Covid-19: Misericórdia de Melgaço acusa SNS de “lavar as mãos” em relação a lar

Responsável reafirmou as dificuldades da instituição em prestar cuidados de saúde por a equipa de profissionais estar reduzida a uma enfermeira.

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LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço disse este domingo que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “está a lavar as mãos” em relação à situação no Lar Pereira de Sousa, onde já morreram quatro utentes com covid-19. O responsável reafirmou as dificuldades da instituição em prestar cuidados de saúde por a equipa de profissionais estar reduzida a uma enfermeira.

“Nós [lares de idosos] não somos unidades de saúde. Os doentes têm que ser tratados por unidades de saúde. As normas deixam bem claro que são as unidades de saúde, quer ao nível dos cuidados primários, quer ao nível dos cuidados hospitalares, que têm que acompanhar os doentes covid”, disse o provedor Jorge Ribeiro. O Lar Pereira de Sousa, gerido pela Misericórdia de Melgaço, no distrito de Viana do Castelo, que apoia 55 idosos, possui 23 utentes infectados (19 permanecem na instituição e quatro estão no hospital) e oito funcionários.

O provedor reafirmou as dificuldades da instituição em prestar cuidados de saúde por a equipa de profissionais estar reduzida a uma enfermeira. “E o Serviço Nacional de Saúde está a lavar as mãos, não está a fazer aquilo que é a sua obrigação legal. Ajudem-nos. Apoiem-nos com médicos mas, acima de tudo, façam o que têm que fazer, que é tirar os doentes e levá-los para unidades de saúde, que nós não o somos. Os nossos auxiliares não têm formação para lidar com estas pessoas. Os nossos espaços físicos não estão preparados para lidar com estas pessoas”, alertou, em declarações à agência Lusa.

O lar de idosos possui três enfermeiros e uma médica, mas uma enfermeira está infectada e outro enfermeiro está com sintomas e encontra-se em casa à espera dos resultados dos testes. A agravar a situação, na sexta-feira, a médica informou o provedor que “não podia comparecer mais” no lar porque, como também trabalha no Centro de Saúde, “lhe tinha sido comunicado que havia directrizes da Direcção-Geral da Saúde no sentido em que os médicos não podiam prestar serviços” em lares com a presença de infectados.

Após ter divulgado a situação, um grupo de médicos mobilizou-se e uma médica prontificou-se a apoiar a instituição, mas posteriormente o grupo recebeu uma mensagem “dos superiores hierárquicos a chamar a atenção para que pensassem muito bem no que estavam a afazer, uma vez que trabalhavam no SNS”. O alerta foi “interpretado como uma ameaça” e o provedor foi informado que a instituição já não seria apoiada.

Perante a situação, a Misericórdia accionou este domingo o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) para “levar as pessoas que precisam de ser observadas”, porque a instituição não tem “capacidade de o fazer”, disse.

O provedor considera que a instituição vive uma situação “dramática” e anunciou que, na segunda-feira, o Secretariado Regional das Misericórdias de Viana do Castelo vai denunciar o alegado “lavar de mãos da Saúde": “No caso da Misericórdia de Melgaço é mais do que lavar as mãos. É actuar contra a Misericórdia de Melgaço. É cortar-nos os braços sempre que encontramos uma solução”.

Na segunda-feira, a partir das 9h, os cerca de 30 utentes não infectados do Lar Pereira de Sousa serão retirados e acolhidos temporariamente nas instalações da Fundação Inatel, em Vila Nova de Cerveira.

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