Câmara de Moura desvaloriza a acção do Governo junto de comunidade cigana afectada pela covid-19

Governo diz que está a coordenar a resposta à população mas o autarca socialista contrapõe que as iniciativas têm sido da exclusiva responsabilidade da câmara, em coordenação com entidades locais.

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Adriano Miranda

Em nota enviada à comunicação social pelo Gabinete da Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade ao início da tarde de domingo de Páscoa, anunciava-se que “o Governo coordena a resposta a populações ciganas afectadas pela pandemia de covid-19.” No entanto, a Câmara de Moura diz que não é bem assim.

O comunicado governamental refere que se tratava de uma intervenção que envolve a secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, e o secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Jorge Seguro Sanches, o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), a Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARS), e as câmaras de Moura e Beja. E acrescentava: nas acções já desencadeadas foram desenvolvidas “um conjunto de medidas de apoio às populações ciganas, em articulação com o interlocutor do Ministério da Saúde para as populações com vulnerabilidade acrescida.”

De entre as intervenções efectuadas, a nota do Governo realça a realização de testes de despiste aos residentes no Bairro Espadanal no concelho de Moura (59 pessoas entre adultos, jovens e crianças), tendo sido “detectados 33 casos positivos de covid-19.”

No entanto, a cronologia dos acontecimentos não corresponde aos factos, disse ao PÚBLICO o presidente da Câmara de Moura, Álvaro Azedo (PS), lembrando que foi a autarquia que desencadeou as acções para confinar o bairro do Espadanal e garantir o distanciamento social quando foi confirmado, a 6 de Abril, o primeiro caso positivo para covid-19, em Moura.

Todas as diligências tomadas, “desde a primeira hora”, foram dinamizadas pela “Câmara de Moura, através do Serviço Municipal de Protecção Civil e de acordo com o Plano Municipal de Emergência”, refere a autarquia através de comunicado tornado público após a divulgação da nota do Governo.

Foi o município de Moura que “colocou no terreno toda a estrutura necessária à prestação de apoio a esta comunidade, no âmbito das medidas de contenção de propagação do vírus que viriam a ser decretadas pelas autoridades de saúde”, observa ainda. As intervenções efectuadas para circunscrever a propagação da doença resultaram de uma parceria que a autarquia mantém com a Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos, Bombeiros Voluntários de Moura, Moura Atlético Clube, GNR, PSP e juntas de Freguesia.

Perante o conjunto de acções realizadas e em resposta ao comunicado do Governo, Álvaro Azedo esclarece: “Neste momento, todo o apoio que foi e está a ser prestado à comunidade do Espadanal, designadamente a resposta às necessidades alimentares e receituário está a ser assegurado, exclusivamente, pela Câmara Municipal de Moura.” 

O aparecimento do foco da covid-19 no Bairro do Espadanal avisou Álvaro Azedo para a necessidade imediata de realizar a desinfecção “em todas as ruas do concelho, que incluiu os espaços exteriores do Espadanal.”

Desde o dia 6 de Abril que o município a GNR e a PSP mantém acções de vigilância para evitar “a mobilidade das 16 famílias (59 pessoas) que vivem no sítio Espadanal para o exterior do bairro”, assinalou o autarca.   

Em paralelo com as acções de vigilância, o município iniciou a execução de um conjunto de medidas para garantir o suporte alimentar e de medicamentos dos residentes do bairro, ao mesmo tempo que assegurava o fornecimento de água potável e a colocação de mais contentores de lixo.  

As acções desencadeadas contaram com a participação de representantes da comunidade cigana para sensibilizar as famílias a compreender e a aceitar o distanciamento social e o confinamento.

Quando o PÚBLICO falou com o autarca de Moura, nesta segunda-feira, este acabara de participar na distribuição de produtos alimentares, de limpeza e higiene, medicação e outros bens essenciais que os serviços de apoio municipais entregam no início da semana à comunidade do Espadanal.

As famílias que beneficiam do Rendimento Social de Inserção (RSI) ou outro fazem o pagamento do cabaz alimentar no acto da entrega dos produtos. As que não dispõem de rendimentos recebem igualmente os produtos, de forma a assegurar a sua subsistência.  

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