Os problemas do ensino à distância que falta resolver

Sem exames nacionais, apenas com notas internas, já sabemos quem ganhará; com o ensino à distância universal, temos a certeza de quem perderá

A braços com as incertezas sobre o rumo da pandemia, o Ministério da Educação tem sobre os seus ombros a mesma pressão de todas as áreas da governação e mais um terrível desafio a superar: o de promover a igualdade de oportunidades na educação. O ministro Tiago Brandão Rodrigues tinha já provado que não é um ás na gestão da turbulência política, mas, nesta crise, a sua propensão para a cautela, para o exercício da dúvida persistente e a sensibilidade para com os mais frágeis podem ajudar. Perante a densa nuvem de perguntas que alunos, pais, professores ou sindicatos colocam todos os dias, o ministro remete-se ao silêncio prudente ou à declaração anódina. Faz bem. A resposta que tiver de dar precisa de dados, factos e análises que ou não existem ou estão ainda por fazer.

Há, no entanto, problemas imediatos a precisar de resposta urgente: decidir sobre a realização de exames nacionais; e garantir as condições de equidade com que os alunos vão seguir as aulas à distância. Neste caso, não se trata apenas de saber se todos têm Internet ou computador ou smartphone. Fora do contexto escolar, as condições de desigualdade das famílias agravarão os problemas das crianças e jovens mais desfavorecidos. Abandonados à sua sorte perante a solidão de um ecrã, a ideia do ensino à distância será, para eles, uma ficção. Os que têm problemas de concentração e atenção ficarão mais desprotegidos. Sem o poder de superação da escola, as crianças de famílias mais pobres ou disfuncionais ficam ainda mais distantes das outras crianças no acesso às condições de igualdade de oportunidades que é indispensável à construção de um país decente.

Quanto aos exames, a solução é igualmente difícil. Desistir de um recurso que é, na prática, o único indicador que coloca todos os jovens perante o mesmo desafio e nivela a escandalosa inflação das notas do privado, seria um crime. Mas mantê-los na presente situação é igualmente uma forma de favorecer os alunos das famílias mais estáveis e mais empenhadas na educação.

O Ministério da Educação tem pela frente a duríssima tarefa de gerir uma crise que, muito provavelmente, vai cavar mais fundo as fracturas sociais. O Governo e a comunidade escolar não podem descurar estas ameaças. Sem exames nacionais, apenas com notas internas, já sabemos quem ganhará; com o ensino à distância universal, temos a certeza de quem perderá. O problema é grave e a sua solução difícil. É bom que o saibamos. Só assim se poderão inventar meios para que os mais frágeis não fiquem ainda mais para trás.

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