Chegada da pandemia a Portugal leva um quarto a perder rendimentos, revela estudo

Estudo em Portugal revela que efeitos económicos são assimétricos, jovens desconfiam das redes sociais e defendem mais medidas de restrição, e são os mais velhos quem mais confia nas fontes oficiais.

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Pessoas em situação económica mais precária já eram as mais afectadas financeiramente Paulo Pimenta

Um quarto dos 11.500 inquiridos num estudo feito em Portugal sobre o impacto social da pandemia de covid-19, no final de Março, revela já sofrer impactos financeiros. São sentidos com mais intensidade por quem já tinha dificuldades antes desta crise.

Os dados são do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa que, entre 25 e 29 de Março, inquiriu 11.500 pessoas para avaliar o impacto social da pandemia de covid-19.

“Os efeitos económicos e sociais da pandemia são assimétricos e essa assimetria tenderá a aumentar ao longo do tempo”, lê-se no estudo. Os autores alertam, no entanto, que o inquérito não tem representatividade em termos de grupos populacionais, permitindo apenas relacionar variáveis. 

Na fase inicial da pandemia as pessoas em situação económica mais precária já eram as mais afectadas financeiramente, com situações que variam entre a perda parcial de rendimento, férias forçadas e o desemprego. O estudo ainda não reflecte o efeito do recurso ao ‘lay-off’ (redução temporária dos períodos normais de trabalho ou suspensão dos contratos de trabalho efectuada por iniciativa das empresas, durante um determinado tempo) por muitas empresas.

Jovens defendem mais restrições

Os inquiridos foram também questionados sobre o estado de emergência e as restrições a ele associadas, com nove em cada 10 participantes do estudo a declararem que o consideram necessário, sendo entre os mais jovens que mais se defende medidas mais restritivas.

“À medida que aumentam a idade, a escolaridade e os rendimentos dos inquiridos, diminui a propensão para a defesa de maiores limitações. Para além disso, quem se posiciona ideologicamente ao centro ou à direita apresenta uma maior probabilidade de afirmar que seriam necessárias mais restrições”, refere o estudo. “Os homens tendem a expressar menos esta posição que as mulheres.”

Entre os que defendem medidas mais restritivas, defende-se o encerramento de fronteiras, para evitar importação de casos, pede-se o fecho de mais empresas e indústrias não essenciais e um menor número de supermercados abertos.

As críticas mais comuns são ao desrespeito pelo confinamento, sobretudo da parte dos mais idosos, e o abuso da liberdade para sair para pequenas tarefas ou passeios curtos.

No final de Março, cerca de um terço dos inquiridos acreditava que as restrições actualmente em vigor iriam durar até ao final do verão. São os mais velhos que dizem acreditar que o actual quadro de medidas terá uma duração longa.

“Pertencer a um grupo de risco não tem qualquer relação com a opinião sobre este tema”, conclui o estudo, no que diz respeito às medidas de restrição.

Mais velhos confiam em fontes oficiais

O inquérito pretendia ainda aferir a confiança dos inquiridos em relação à resposta à pandemia, no que respeita aos seus principais intervenientes, e a confiança nas fontes de informação.

A maioria dos inquiridos revela ter muita confiança em fontes de informação tradicionais, como a televisão e a imprensa escrita. “No entanto, estes níveis de confiança elevados não são uniformes entre todos os grupos de inquiridos: os indivíduos mais jovens e com menores níveis de escolarização tendem a confiar menos na televisão e na imprensa”, clarifica o estudo.

A confiança na resposta do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, da directora-geral da Saúde, Graça Freitas, e da ministra da Saúde, Marta Temido, é maior à medida que aumenta a idade dos respondentes e também o nível de rendimentos. Ter um posicionamento ideológico mais à direita também baixa os níveis de confiança nestes intervenientes, com especial incidência em António Costa, Graça Freitas, e Marta Temido.

A confiança nas forças de segurança e no Serviço Nacional de Saúde é mais generalizada, mas ainda assim visível a menor confiança dos mais jovens e dos que têm mais dificuldades económicas.

Jovens desconfiam de redes sociais

Os inquiridos com menos habilitações literárias e com mais dificuldades financeiras são os que confiam mais nas redes sociais.

“Por outro lado, é entre as camadas mais jovens da população (entre os 25 e os 34 anos) que a fiabilidade da informação proveniente das redes sociais é mais questionada”, acrescenta-se.

Há ainda referência a uma percentagem muito reduzida da amostra de inquiridos que se enquadra entre o grupo dos mais vulneráveis, por fazerem parte dos grupos de risco definidos no âmbito da pandemia e por se encontrarem numa situação económica mais fragilizada, para dar expressão às suas principais preocupações actuais e aos seus receios face ao futuro.

Sem surpresa, as preocupações prendem-se com os rendimentos e as consequências da sua perda, as questões de saúde mental associadas ao isolamento social e a dificuldade de conciliar trabalho e família. Entre os principais receios para o futuro voltam a estar os rendimentos e a saúde.

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