Covid-19: Rede Nacional de Cuidados Continuados com 154 infectados e nove mortes

Dos casos positivos, 90 são em doentes e 64 em profissionais de saúde. Ministra da Saúde adiantou que a encomenda de 508 ventiladores que já devia ter chegado a Portugal está a atrasada cerca de oito dias.

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Nelson Garrido

Desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus em Portugal foram registados 154 infectados entre pacientes e profissionais de saúde que trabalham nas cerca de 390 instituições que fazem parte da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), com mais de 9100 camas de internamento. Há registo de nove mortes e de mais de 200 profissionais de saúde em quarentena.

“O autorreporte destas unidades mostra que havia 21 unidades com casos confirmados de covid. Significava 90 doentes positivos, 22 internados em hospitais de referência”, explicou a ministra da Saúde, na conferência diária de balanço sobre a pandemia. Os restantes pacientes infectados permanecem internados nas unidades da RNCCI, onde já estavam por motivos de recuperação de doença prévia.

Marta Temido adiantou ainda que “havia 165 doentes a esperar teste” e que desde o início da epidemia no país registaram-se “nove óbitos na rede relacionados com a covid”. “Há também na rede nacional de cuidados continuados integrados, como no sistema de saúde, profissionais que são casos confirmados. Neste caso, 64 profissionais confirmados e 216 profissionais em quarentena”, referiu ainda a ministra.

Os números apresentados este domingo representam um aumento em relação aos dados que o Ministério da Saúde já tinha partilhado com o PÚBLICO e que tinham sido recolhidos até 1 de Abril. Nessa resposta, o ministério adiantou que das 377 unidades das quais tinham informação, nove tinham reportado 24 casos positivos. Até essa altura, registava-se apenas um óbito, uma utente com 93 anos. E havia seis doentes que tinham sido transferidos para hospitais de referência.

A coordenadora da RNCCI, Purificação Gandra, disse na conferência de imprensa que não existem casos confirmado de covid na rede de cuidados pediátricos – que tem 17 camas – nem na rede dedicada aos cuidados de saúde mental, com 129 lugares. Também não há casos confirmados nas unidades da RNCCI que estão localizadas no Algarve.

Purificação Gandra referiu que 85% dos doentes da RNCCI têm idade superior a 65 anos. “Pelo grupo etário e pela situação de dependência, tornou-se prioritária a contenção de propagação do vírus nas unidades. Implementaram-se medidas que passam por uma ampla divulgação das orientações e normas da Direcção-Geral da Saúde e todas as unidades têm planos de contingência. Houve interdição de visitas e os doentes são testados previamente à admissão e há a obrigação de isolamento por mínimo de 14 dias”, enumerou.

A responsável explicou ainda que está a ser feita a separação de doentes covid dos que não estão infectados e houve uma reorganização do trabalho com profissionais de saúde dedicados a grupos de doentes. Além do “uso criterioso” de equipamentos de protecção individual.

“Tem sido possível dar resposta às necessidades dos doentes, com esforço acrescido dos profissionais. Podemos afirmar que até agora a situação está controlada, sem quebra de cuidados prestados”, afirmou a coordenadora da Rede, referindo que a maior percentagem de doentes está localizada a Norte, que tem sido a região do país com mais casos positivos confirmados.

Pouco depois do final da conferência de imprensa, na qual a ministra da Saúde e a coordenadora da rede deixaram palavras de apreço aos profissionais de saúde dos cuidados continuados, o presidente da Associação Nacional dos Cuidados Continuados reagiu em comunicado. “As palavras simpáticas proferidas pela senhora ministra da Saúde e pela coordenadora da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados são de uma enorme hipocrisia e chegam a ser mesmo repugnantes”, afirmou José Bourdain.

O representante da associação lamentou “a enorme discriminação” que resultou da portaria publicada que fez a revisão dos valores a pagar às unidades de cuidados continuados. “O Governo discrimina os cuidados continuados ao aumentar em 3,5% à generalidade do sector social e a não dar qualquer aumento para os cuidados continuados (os quais estão altamente subfinanciados há vários anos). Foi assim desde 2011 a 2017 sem qualquer aumento”, salientou José Bourdain, na nota enviada à comunicação social.

Ventiladores atrasados

Segundo o boletim da Direcção-Geral da Saúde, Portugal regista até este domingo um total de 16.585 casos confirmados de covid-19 – um aumento de 3,7% face ao dia anterior – e um total de 504 mortes, mais 34 do que no sábado. Os números de internados em enfermarias e em unidades de cuidados mantêm-se relativamente estáveis. Também existem mais 11 doentes recuperados em relação ao dia anterior.

Marta Temido adiantou que estão a ser seguidos no domicílio, pelas equipas de saúde familiar, 36 mil utentes. Quanto à linha SNS24, que no início da epidemia registou grandes dificuldades no atendimento e que foi entretanto reforçada, a ministra assegurou que o seu funcionamento “retomou a relativa nominalidade”. Neste sábado, recebeu mais de 12 mil chamadas e atendeu mais 11 mil, “com a generalidade dos utentes a serem atendidos em 28 segundos”. No atendimento psicológico – serviço que resulta de uma parceria com a Ordem dos Psicólogos –, foram atendidas 236 chamadas.

A ministra fez ainda um balanço do equipamento que já chegou e está para chegar ao país. “Recebemos ontem [sábado] um voo com mais 900 mil testes e 220 mil zaragatoas. Não recebemos ainda os kits de extracção essenciais para realização testes. Esperamos que se concretize esta semana”, explicou. No mesmo voo vieram um milhão de máscaras cirúrgicas e 700 mil respiradores (máscaras FFP2).

Atrasados estão também os 508 ventiladores que o ministério contava terem chegado até ao final da semana. “A encomenda de 508 ventiladores, que adquirimos e cuja entrega estava prevista acontecer até ao final desta semana, da qual vos demos conta na semana passada, quando chegaram 144 ventiladores, está atrasada.”

“Na China, esta semana, os regulamentos sobre transportes mudaram, obrigando a novas autorizações que estamos a diligenciar para obter. Isso atrasou o transporte em cerca de oito dias”, disse Marta Temido, acrescentando que este domingo chegou um novo voo com diversas doações de material que serão entregues na semana que agora começa.

Sobre o futuro e à aplicação de medidas de regresso à normalidade, a ministra lembrou que no dia 15 haverá uma nova reunião com o grupo de peritos, onde se incluem epidemiologistas, médicos, cientistas e matemáticos para avaliação dos números actuais.

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