Covid-19: UNITA pede conta solidária não gerida pelo Governo e deputados doam parte dos salários

Parlamentares do maior partido da oposição vão doar 50% do ordenado. Bureau Político do MPLA pediu aos seus representantes na Assembleia Nacional para doar voluntariamente 25% já este mês.

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Vendedora de máscaras em Luanda, na semana passada Ampe Rogério/Lusa

Os deputados da UNITA, o maior partido da oposição em Angola, vão doar 50% do seu salário para ajudar os cidadãos mais desfavorecidos a enfrentarem a crise causada pela pandemia da covid-19. Para auxiliar os esforços de combate à pandemia, os parlamentares do MPLA, partido no poder, vão doar 25% do ordenado.

Segundo o Novo Jornal, o Bureau Político do MPLA pediu aos deputados para fazerem a sua contribuição, e o líder da bancada do partido na Assembleia Nacional, Salomão Xirimbimbi, disse que devem fazer a sua contribuição voluntária já a partir deste mês de Abril, num mínimo de 25% do salário.

No meio de uma crise económica, atingido por uma guerra internacional de preços que fez cair abruptamente o preço do petróleo e deixou sem forma de conseguir rendimentos para pagar os elevados juros da dívida, o Governo do Presidente João Lourenço pediu, no início de Abril, que os cidadãos contribuam para o combate à doença, e foi aberta uma conta para o Tesouro Nacional receber as doações.

“Ajuda-nos a ajudar. Todos juntos na luta contra a Covid-19. Podes fazer a tua parte contribuindo em kwanzas”, dizia o comunicado do Governo que dava o número de uma conta solidária.

Os deputados da UNITA vão doar 50% do seu salário, frisando que a sua contribuição visa ajudar os cidadãos mais desfavorecidos a enfrentarem a crise causada pela pandemia da covid-19.

Citado pelo Novo Jornal, o presidente do partido, Adalberto Costa Júnior, disse que a decisão agora tornada pública foi tomada há mais de uma semana.

Adalberto Costa Júnior explicou que esta ajuda não chega para ajudar uma população a quem foi pedido para se manter em casa durante a crise, mas que não recebeu alternativas para ganhar a vida.

“As medidas do Governo, provavelmente por indisponibilidade orçamental, não correspondem às necessidades das famílias, e, mesmo o valor de 8500 kwanzas que vai passar a ser disponibilizado em Maio é irrisório, não chega para comprar um saco de arroz para uma família angolana”, disse Adalberto Costa Júnior ao Novo Jornal.

Para o líder do partido do Galo Negro, a decisão do Governo de encerrar os mercados sem oferecer alternativas é “um erro e uma falta de sensibilidade” do Governo, "pois quem compra nos mercados informais não tem capacidade financeira de ir comprar nos mercados formais e quem vende num mercado informal, destruído, vai à procura de outro espaço para vender. É irreal”.

O líder da UNITA disse que, sem alternativas, a eficácia das medidas adoptadas para travar o coronavírus em Angola pode ficar comprometida.

O estado de emergência foi declarado em Angola no dia 27 de Março e vigorou até 11 de Abril (este sábado), tendo sido prorrogado por mais 15 dias. No âmbito dessa decisão, foi pedido à população para se manter em casa e os mercados e a venda ambulante em Angola reduzidos a três dias por semana, terças, quintas e sábados, entre as seis da manhã e a uma da tarde.

19 casos, dois mortos

Citado pela Lusa, o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, disse que os mercados são “um dos principais calcanhares de Aquiles” no combate à pandemia no país, o que, explicou, foi notório nos primeiros 15 dias de estado de emergência.

Nessas duas semanas, prossegue a Lusa, Angola continuou a registar muitos casos de desobediência às regras do estado de emergência, que impõe restrições à movimentação de pessoas e distanciamento social.

Angola tem neste momento registados 19 casos de covid-19 e duas mortes, segundo o mapa interactivo que faz a contagem dos casos em tempo real da universidade americana Johns Hopkins.

A UNITA não esclareceu como fará a sua contribuição, ou seja como vai canalizar a ajuda aos que, devido às medidas adoptadas, ficaram privados de realizar o seu trabalho ou fazer compras em mercados acessíveis.

Mas Adalberto Costa Júnior defendeu a abertura de uma nova conta solidária, “não gerida pelo Governo” mas por representantes da sociedade civil e da igreja, para que todos, independentemente da sensibilidade partidária, possam contribuir “sem desconfiança” e defender que é “urgente ampliar largamente a capacidade de realizar testes que permita uma busca mais activa de infectados na comunidade para possibilitar a identificação precoce dos casos, o seu isolamento e a assistência médica”, disse ao referido jornal.

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