Proibição de festivais até ao Verão cancela Avignon e põe Cannes em xeque

Presidente Emmanuel Macron anunciou na segunda-feira que restrições serão aliviadas a 11 de Maio – mas cinemas, teatros, salas de espectáculos continuarão fechados. Festivais proibidos até pelo menos meados de Julho.

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Hamlet com encenação de Thomas Ostermeier em 2008 na 62.ª edição do Festival de Avignon ANNE-CHRISTINE POUJOULAT

Na semana passada, o director do Festival de Avignon apresentou a programação para a edição de 2020, esperançoso na realização em Julho do mais renomado evento dedicado às artes do palco em todo o mundo. Mas o Presidente francês Emmanuel Macron anunciou entretanto, na noite de segunda-feira, que “os grandes festivais e eventos com grande número de público não se poderão realizar pelo menos até meados de Julho” devido à pandemia e, logo a seguir, a organização cancelou a 74.ª edição do festival. As medidas anunciadas por Macron põem em sério risco a realização de outro importante festival: Cannes, que tinha já adiado as suas tradicionais datas, em Maio, para Junho ou Julho.

“Não estão reunidas as condições para que decorra a 74.ª edição” do festival, comunicaram Olivier Py, director do festival, e toda a organização em comunicado, após as recomendações de Macron. “Partilhávamos há muito a esperança de que fosse permitido, mas a situação impõe outro cenário. O nosso dever é, doravante, preservar e planear o futuro do Festival de Avignon.”

O estado de emergência em França vai prolongar-se até 11 de Maio, pelo menos, e se o Presidente francês acredita que o país vencerá a pandemia da covid-19 também admitiu que França irá “viver mais meses com o vírus”. Assim, e com a manutenção das regras que promovem o distanciamento social e que abrangem desde restaurantes a eventos culturais, muitos eventos que viviam ainda na incerteza verão o seu futuro novamente adiado ou mesmo cancelado. No próximo dia 11, França começará a aliviar as medidas restritivas, mas “os locais de reunião de público – restaurantes, cafés, hotéis, cinemas, teatros, salas de espectáculos e museus continuarão fechados”, avisou o Presidente.

Se há uma semana, no dia 8, as equipas dos muitos espectáculos de teatro e dança que perfaziam o programa de 2020 de Avignon estavam “a fazer tudo para que [existisse] uma 74.ª edição” do festival, como dizia então Olivier Py, agora está confirmado o cancelamento do evento que iria decorrer naquela cidade francesa de 3 a 23 de Julho. Estavam previstos 24 espectáculos de teatro e dança, entre os quais Freud, encenação do belga Ivo von Hove, director artístico da companhia Toneelgroep de Amesterdão, Moby Dick, a mais recente criação da encenadora e marionetista Yngvild Aspeli, o Otelo de Shakespeare numa encenação do lituano Oskaras Korsunovas, Liebestod, terceiro andamento das História(s) do Teatro da dramaturga, encenadora e actriz catalã Angelica Liddell, Condor ou Hamlet à l'impératif!.

Esta é segunda vez que o Festival de Avignon é cancelado na sua história – em 2003, quando os trabalhadores intermitentes (o grosso dos artistas, técnicos e mesmo programadores que trabalham no sector cultural e em particular na montagem de uma operação como a de Avignon) estavam em plena guerra laboral com o governo francês. Serão eles os principais afectados pela não-realização do festival este ano, que representa aliás um prejuízo de cerca de 100 milhões de euros, escreve o diário Le Monde.

Algumas respostas de Cannes

Neste cenário, uma das grandes incógnitas é o mais importante festival de cinema do mundo, Cannes, cuja organização adiara já a sua realização em Maio para finais de Junho ou início de Julho e que agora se vê espartilhada pelas regras governamentais. O evento reúne anualmente cerca de 40 mil profissionais, entre críticos, jornalistas, produtores, realizadores, actores, distribuidores ou agentes e recebe nas suas sessões cerca de 200 mil espectadores.

A organização, que garantira já que uma edição online da 73.ª encarnação do evento não está em cima da mesa, disse terça-feira que continua a lutar pela sua realização ainda em 2020 mas sem saber ainda em que formato - isto depois do aviso do Presidente francês de que os festivais seriam proibidos pelo menos até meados desse mês devido à crise do novo coronavírus. O festival deveria decorrer em Maio, depois foi adiado para finais de Junho ou início de Julho e agora é uma incógnita. Entretanto, a Hollywood Reporter escreve que há planos para a realização de um “mercado virtual alternativo” para os negócios que gravitam à volta do festival e que tem como autores essencialmente os agentes da indústria norte-americana.

“Para o mundo da cultura, os meses vindouros serão difíceis. A mobilização do Ministério da Cultura não esmorecerá. Estaremos ao lado de todos os agentes culturais e montaremos um plano específico anunciado por Emmanuel Macron”, escreveu na segunda-feira no Twitter o ministro da Cultura francês, Franck Riester.

As medidas anunciadas por Emmanuel Macron afectarão outros festivais iminentes, como o Eurockéennes ou as Francofolies no início de Julho, e poderão condicionar eventos de forte pendor internacional mais para a frente se se mantiverem medidas restritivas como o encerramento de fronteiras ou se forem permitidos apenas encontros de menor dimensão, com público entre 50 ou 100 pessoas por espectáculo, como antevê o diário francês Le Figaro. Mesmo antes da confirmação do prolongamento do estado de emergência em França, o primeiro grande festival musical de Verão francês, o festival de metal Hellfest (que em Junho recebe anualmente cerca de 180 mil pessoas de todo o mundo) já tinha sido cancelado.

Notícia actualizada às 17h42 com informação do comunicado do Festival de Cannes. Nova versão de dia 16 às 8h14.

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