Trabalhadores da construção continuam a laborar, muitos deles desprotegidos

Sindicato da Construção pede intervenção da Inspecção do Trabalho e da DGS para travar a covid-19 nos estaleiros de obras, muito deles a operar na informalidade total.

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Muitas obras não pararam. Condições de trabalho face à Covid-19 preocupam Nelson Garrido

O impacto da pandemia do novo coronavírus "vai atingir em cheio a construção civil”, escrevia o PÚBLICO a 17 de Março. Passado um mês, com o pais em estado de emergência e a actividade económica sujeita a imensas restrições, muitas obras pararam, de facto, mas muitas outras não, e há ainda uma quantas, difíceis de contabilizar, que começaram neste período, à boleia da disponibilidade de mão-de-obra (vinda destes e de outros sectores forçados a encerrar) e da muita informalidade - 40%, estima o sindicalista Albano Ribeiro - que grassa na construção. Uma informalidade que vem acompanhada por uma total ausência de precauções em relação à covid-19, o que faz temer que, fora dos holofotes, haja um barril a encher-se de pólvora em muitos estaleiros de obra por esse país fora.

Albano Ribeiro, que vem alertando para isto, defende os seus, como seria de esperar no presidente do Sindicato da Construção, mas a chamada de atenção para as condições em que as obras se continuam a desenvolver vem também dos cidadãos com quem o PÚBLICO conversou para uma reportagem sobre a dificuldade de compatibilizar o ruído destas empreitadas com o tele-trabalho. Todos, sem excepção, se mostraram preocupados, indignados até, com a manutenção de hábitos de trabalho e de convivialidade desprotegida que põem em risco a saúde dos operários e, no limite, de todos aqueles com que estes se cruzam nas ruas. 

O sindicalista já pediu que a Autoridade para a Condições de Trabalho e a Direcção Geral de Saúde unam esforços e tentem perceber, fazendo testes, o que está a acontecer no sector. Garante ter conhecimento de operários doentes e de muitos outros com medo de ir para os estaleiros, quantas vezes, assinala, nas mesmas carrinhas de nove lugares de sempre. Se há empresas sérias que fizeram planos, e mudaram rotinas - até com impacto no ritmo das obras - outras, sustentadas no trabalho precário e na pura informalidade, estão a acelerar, admite o sindicalista.

Com várias obras nas imediações de casa, no Porto, essa é a sensação de Patrícia Campos. O vaivém de pessoas parece-lhe mais intenso, a inexperiência de algumas delas, evidente. Da varanda, vê nos estaleiros proximidades que aos restantes portugueses se pede que evitem e um descuido com a higiene que, se noutros dias talvez passasse despercebido, nestes tempos em que nos pedem que lavemos as mãos até gastar a pele, assusta.

“Não percebo. No Luxemburgo, a construção foi um dos sectores que parou logo”, diz ao PÚBLICO Paula Ferreira, que trabalha para um órgão de comunicação daquele país. Cá, como se viu, não, apesar dos apelos de sindicados e entidades patronais. Da janela da sua casa, perto do Hospital de São José, o panorama do risco vivido pelos trabalhadores de uma obra é bem visível, e incomoda-a tanto quanto o barulho, que levou o PÚBLICO a contactá-la, num primeiro momento. “É uma obra a sério, grande, mas eles estão ali, sem máscaras”, descreve, preocupada com estes seus concidadãos.

Há um mês, o PÚBLICO lembrava que esta área é responsável por 17,4% do PIB e 50,5% do investimento.​“O sector da construção faz mexer o país, mas não está a ter o respeito devido”, queixa-se Albano Ribeiro, considerando que aqueles que vivem da informalidade, e da angariação de mão-de-obra, “deveriam desaparecer do sector. Que não pode continuar a trabalhar nestas condições”, alerta.

 
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