No supermercado, muitos clientes agradecem-nos o esforço

Anabela Ramalho Neves, operadora de caixa. “Os portugueses, aos poucos, começam a adaptar-se a esta nova realidade. Ao mesmo tempo, estão a ter comportamentos mais civilizados, mais respeitosos.”

Nestes dias difíceis que correm, os trabalhadores de supermercado pertencem àquele grupo dos que não podem ficar em casa. Somos nós que asseguramos à população a alimentação, os produtos de higiene e de limpeza.

Eu sou operadora de caixa e tenho experienciado o evoluir da situação desta pandemia, como telespectadora participativa e atenta. 

Inicialmente, houve uma fase de euforia em que as pessoas correram ao supermercado açambarcando tudo o que podiam, em quantidades astronómicas, como se viesse aí a guerra. Nessa fase não havia impedimentos, ou seja, cada um era livre de entrar quando quisesse, havia ajuntamentos, filas, confusão.

Depois chegaram as novas medidas. Felizmente, posso dizer que a minha empresa tomou decisões importantes, assertivas, benéficas, tanto para proteger os colaboradores como para proteger os clientes.

À entrada, passou a ser controlado o número de clientes que entram. Depois, foram colocadas no chão sinaléticas que definem o espaço que os clientes devem manter entre uns e outros, quer na linha de caixas, quer nas secções, como a peixaria, a charcutaria, o talho, etc... Na linha de caixas, somos nós, as operadoras, que, de certa forma, controlamos a nossa fila e os clientes aguardam as nossas instruções para avançar. Posso dizer que os clientes me surpreenderam pela positiva, pois aceitaram bem as medidas. Compreenderam que tudo foi feito para a sua própria segurança e pela nossa — se ficássemos doentes, também eles ficariam em risco. 

Como tudo, há sempre alguém a não entender, principalmente pessoas de uma faixa etária mais alta. Dizem por vezes: “Mas porquê?”, “ah, isto não é nada”, “não tenha medo, que eu não pego nada a ninguém...”

De seguida, foi-nos facultado e permitido usar luvas de látex e desinfetante de álcool em gel/spray.

Posteriormente, colocaram umas barreiras de proteção em acrílico nas caixas. Assim, a operadora, quando fica de frente para o cliente, fica menos exposta. Na minha opinião, esta medida deu-me mais segurança e confiança até.

Por vezes, perguntam-me se não tenho medo. Claro que tenho. Há dias, em que quando saio de casa, parece que vou para uma batalha, onde o inimigo é invisível, e, não o vendo, não sei como me esconder dele, mas depois começo a trabalhar e sinto-me útil. É esse sentimento que me dá alento. Muitos clientes agradecem-nos o esforço, são atenciosos, encorajam-nos.

É estranho quando olho à volta e vejo pessoas com máscaras, luvas, afastadas, a cumprimentarem-se com o cotovelo. Parece tão surreal...

Concluo que ninguém estava à espera de que algo assim pudesse surgir na atual época, mas os portugueses, aos poucos, começam a adaptar-se a esta nova realidade. Ao mesmo tempo, estão a ter comportamentos mais civilizados, mais respeitosos e corretos.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários