no álbum Birth of the Cool, que então revolucionou os conceitos pré-estabelecidos de arranjo e harmonia. Durante muitos anos a palavra “cool”, associada ao jazz, perseguiu-o e uma vez tentou explicar o conceito: “É possível retirar o máximo de intensidade do acto de tocar e ainda assim relaxar.”

Nos anos 50, Konitz começou a destacar-se como líder dos seus próprios projectos, iniciando a carreira a solo com o álbum Subconscious-Lee, lançado em 1955, tendo participado em gravações de mais de 150 discos ao longo dos anos. Com uma carreira de cerca de 75 anos, atravessou todas as grandes revoluções do jazz, fazendo parte integrante da sua história, do efervescente período Be-bop, ao icónico Lone-Lee, de 1974, talvez o documento a solo mais íntimo e representativo do seu som, ou colaborações com imensas figuras de renome como Bill Evans, Anthony Braxton, Charles Mingus, Max Roach, Ornette Coleman, Elvin Jones, Dizzy Gillespie ou Bill Frisell, para além de inúmeras parcerias com Charlie Haden e Brad Mehldau, e também nos últimos anos com jovens músicos europeus. Das linguagens mais vanguardistas, aos modelos mais clássicos do jazz, de tudo absorveu, sem nunca ter prescindido do seu estilo próprio de tocar. 

Actuou em vários festivais de jazz em Portugal. Em 2014, no contexto do Guimarães Jazz, Rodrigo Amado escrevia no PÚBLICO: “Em visível grande forma e com um sentido de humor contagiante, Lee Konitz surgiu em palco com um som luminoso e uma articulação de frases absolutamente cativante, de tal forma que a sala se enchia de música e, de alma, cada vez que o saxofonista começava a tocar.” Antes, em 2011, esteve na Casa da Música, no Porto, com a Orquestra Jazz de Matosinhos, tendo lançado em 2007 o álbum Portology, com Ohad Talmor, no qual participaram o guitarrista André Fernandes e o baterista Mário Barreiros, resultado dessa colaboração de anos com a orquestra portuguesa. O músico e director da orquestra, Pedro Guedes, guarda a imagem de “um homem muito inteligente, um mestre enquanto músico, alguém que conseguia retirar do instrumento momentos únicos, um verdadeiro improvisador, com um som muito seu”, realçando ao mesmo tempo que era alguém fora do palco com “um grande sentido de humor, de relacionamento fácil com todos, e que acabou por nos abrir a porta para podermos tocar em Nova Iorque pela primeira vez.”

Nunca parou de tocar, nem quando chegou aos 90 anos. Em 2018 fez uma digressão europeia e no seu 92.º aniversário realizou um concerto privado, que acabaria por ser o último. Nas últimas semanas outros grandes nomes do jazz, de Ellis Marsalis a Wallace Roney, também morreram devido ao novo coronavírus.

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