Telescola e teletrabalho: encontrar o equilíbrio

Procure manter as rotinas na hora de acordar e na hora de deitar, sendo que agora não é preciso fazer tudo a correr.

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@petercalheiros

O ano de 2020 está definitivamente marcado pela pandemia e pelas suas consequências. Uma delas aplica-se a cerca de dois milhões de alunos e às suas famílias, porque quem tem filhos a frequentar o ensino básico (1.º ao 9.º ano) já sabe que o regresso presencial foi remetido para Setembro. Assim, há que arregaçar as mangas e encontrar um equilíbrio entre a sua obrigação de manter o seu trabalho à distância e dar a atenção que o seu filho ou filhos necessitam. Sabemos que não é uma tarefa simples e nem sequer possível para todas as famílias, porque nem todas têm condições de ajudar as crianças a acompanhar as aulas em vídeo ou pela televisão.

Muitos pais estão a tentar dar o seu melhor para aprender matérias novas e ensiná-las aos seus filhos, ou pelo menos guiá-los, sob o risco de ouvir comentários pouco estimulantes do tipo “não foi assim que a professora ensinou”. Uma coisa é certa: se só olharmos para o que pode correr mal, podemos abrir as portas para o desânimo e não só não fazemos o nosso trabalho, como não ajudamos os nossos filhos. E, sim, haverá dias que parecem que nunca mais acabam porque tudo vai correr mesmo mal.

Esta situação de teletrabalho e telescola exige mais uma vez adaptação e somos nós, os adultos, quem temos de criar condições para manter a normalidade, na medida do possível, das crianças e da família. Há algumas coisas que podem ser feitas para ajudar os pais de crianças até os 12 anos a ultrapassar este momento sem muita tensão. Os mais velhos devem ser envolvidos em algumas destas actividades, sendo que a sua autonomia é diferente.

Para começar, procure ser positivo e ter uma atitude calma e confiante. Isto irá dar segurança aos seus filhos e ajudará a manter a família unida. É, então, mais sensato libertar-se de alguns pensamentos que não ajudam em nada, como os perfeccionistas ou os pessimistas e passar a aceitar o erro, a imperfeição e as tarefas inacabadas.

Quando começar a ficar irritado, evite gritar e dar respostas agressivas ou resolver problemas quando está zangado. Procure respirar fundo e relaxar (conte até quatro lentamente ao inspirar e expirar). Consulte uma opção de respiração aqui.

Explique aos seus filhos que as férias da Páscoa acabaram e que eles irão assistir a aulas pela televisão/computador e que os pais também irão trabalhar pela mesma via. Mostre que esta não é a situação ideal, mas a possível, e que todos devem colaborar.

Defina prioridades e metas realistas a atingir, tanto para si como para os seus filhos. Aceite que não vão conseguir fazer tudo, nem, muitas vezes, à hora planeada.

Desenhe um plano simples (de preferência feito por ambos os pais): Comece por ter uma visão geral da semana e faça um horário onde poderá visualizar a semana da família. Inclua as aulas, as pausas previstas (almoço, lanche, descanso, lazer, etc.), os tempos de estudo individual (que são essenciais para a autonomia da criança) e um momento em que os pais irão verificar o que a criança fez e tirar dúvidas.

Pendure o plano à vista de toda a família e de manhã leia as tarefas de cada um para relembrar. As crianças sentem-se mais seguras e colaboram mais se souberem o que é esperado delas.

Inclua no plano as refeições em família, de modo a aumentar o convívio entre todos. As crianças devem ajudar na preparação das refeições e nas tarefas de casa, como pôr a mesa ou arrumar a roupa. Deixem-nas escolher as suas tarefas, isto dá-lhes a sensação de controlo e confere responsabilidade.

Planear as refeições no dia anterior pode ser uma boa ajuda para cumprir horários. Se possível, distinga a zona de estudo, de refeições e de lazer.

Parcele as actividades mais longas em pequenas tarefas e alterne entre tarefas mais fáceis e mais difíceis para motivar a criança a continuar.

Se possível, alterne a gestão da telescola dos seus filhos com o seu parceiro (um dia para o pai e outro para a mãe), de modo a não sobrecarregar um único progenitor. Explique os dias que cabem a cada um à criança de modo a que ela saiba a quem recorrer naquele dia. Aproveite o dia em que não tem de ajudar a criança para avançar no seu trabalho individual.

Partilhe os seus planos com as crianças e seja consistente e persistente nas regras e no seu cumprimento. A sua atitude perante os seus filhos, não tem, nem deve ser autoritária, mas sim, orientadora e firme, isso ditará metade do sucesso do seu plano. Se deixar que as crianças façam o que querem todo o tempo, provavelmente vai acabar o dia cheio de stress e sem fazer metade do previsto.

Aceite que os seus filhos vão interrompê-lo mais vezes do que gostaria. Isto acontece porque algumas crianças não têm maturidade para compreender esta situação e que os pais precisam de concentração para trabalhar. Procure ser, ao mesmo tempo, suave e firme ao falar com a criança, ou seja, se ela estiver sempre a interromper o seu trabalho ou a brincar ao invés de completar a ficha, diga de forma firme e olhos nos olhos, sem gritar, que está a trabalhar e que ela tem de acabar a sua tarefa. Verifique se ela faz o que lhe pediu.

Se o acesso à Internet em casa for limitado, defina no plano quem e a que horas terá acesso, de acordo com as necessidades de cada um.

Se estiver sozinho com mais do que uma criança, tente separá-las e dar apoio à vez, dando mais atenção àquela que precisa mais.

Organize um espaço individual para cada criança e assegure-se que os demais o respeitam. Se tiver de ser na mesma divisão da casa, que seja de costas voltadas para o outro, no caso dos irmãos que não conseguem deixar de provocar-se mutuamente. Cada criança deve sentir aquele espaço como seu durante estes tempos. Para evitar distracções, tenha em cima da mesa apenas o estojo e os materiais que precisam para a actividade que irão fazer.

Caso a criança precise de mais orientação, coloque-a ao seu lado e combine quando será o momento de pausa para tirar dúvidas (não ceda só a uma perguntinha porque isso dá azo à mais e mais perguntas). Antes de começar, combine que irá fazer uma ficha ao seu lado e deverá assinalar as suas dúvidas a lápis com uma cruz. Marque tempo para a criança fazer a ficha e ponha o despertador a tocar, indicando que este será o momento de tirar as dúvidas, ou seja, depois de terminar a ficha. Dê-lhe 20 a 30 minutos de descanso antes de iniciar outra ficha. Se puder, peça para a criança ir para outra divisão da casa para ter também um momento de descanso só seu.

Planeie o trabalho em blocos de 50 minutos ou uma hora e defina pausas sem computador e sem telemóvel. Aproveite estes momentos para verificar rapidamente se é necessário algum ajuste no plano, mas não faça cobranças nem critique a criança. Aceite o ajuste como parte da adaptação.

Se for possível, tente alterar os horários de trabalho com os momentos em que as crianças estão em pausa ou a dormir e deixem as alturas em que eles estão mais agitadas para fazer actividades juntos (cada família conhece melhor os seus membros e poderá identificar estes momentos).

Aproveite a obrigação desta quarentena para reforçar laços com os seus filhos e brinque com eles. Brincar é dar atenção positiva. Quanto mais proximidade e afectividade, menos dificuldade terá em lidar com a criança porque uma relação positiva pressupõe colaboração.

Como não há mochila para preparar, no fim do jantar, as crianças podem separar todos os livros e material escolar necessários para o dia seguinte.

Determine uma hora para desligar o computador de modo a não trabalhar continuadamente. O descanso é importante para manter a produtividade e um humor estável.

Procure manter as rotinas na hora de acordar e na hora de deitar, sendo que agora não é preciso fazer tudo a correr.

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