Cannes já perde peças — Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica canceladas, mercado só online

Duas das mais importantes secções do festival de cinema francês já não terão lugar este ano. Marché du Film, o mais importante mercado de cinema independente deverá decorrer virtualmente no final de Junho. Retoma do sector é uma das prioridades.

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Na Croisette continuam as imagens que promovem o Festival de Cannes Eric Gaillard/Reuters

O impasse continua quanto ao Festival de Cannes, mas mostrar os novos filmes do ano continuará o seu lado negocial sob a forma de um mercado online. Com as restrições à circulação e aos ajuntamentos em vigor em França pelo menos até meados de Julho, o mais importante festival de cinema do mundo admitia terça-feira que é “difícil pensar que o Festival de Cannes possa ser este ano organizado segundo o seu modelo habitual”. Na sexta-feira deverá ser anunciado que o Marché du Film, o braço comercial de Cannes, será no final de Junho e via Internet. Entretanto, a Quinzena dos Realizadores e a Semana da Crítica foram “canceladas”.

O futuro do Festival de Cannes é uma das incógnitas de uma temporada que já nada tem de normal no mundo do cinema. Deveria decorrer em Maio, depois foi adiado para finais de Junho ou início de Julho e depois do aviso do Presidente francês de que os festivais seriam proibidos pelo menos até meados desse mês devido à crise do novo coronavírus, a organização dizia terça-feira que continua a lutar pela sua realização ainda em 2020. Uma coisa estava fora de questão, diziam dia 8 — a sua realização online, como irá acontecer a partir de sexta-feira com o festival Visions du Réel, por exemplo.

E será precisamente na sexta-feira que, escrevem as revistas especializadas Variety, Screen International e Hollywood Reporter, o Marché du Film será oficialmente transformado num mercado virtual. Vários agentes de vendas e compradores internacionais confirmaram as datas e o plano para o Marché du Film virtual de 2020.

Esta quarta-feira, confirma-se então cada vez mais o que se tornava evidente: que, a acontecer, Cannes 2020 nunca terá o seu formato normal. Num comunicado conjunto, as secções paralelas do festival Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica revelaram que “o adiamento anteriormente considerado para final de Junho/início de Julho já não é uma opção”, fazendo eco das palavras da organização do próprio festival. Mas vão mais além e anunciam mesmo “o cancelamento das suas edições de 2020 em Cannes”.

O comunicado é também subscrito pela Associação de Distribuidores de Cinema Independente (ACID na sigla original), que mostra em Cannes uma selecção de filmes que nos últimos anos foi reconhecida pelo festival - embora não tenha um peso comparável à Quinzena dos Realizadores, organizada pela Guilda de Realizadores de França, ou à Semana da Crítica, cujas programações se destacam em paralelo com a do evento principal. Na mesma nota, as três organizações assumem que a crise sanitária “torna impossível antever” o que será o futuro na prática e que cada uma delas “está a ponderar, consultando-se com o Festival de Cannes, a melhor forma de continuar a apoiar os filmes submetidos para a sua edição de 2020”.

Mais de 12.500 pessoas em 2019

Quanto ao Marché du Film, todos os anos o mais importante mercado para o cinema independente decorre em paralelo com o Festival de Cannes — que reúne cerca de 200 mil espectadores nas suas sessões mas recebe também perto de 40 mil profissionais do sector. As compras de direitos de distribuição, exibição e representação são uma parte essencial do Festival de Cannes, embora o rosto menos visível de um evento que reúne estrelas na passadeira vermelha e algum do melhor cinema de autor do mundo. Em 2019, escreve a Variety, o Marché recebeu mais de 12.500 pessoas.

Estes profissionais tratam também de angariar financiamento para novos projectos e, este ano, de dar força à retoma de um sector fortemente afectado pela crise sanitária tanto pelo encerramento de dezenas de milhares de salas de cinema em todo o mundo quanto pela paralisação de filmagens e produções. Outros festivais de menor dimensão mas importantes para o lançamento de novos filmes foram cancelados logo no início de Março, como é o caso do South by Southwest ou do Festival de Tribeca.

O Marché du Film 2020 deverá decorrer entre 22 e 28 de Junho independentemente do futuro próximo do festival, escrevem as publicações, que recordam que o responsável do mercado, Jerome Paillard, já tinha admitido que as negociações, apresentações promocionais e mesmo a exibição de alguns filmes poderiam decorrer online via ferramentas como o Zoom ou a plataforma própria Cinando. Estas movimentações fazem eco de um plano já antecipado pela Hollywood Reporter da realização de um “mercado virtual alternativo” para os negócios que gravitam à volta do festival e que tem como autores essencialmente os agentes da indústria norte-americana.

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